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Campanha sobre assédio expõe abuso entre 9 e 10 anos

De acordo com levantamento do Think Olga, a hashtag #PrimeiroAssédio foi usada mais de 82 mil vezes até o último domingo

28 out 2015 - 16h11
(atualizado às 19h35)
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Algumas mulheres contaram casos que viveram aos sete, seis ou mesmo cinco anos de idade
Algumas mulheres contaram casos que viveram aos sete, seis ou mesmo cinco anos de idade
Foto: iStock

Um levantamento feito pelos criadores da hashtag #PrimeiroAssédio mostrou que a maioria das vítimas que compartilhou sua história nas redes sociais durante a campanha foi assediada pela primeira vez quando tinha entre 9 e 10 anos de idade.

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A campanha surgiu no Twitter há uma semana e levou milhares de mulheres a contarem sobre a primeira vez em que sofreram assédio sexual.

A hashtag foi lançada por Juliana de Faria, fundadora do coletivo feminista Think Olga e criadora da campanha Chega de Fiu Fiu, depois que uma criança de 12 anos que participa do programa de culinária MasterChef Júnior foi vítima de comentários de teor sexual na internet.

Gráfico do Think Olga a partir da campanha online mostra percentual de menções de primeiros assédios por idade
Gráfico do Think Olga a partir da campanha online mostra percentual de menções de primeiros assédios por idade
Foto: Divulgação/BBC Brasil

De acordo com levantamento do Think Olga, a hashtag foi usada mais de 82 mil vezes até o último domingo (25).

Desses, foram identificados 3.111 tuítes em que as mulheres mencionaram a idade que tinham quando sofreram o assédio. A média de idade foi de 9,7 anos. "A campanha #PrimeiroAssédio veio consolidar (a percepção de) que existe uma sexualização da menina e que isso é absolutamente normalizado na sociedade", diz Juliana. "A gente acha que pedofilia é muito distante, mas não é. Pela hashtag, vemos que é muito mais próxima do que a gente imagina e que talvez seja até endêmica, um traço muito forte do que acontece na sociedade."

Juliana afirma que é preciso buscar outros dados sobre o assunto, mas diz que a conclusão do levantamento é preocupante. "É absurdamente preocupante pensar que não está nas mãos das mulheres decidir quando começar a vida sexual delas. A gente passa por um ritual cruel muito antes de estarmos preparadas", afirma ela, que deu início à campanha contando sua própria experiência, de ter sofrido assédio aos 11 anos de idade.

Casa, pai e escola

O levantamento do Think Olga também fez uma nuvem de palavras para identificar as mais citadas nos tuítes. Entre as palavras que aparecem estão "casa", "pai" e "escola".

Segundo Juliana, é sabido que grande parte dos abusos acontece na infância, são praticados por conhecidos e normalmente em uma casa, da própria vítima ou de alguém em que ela confia. "(Assédios) acontecem numa relação de confiança. A gente acha que machistas criminosos, pedófilos, são pessoas sem rosto, monstros andando na rua de capuz, mas não, são homens integrados na sociedade, com família, emprego, às vezes doutorado. Precisamos parar de tratar esse criminosos como loucos que não estão integrados na sociedade", diz ela.

A ativista afirma que, ao mesmo tempo em que essa proximidade traz desafios, tem um lado bom por indicar que a solução também está mais próxima. "Não estamos tentando lutar contra um monstro desconhecido", diz.

O aparecimento da palavra "escola" na nuvem também chamou atenção da criadora da campanha. "Não tenho dados brasileiros, mas uma pesquisa no Reino Unido mostra que 1 em cada 3 meninas já tinha sofrido assédio físico na escola. É urgente ter educação de gênero na primeira infância."

Foto: Divulgação/BBC Brasil

Valentina

A campanha #PrimeiroAssédio surgiu após a candidata Valentina, do programa MasterChef Júnior, na Band, ter sido alvo de inúmeros comentários na internet - não sobre suas habilidades culinárias, mas de cunho sexual. "Sobre essa Valentina: se tiver consenso, é pedofilia?", dizia um dos tuítes a respeito da garota de 12 anos.

A reação nas redes veio com os relatos de assédios sofridos na infância e na adolescência. Algumas mulheres contaram casos que viveram aos sete, seis ou mesmo cinco anos de idade.

Uma delas disse que, aos sete anos, enquanto brincava com as amigas, percebeu um homem atrás de um poste se masturbando. Outra conta que, aos nove, sofreu uma tentativa de estupro de um dos funcionários que trabalhavam para o pai.

Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que, das 500 mil mulheres que são vítimas de estupro por ano no Brasil, 70% são crianças e adolescentes – sendo 51% menores de 13 anos.

Gráfico do Think Olga com as palavras mencionadas pelas mulheres que deram depoimento à campanha
Gráfico do Think Olga com as palavras mencionadas pelas mulheres que deram depoimento à campanha
Foto: Divulgação/BBC Brasil
Vídeo flagra reação de homens ao encontrarem mulher bêbada:
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