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Quem nunca foi professor pode ser diretor de um colégio?

11 jul 2024 - 08h56
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Profissionais que nunca trabalharam em uma escola podem assumir a direção de um colégio? A experiência prévia na vida escolar não é trivial e não pode ser subestimada.Há alguns meses, uma colega do mestrado compartilhou uma situação profissional que traz luz para uma questão que merece atenção. Ela é professora de formação e assumiu a direção da escola onde trabalha, mas, segundo ela, não foi oferecida uma preparação adequada para o cargo. Dessa maneira, sem buscar ela própria uma capacitação por fora, provavelmente não faria um bom trabalho na gestão do colégio.

"Quem aqui trabalha ou trabalhou em escola sabe que é uma organização muito ímpar"
"Quem aqui trabalha ou trabalhou em escola sabe que é uma organização muito ímpar"
Foto: DW / Deutsche Welle

Pouco tempo depois, entrei num debate com outro colega de turma. Segundo ele, os cargos de gestão não precisam ser assumidos por ex-professores ou por profissionais com qualquer tipo de atuação prévia em escolas. Eu, por outro lado, acredito que é necessário que o cargo de gestão dos colégios seja assumido por ex-professores.

Abordo essa discussão nesta coluna e encorajo que o debate se estenda de forma saudável. Tentarei, ao máximo, não trazer tanto viés, mas quero lembrá-los que estamos aqui em uma coluna, ou seja, um texto de opinião, que, naturalmente, sempre será enviesado.

Meu colega defende a tese de que deveria haver uma escola nacional para a formação de gestores escolares ou, caso isso não seja possível, que graduados em administração possam assumir os cargos de direção escolar. Em ambos os cenários, o cargo poderia ser assumido por qualquer um com a formação necessária, mesmo que nunca tenha pisado em um colégio numa posição diferente da de um estudante.

Formação nacional para diretores?

Bom, a ideia de uma escola de formação para diretores não é ruim, mas, enquanto política pública, precisamos pensar aqui no federalismo brasileiro e em sua relação com a estrutura educacional do país a nível institucional.

O país tem 27 unidades federativas e 5.568 municípios. Portanto, são 27 secretarias estaduais, centenas de regionais e, além disso, milhares de secretarias municipais. Garantir uma formação uniforme e com qualidade é um desafio. É impossível de ser executado? Não, mas requer muito investimento e em todos os níveis, não somente o financeiro.

Paralelo a isso, e o que mais me incomoda na ideia, é permitir com que pessoas sem qualquer tipo de experiência prévia na educação possam estudar nessas escolas de formação. Isso é um grande problema.

Formados em administração?

É fato que temos excelentes cursos de administração no país. Não tenho qualquer tipo de receio sobre a qualidade da formação dos discentes. Alinhado a isso, acredito sim que é necessário que os gestores escolares tenham não apenas um know-how sólido em administração como também uma robusta capacitação para a função.

No entanto, não podemos subestimar a diferença entre administrar uma empresa e administrar uma escola. As diferenças não são sutis e muito menos irrelevantes.

Afinal, quem deve ser diretor escolar?

Como dito acima, há particularidades na gestão de um colégio que não podem ser subestimadas. Justamente por isso, defendo, com unhas e dentes, a tese de que a direção de escolas deve ser assumida por ex-professores ou, pelo menos, por profissionais com anos de atuação dentro de algum colégio.

Quem aqui trabalha ou trabalhou em escola sabe que é uma organização muito ímpar. Apesar dos pontos em comum entre colégios, há uma expressiva heterogeneidade. Na gestão, há demandas de professores, da coordenação, dos alunos, dos pais e da própria comunidade onde a escola está inserida. Entender essas idiossincráticas é fundamental para a realização de um bom trabalho, e essa bagagem não vem de livro ou de uma formação regular em gestão de empresas.

Se alguém contra-argumentar minha tese dizendo que não há a quantidade necessária de professores qualificados, eu pedirei gentilmente que visite algumas escolas e conheça o corpo docente. Na rede pública brasileira, há professores que são não somente grandes guerreiros, resistem a um sistema que não os valoriza e fazem um excelente trabalho, como também seguem se capacitando. Eu já tive a oportunidade de conhecer centenas desses e fico sempre muito admirado. Encantado com o nível de qualificação e resistência, com o grau de compromisso e com o amor, tão latente quanto no início, pela educação.

Tentando entender a tese do meu colega, eu acredito que é necessário que a gestão das escolas seja assumida por profissionais qualificados. Infelizmente, há sim muitos que assumem o cargo sem a qualificação necessária e que recebem pouco ou nenhum suporte concreto para tal responsabilidade. Além disso, sendo honesto, ainda há professores não transparentes e justos.

Portanto, primeiramente, é necessário que os professores que assumem gestões escolares sejam justos, transparentes e imparciais. O que não falta são bons profissionais em nossa rede de ensino. No entanto, tornar o processo mais eficiente não é o bastante.

Aqui retorno a ideia da escola de formação para gestores. É primordial que todo professor que assuma o cargo de gestão tenha acesso a uma formação continuada, bem estruturada, séria e com a qualidade que merece. Esse, a nível nacional, é para mim o melhor cenário: contar com profissionais que já conhecem a vida de um colégio e oferecer para eles toda a capacitação necessária para o cargo administrativo de gestão.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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