'PT teria sido pior do que Bolsonaro', diz Ricardo Mellão, candidato do Novo ao Senado por SP
Atual deputado estadual apresenta uma agenda conservadora e prega contra o aborto e a descriminalização das drogas
Candidato ao Senado pelo partido Novo, o deputado estadual Ricardo Mellão, 37 anos, líder da sigla na Assembleia Legislativa, apresenta uma agenda conservadora na disputa e prega contra o aborto e a descriminalização das drogas.
Saiba mais
Eleito em 2018 com 27.150 votos, o parlamentar fez nessa entrevista ao Estadão uma avaliação sobre o atual estágio do seu partido, que luta para a superar a cláusula de barreiras, e disse que João Amoêdo, candidato à Presidência há quatro anos, não tentou novamente porque desistiu.
Filho do ex-ministro e ex-deputado João Mellão Neto, que foi ministro do Trabalho do governo Fernando Collor, Ricardo Mellão revelou que votou em Jair Bolsonaro no 2° turno em 2018 e não se arrepende. "O PT teria sido pior que Bolsonaro", afirmou.
O partido Novo faz muita propaganda de que não usa recursos públicos dos fundos eleitoral e partidário. Esse dinheiro vai pra onde no final das contas?
Se a gente devolvesse o Fundo Partidário do Novo ele seria dividido entre os outros partidos, então estaríamos alimentando o sistema que a gente condena. Então (o recurso) é aplicado numa conta e fica rendendo. A ideia é tentar aprovar um projeto que permita fazer a devolução direta para os cofres da União. O Fundo Eleitoral a gente pode devolver para a União.
João Amoedo, que foi presidenciável em 2018 e fundador do Novo, disse ano passado que o partido perdeu a identidade e estava se tornando uma linha auxiliar do bolsonarismo. Como avalia essas críticas?
Tenho muito respeito pelo João. O Novo se tornou uma instituição da nossa democracia. Os outros partidos são meras legendas. Hoje ele é um filiado. João tem voz ativa, mas nesse ponto discordo dele. O Novo não está nem entre os primeiros que mais votaram com Bolsonaro. O partido contra os projetos mais polêmicos. Vejo o Novo como um partido independente.
Por que o Novo abriu mão de lançar o Amoedo para a Presidência da República, que teve uma votação expressiva em 2018, para apostar no Luiz Felipe D`ávila?
O Amoêdo foi convidado para participar do processo seletivo e conseguiu as assinaturas necessárias. Ele seria o candidato, mas desistiu. Teve aquele episódio de tentarem lançar o deputado Tiago Mitraud.
Mas o único governador do Novo, o Romeu Zema, de Minas Gerais, é apoiador do Bolsonaro.
Não vejo dessa forma. O Zema é governador de Minas, que tem uma dívida muito grande com o Governo Federal. Obviamente não é positivo para o mineiro que ele fique estressando essa relação.
O Novo ficou mais flexível para superar a cláusula de barreiras?
A gente ficou mais flexível na estratégia, mas não nos princípios e valores. Os candidatos são submetidos a entrevistas. Hoje quem entra tem que fazer um curso e entregar um trabalho, como se fosse um TCC. Mas o Novo entendeu que infelizmente as pessoas de bem não entram tão naturalmente na política. A gente tem que atrair pessoas boas e encorajar. Temos agora nominatas muito maiores do que no passado. No caso do Zema, ele teve muitos problemas na Assembleia. A aliança feita ali seguiu critérios do Novo. Não dá para fazer política sozinho.
Leia também
Votou em Bolsonaro no 2° turno em 2018?
Sim
Se arrependeu?
Vou ser bem sincero. Não esperava muito dele, até pelo perfil. Nunca achei que Bolsonaro fosse mudar drasticamente o Brasil. Foi um voto muito mais contra o PT do que a esperança de que ali estava o messias que ia salvar o Brasil. Não me arrependo de ter votado em Bolsonaro. Com o PT seria pior.
Ainda acha isso? Votaria em Bolsonaro de novo no 2° turno contra Lula?
Não penso nessa hipótese. Temos que trabalhar até o fim para levar o Felipe D´ávila para o 2° turno.
Acha isso viável mesmo sem tempo de TV, aliados, estrutura e Fundo Eleitoral?
Acho viável. Ele vai ter presença nos debates. Isso vai ser o diferencial.
Bolsonaro representa um risco para a democracia?
As falas dele são inadequadas. Mas eu não vejo risco para a democracia. As Forças Armadas não entrariam nisso. Me parece um blefe.
Dois casos de assédio marcaram a atual legislatura da Assembleia em São Paulo. Em um deles, Arthur do Val, o Mamãe Falei, foi cassado, no outro Fernando Cury segue seu mandato e disputa a reeleição. Como o sr se posicionou nesses dois casos e como avalia a diferença de tratamento?
Acho péssimo o Fernando Cury continuar na Assembleia. Fui um dos que defendi a cassação dele. A deputada Isa Penna (PCdoB) fez até um post no Twitter agradecendo o posicionamento pela cassação. Infelizmente optaram por uma pena de suspensão de seis meses. Os dois são casos para cassação.
Se for eleito senador, o sr vai fazer oposição ao governo se o vencedor for Lula ou Bolsonaro?
Vou manter uma postura independente. Se vier um projeto adequado de privatização, seremos favoráveis. Acho impossível isso vir do Lula. O problema é essa lógica da disputa pelo poder.
Se o sr for eleito, como será sua atuação no Senado no debate sobre o aborto?
Sou contra. Existem várias interpretações sobre quando se dá a origem da vida. Enquanto houver dúvida, pró - vida. A Lei hoje atende.
Descriminalização do uso de drogas, em especial da maconha?
Sou contrário. No caso da maconha, temos que observar a experiência de outros países, que tiveram muitos problemas. O SUS não aguentaria os problemas que isso poderia gerar. A maconha dá problemas respiratórios e neurológicos.
O uso medicinal da cannabis o sr defende?
Sou favorável. Muita gente precisa desse tratamento.