"Queremos inspirar outras meninas", dizem Martine Grael e Kahena Kunze após ouro
Jovem dupla conquista medalha de ouro na vela para o Brasil numa edição dos Jogos Olímpicos marcada pelo protagonismo de mulheres brasileiras. As agora bicampeãs olímpicas esperam deixar um legado na vela feminina.As brasileiras Martine Grael e Kahena Kunze conquistaram a medalha de ouro na classe 49er FX da vela nos Jogos Olímpicos de Tóquio nesta terça-feira (03/08). É o segundo título olímpico da dupla, que já havia subido ao topo do pódio no Rio de Janeiro em 2016.
A medalha de prata após a disputa realizada na Baía de Enoshima ficou com as alemãs Tina Lutz e Susann Beucke, e a de bronze, com as holandesas Annemiek Bekkering e Anette Duetz.
Martine e Kahena iniciaram na segunda posição geral a disputa da medal race, a última regata da competição, que oferece pontuação dobrada e dura 20 minutos, dez a menos que as 12 provas anteriores. O barco da Holanda acumulava 70 pontos perdidos, assim como o do Brasil, mas levava vantagem nos critérios de desempate. As alemãs vinham logo atrás, com 73 pontos perdidos.
As brasileiras fecharam a prova em terceiro e garantiram o bicampeonato, escrevendo mais um capítulo em sua bela história olímpica. Na classificação geral, elas terminaram com 76 pontos perdidos, contra 83 das alemãs e 88 das holandesas.
"Vela feminina como legado"
Esta é a 19ª medalha olímpica do Brasil na vela e a nona da família Grael. Martine, de 20 anos, é filha de Torben Grael, que conquistou cinco medalhas olímpicas, e o tio, Lars Grael, levou outras duas.
Kahena, de 20 anos, também vem de uma família com tradição na vela: seu pai, Claudio Kunze, foi campeão mundial júnior na classe Pinguim nos anos 1970.
"Ainda não caiu a ficha. Está difícil de acreditar. Foi uma semana muito difícil de velejar", disse Martine após a conquista do ouro. Ela também destacou o impacto da pandemia sobre a dupla: "Foi um ciclo de um ano a mais, foram cinco anos que a gente passou entre tristezas e alegrias."
Kahena definiu o campeonato como "de recuperação". "No primeiro dia, aconteceram coisas e parecia que o ouro estava longe."
Ela também disse esperar inspirar outras meninas a velejar. "A gente tem meninas que já com a nossa última medalha abriram o horizonte, e é isso o que a gente quer. A gente quer inspirar e trazer a vela feminina como um legado."
As jovens entraram para um seletíssimo rol de velejadores brasileiros com dois ouros em Jogos Olímpicos e se tornaram as primeiras, entre homens e mulheres, a conseguir o feito em edições consecutivas - Torben Grael e Marcelo Ferreira, na classe Star, e Robert Scheidt, na Laser, foram campeões em 1996 e 2004.
Sem levar em conta modalidades coletivas, antes de Martine e Kahena, apenas o atleta brasileiro Adhemar Ferreira da Silva havia conseguido o feito de conquistar dois ouros em edições consecutivas dos Jogos Olímpicos, vencendo no salto triplo em 1952, em Helsinque, e em 1956, em Melbourne.
Terceiro ouro e protagonismo feminino
A medalha na vela é a terceira de ouro do Brasil em Tóquio, após as conquistas históricas da ginasta Rebeca Andrade e do surfista Ítalo Ferreira. No total, o Brasil acumula 13 medalhas nos Jogos.
Até agora, brasileiras, que são minoria na delegação do país, chegaram seis vezes ao pódio: foram dois ouros (da dupla Martine Grael e Kahena Kunze e da ginasta Rebeca Andrade no salto), duas pratas (da skatista Rayssa Leal, de apenas 13 anos, e de Rebeca Andrade no individual geral), e dois bronzes (de Mayra Aguiar, no judô, e da dupla de tenistas Laura Pigossi e Luisa Stefani).
Também nesta terça-feira, Alisson dos Santos, paulista de apenas 21 anos, levou o bronze nos 400 metros com barreiras. Há mais de 30 anos o Brasil não subia ao pódio em uma prova individual de pista do atletismo olímpico. E o também paulista Abner Teixeira ficou com a medalha de bronze no boxe.
lf/ek (Efe, Reuters, Agência Brasil, ots)