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Presidente do Chile classifica Daniel Ortega como ditador

19 fev 2023 - 09h07
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Gabriel Boric faz declaração após Nicarágua retirar cidadania de mais de 90 opositores. Chile é o primeiro governo de esquerda da América Latina a condenar abertamente decisão. Brasil se mantém em silêncio.O presidente do Chile, Gabriel Boric, classificou neste sábado (18/02) seu homólogo da Nicarágua, Daniel Ortega como ditador. A declaração do líder de esquerda chileno foi feita após Manágua apertar o cerco contra opositores do regime nas últimas semanas.

Boric publicou declaração sobre presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no Twitter
Boric publicou declaração sobre presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no Twitter
Foto: DW / Deutsche Welle

Na mais recente violação, o governo de Ortega retirou a nacionalidade de 94 opositores e críticos, incluindo antigos aliados que lutaram na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura de Anastasio Somoza Debayle, na década de 1970, como o escritor Sergio Ramírez, que chegou a ser vice de Ortega na década de 1980.

Entre os nicaraguenses que perderam a cidadania na quarta-feira estão ainda a escritora Gioconda Belli, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, e o ex-comandante da revolução Luis Carrión, ao menos 22 jornalistas e ativistas de direito humanos. Eles foram acusados de "traição à pátria".

Além de perder a nacionalidade, a Corte de Apelações de Manágua determinou o confisco a favor do Estado de todos os bens e empresas dos acusados e proibiu o grupo de exercer cargos públicos e concorrer em eleições.

Tanto Belli quanto Ramírez, assim como a maioria dos citados na lista são opositores de Ortega e vivem no exílio. No entanto, há vários mencionados que ainda estão na Nicarágua. A ação ocorre poucos dias depois de Ortega ter deportado 222 detidos, como líderes políticos, padres, estudantes, ativistas e outros dissidentes, para os Estados Unidos. Considerados presos políticos por organizações humanitárias, os opositores deportados também foram acusados do crime de "traição à pátria".

Críticas de Boric

A recente onda de deportações e retirada de nacionalidade de opositores provocou uma enxurrada de críticas contra o governo de Ortega. Neste sábado, o presidente do Chile prestou solidariedade aos opositores.

"O ditador não sabe que a pátria está no coração, nos atos e não se priva por decreto. Não estão sozinhos!", escreveu Boric em sua conta no Twitter.

O governo chileno já havia expressado o repúdio à decisão de Ortega na quinta-feira e afirmado que o país estava se tornou uma "ditadura autoritária". O Chile foi o primeiro governo de esquerda da América Latina a condenar abertamente as medidas de Ortega.

Além do Chile, a União Europeia e os Estados Unidos também condenaram a decisão. A Espanha ofereceu cidadania aos nicaraguenses que se tornaram apátridos depois da decisão do governo.

Já o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar "muito alarmado" com a situação. O porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, destacou que "a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos têm direito a uma nacionalidade e que ninguém deve ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade".

"O direito à nacionalidade é um direito humano fundamental. Não deve haver perseguição ou represálias contra os defensores dos direitos humanos ou pessoas que expressam opiniões críticas", salientou o porta-voz.

Silêncio do Brasil

Na América Latina, as reações não foram unânimes entre os governos progressistas da região. Apenas o Chile criticou veementemente as decisões da Nicarágua. Colômbia e México tiveram cautela nas declarações.

O governo da Colômbia, chefiado pelo esquerdista Gustavo Petro, expressou na sexta-feira "preocupação" e disse que as medidas violam "o direito à nacionalidade" comtemplado em tratados internacionais reconhecidos pela Nicarágua. O México disse estar "atento" aos acontecimentos.

Já os governos do Brasil e da Argentina ainda não se manifestaram sobre as violações ocorridas na Nicarágua.

Crise na Nicarágua

Desde abril de 2018, a Nicarágua vive uma crise política e social que se agravou após as polêmicas eleições gerais de 7 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão ou no exílio.

Milhares de nicaraguenses foram obrigados a deixar o país após as forças de segurança reprimirem violentamente os protestos antigovernamentais que eclodiram em 2018. Para tentar justificar a repressão, Ortega alega que os protestos foram uma tentativa de golpe, com um suposto apoio externo, visando a queda da presidência e encorajando nações estrangeiras a aplicar sanções aos membros da sua família e do governo.

A perseguição contra críticos do governo continuou nos anos seguintes. No período que antecedeu a eleição de 2021, as autoridades do país detiveram sete potenciais candidatos da oposição. O governo também fechou centenas de ONGs que Ortega acusou de receberem financiamento estrangeiro e de o canalizar para desestabilizar o executivo.

cn (Efe, AFP, DW, Lusa)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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