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Quem é Queiroz: Amizade com Jair Bolsonaro o levou ao gabinete de Flávio

O suboficial da PM conheceu o presidente na Brigada de Infantaria Pára-Quedista, na Vila Militar, no Rio, onde serviram nos anos 80

18 jun 2020 - 10h45
(atualizado às 12h51)
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RIO - Fabrício José Carlos de Queiroz foi levado para a política pelo amigo e hoje presidente da República Jair Bolsonaro, mas chegou ao noticiário policial por sua proximidade com o filho "Zero Um" da "Primeira Família". Foi no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) na Assembleia Legislativa, onde o parlamentar começou sua carreira em 2003, que o suboficial da PM do Rio supostamente se envolveu em uma prática criminosa: a rachadinha.

O então deputado Flávio Bolsonaro com seu assessor Fabrício Queiroz
O então deputado Flávio Bolsonaro com seu assessor Fabrício Queiroz
Foto: Reprodução / Estadão

Nomeado, por indicação de Jair, para um cargo de confiança na assessoria de Flávio, Queiroz, suspeita o Ministério Público do Rio, recolhia a maior parte dos salários dos colegas para repassá-los ao chefe. Este lavaria a soma desviada em imóveis e em uma franquia da rede Kopenhagen.

Queiroz é um dos muitos PMs e militares que orbitam os mandatos dos Bolsonaros desde os anos 80 do século passado. Conheceu Jair no Exército, na Brigada de Infantaria Pára-Quedista, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, onde serviram, nos anos 80. Depois, separam-se por alguns anos. Jair virou vereador, deputado federal e, mais tarde, ícone e influenciador da ultra-direita brasileira. Queiroz foi para a PM , onde chegou a suboficial. Voltaram a se juntar quando o amigo Jair o indicou para assessorar o filho inexperiente na Alerj. Oficialmente, Queiroz, que foi para a reserva em 2018, era motorista do parlamentar, mas, na prática, era um faz-tudo da familia.

O esquema da suposta rachadinha começou a ser desnudado em 2018, por causa das operações Cadeia Velha e Furna da Onça, da Polícia Federal, sobre corrupção na Alerj. Flávio não foi investigado nessas ações, mas a Cadeia gerou um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontava movimentações suspeitas de parlamentares e servidores. Um deles era Queiroz. Como esses crimes eram de âmbito estadual, as investigações foram encaminhadas ao MP do Rio, ainda em 2018. A existência do relatório e da investigação foi revelada com exclusividade pelo Estadão.

A Furna aconteceu em novembro, entre os dois turnos das eleições. Antes de sua deflagração, Queiroz e sua filha, Nathalia Mello de Queiroz, foram exonerados - ela da assessoria de Jair na Câmara dos Deputados, em Brasília. As demissões geraram suspeita de vazamento da operação. Um dos apoiadores da candidatura do hoje presidente, o empresário Paulo Marinho, afirmou em 2020 que Flávio lhe disse ter recebido de um delegado federal, com antecipação, a informação de que a Furna da Onça aconteceria e que Queiroz era investigado. O objetivo das exonerações seria evitar abalos na campanha de Jair Bolsonaro, que disputava o segundo turno com Fernando Haddad (PT). PF e MPF investigam se a informação vazou. Flávio diz que Marinho, por seu ser suplente no Senado, quer a sua cassação e mente.

Os Bolsonaros tinham razões para se preocupar com Queiroz. O relatório do Coaf mostrava que, em 13 meses, o modesto assessor, dono de imóveis no subúrbio, movimentara mais de 1,2 milhão em sua conta. Nela, seus colegas de gabinete depositavam a maior parte do que ganhavam, todo mês, geralmente em datas próximas do pagamento na Alerj. O Coaf também detectou que da conta saíram pelo menos R$ 24 mil, transferidos para Michele Bolsonaro, hoje primeira-dama, mas na época assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente alegou que o dinheiro era pagamento de um dívida que Queiroz tinha com ele, feito na conta de Michele.

O ex-assessor prestou depoimento por escrito ao MP, depois de faltar a várias convocações. Atribuía a conta bancária gorda a comércio de veículos e, depois, ao recolhimento dos salários para redistribuí-los a uma suposta rede maior de empregados. A ação, que visaria a aumentar a capilaridade do mandato de Flávio, pagado cabos eleitorais em comunidades, ocorreria sem o conhecimento do então deputado estadual. Nunca provou nada disso.

Ainda na PM, o PM conheceu outro personagem da trama. Era o miliciano Adriano da Nóbrega, com quem respondia a processo pela morte de um homem na Cidade de Deus, em 2003, em suposto auto de resistência. O "Capitão Adriano" foi expulso da PM em 2014. Procurado no Rio por supostamente chefiar a milícia Escritório do Crime, foi morto em fevereiro de 2020 por PMs em Esplanada, na Bahia. Entre os muitos ex-assessores investigados por suposto envolvimento na rachadinha, estão a mãe e a ex-mulher de Adriano, respectivamente Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça. Foram contratadas por indicação de Queiroz, segundo ele admitiu. Tanto o ex-assessor como o senador sempre negaram irregularidades.

Desde que surgiu na cena política, Queiroz é visto como uma espécie de homem-bomba do bolsonarismo. "O MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente, e não vi ninguém agir", afirmou, em outubro de 2019, em conversa gravada e vazada, antecipando a tempestade que se armava. Há muito, "Cadê o Queiroz?" virou bordão da oposição. Em vídeo recente, dirigido ao ex-aliado, governador Wilson Witzel (PSC), Flávio, que chegou a dizer que o caso era responsabilidade exclusiva do ex-assessor, elogiou-o: "Você ficava ligando para o Queiroz para correr atrás de mim na campanha. Sabia que o Queiroz estava do meu lado. Um cara correto, trabalhador, dando sangue por aquilo que acredita", afirmou, sinalizando proximidade do ex-faz-tudo.

Flávio, Queiroz e outros ex-assessores estão de fato próximos. São acusados em investigação de peculato (desvio de dinheiro público por servidor), lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Estadão
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