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Quando os remédios não funcionam: eliminação de doenças tropicais negligenciadas pode reduzir resistência antimicrobiana

A resistência aos medicamentos antimicrobianos é um grande desafio para a saúde global, portanto, é fundamental lidar com as doenças tropicais negligenciadas.

11 out 2024 - 07h32
(atualizado em 14/10/2024 às 18h06)
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Um grande desafio de saúde da atualidade é quando os medicamentos não funcionam mais para tratar infecções. Isso acontece quando os agentes causadores das infecções, que podem ser bactérias, vírus ou fungos, tornam-se resistentes aos medicamentos.

Os antimicrobianos são uma ampla gama de medicamentos que atuam em micróbios, como bactérias, fungos, vírus ou parasitas. Os antibióticos, por exemplo, são um tipo de antimicrobiano que atua contra as bactérias.

Portanto, a resistência aos medicamentos antimicrobianos dificulta o tratamento e a prevenção de uma grande variedade de infecções.

A resistência aos antibióticos compromete os programas de saúde pública, como os tratamentos de tuberculose. Ela também pode comprometer outras intervenções médicas em que o tratamento é necessário para evitar infecções, como cirurgias, cesarianas ou tratamento de câncer.

As principais causas da resistência antimicrobiana são o uso indevido e excessivo de antimicrobianos em seres humanos, animais e plantas.

A resistência antimicrobiana leva a mais mortes e doenças na África em comparação com qualquer outro lugar. O continente registrou 21% das mortes globais relacionadas à resistência antimicrobiana em 2019. Naquele ano, mais de 1,05 milhão de mortes na África foram associadas à resistência antimicrobiana. Isso representa uma ameaça excepcional à saúde.

Preocupantemente, prevê-se que as mortes relacionadas à resistência antimicrobiana aumentem globalmente. A tendência já está sendo observada na África. Por exemplo, os dados mais recentes mostram que a proporção de infecções por E. coli resistentes a cefalosporinas (o antibiótico usado para tratá-las) está aumentando.

Para mudar isso, é necessário reduzir o ônus das doenças que exigem tratamento antimicrobiano.

Um grupo de doenças infecciosas predominantes na África são as doenças tropicais negligenciadas (DTNs). Já existem ferramentas eficazes para preveni-las e até mesmo eliminá-las. Porém, todos os anos, milhões de pessoas são infectadas e tratadas com antimicrobianos. Isso aumenta o risco de disseminação da resistência.

Tendo participado do projeto e da implementação de programas de controle de doenças tropicais negligenciadas em larga escala, defendo um esforço para eliminar essas doenças. Isso deve ser feito por meio de abordagens integradas, incluindo medicina preventiva, água e saneamento, e controle dos agentes que disseminam as doenças.

Até mesmo os países onde as doenças tropicais negligenciadas não são comuns devem fazer esse esforço, como parte da segurança sanitária global.

Controle de doenças tropicais negligenciadas

As doenças tropicais negligenciadas são um grupo de 21 diversas condições capazes de causar desafios econômicos e de saúde de longo prazo.

Elas são causadas por uma variedade de agentes patogênicos, incluindo vermes, bactérias, fungos e vírus. Dessas doenças, seis são tratadas com antibióticos: úlcera de buruli, leishmaniose, hanseníase, oncocercose, tracoma e bouba.

Globalmente, milhões de pessoas com doenças tropicais negligenciadas são tratadas com antimicrobianos todos os anos.

Uma das abordagens de saúde pública mais eficazes para o controle de doenças tropicais negligenciadas é a quimioterapia preventiva, que envolve a administração em massa de medicamentos, em que as pessoas são tratadas sem diagnóstico. No entanto, ela não é sustentável, tanto em termos de custo quanto porque aumenta o risco de resistência antimicrobiana.

Entretanto, a quimioterapia preventiva é uma ferramenta necessária e eficaz para reduzir infecções e doenças. Desde 2012, mais de 600 milhões de pessoas foram curadas de infecções por doenças tropicais negligenciadas dessa forma.

Um exemplo disso é o programa de controle da esquistossomose (doença aguda causada por vermes parasitas) do Zimbábue, do qual participei. A quimioterapia preventiva foi administrada a cerca de 5 milhões de crianças todos os anos entre 2012 e 2019. Os níveis de infecção foram reduzidos de 32% para pouco menos de 2% em crianças de 6 a 15 anos.

O último relatório da Organização Mundial da Saúde de 2022 indicou que pouco menos de 1,7 bilhão de pessoas em todo o mundo precisavam de quimioterapia preventiva. Dessas, pouco menos de 600 milhões estão na África.

Outro risco para o aumento da resistência antimicrobiana é que os antibióticos usados para tratar doenças tropicais negligenciadas também são usados para tratar outras infecções. Por exemplo, a azitromicina (para tratar tracoma e bouba) também é usada para tratar outras infecções bacterianas, inclusive bronquite, pneumonia e doenças sexualmente transmissíveis.

Das seis doenças tropicais negligenciadas que são tratadas com antibióticos, cinco já têm resistência documentada aos medicamentos. Essa tendência só tende a aumentar.

Portanto, é fundamental que as doenças tropicais negligenciadas sejam eliminadas para que menos antibióticos e antimicrobianos sejam usados. Isso também protege as pessoas de outras infecções perigosas.

Ferramentas prontas

A boa notícia é que as ferramentas para eliminar as doenças tropicais negligenciadas já existem.

Na última década, 51 países eliminaram pelo menos uma doença tropical negligenciada. O que está por trás desses sucessos é o uso de várias ferramentas, estratégias intersetoriais e esforços contínuos para prevenir e tratar infecções.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Francisca Mutapi recebe financiamento do Aspen Global Innovation Programme, do Scottish Funding Council para a Universidade de Edimburgo, da Academy of Medical Sciences, da British Academy e da Royal Society. Francisca Mutapi é vice-diretora da parceria Tackling Infections to Benefit Africa (TIBA) e vice-presidente do conselho da Uniting to Combat NTDS

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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