Religiões do mundo todo reunidas em cidade alemã
Lindau abre as portas para Assembleia Mundial das Religiões pela Paz. Encontro inter-religioso reunirá mais de 900 representantes de diferentes países e crenças para debater formas de tornar mundo mais tolerante e unido.A escultura é bastante evidente. Um anel de madeira de sete metros e meio de altura, entrelaçado várias vezes, sem começo nem fim. O chamado Ring for Peace (Anel pela Paz) ficará alguns dias exposto no Luitpoldpark em Lindau, pequena cidade alemã banhada pelo Lago de Constança.
"Ele representa a ideia, a visão e a missão do encontro Religions for Peace (Religiões pela Paz)", afirma o alemão Ulrich Schneider, diretor da Fundação para os Diálogos de Paz entre Religiões e Sociedades Civis Mundiais.
A entidade organiza a 10ª Assembleia Mundial das Religiões pela Paz, que ocorre entre esta terça (20/08) e sexta-feira em Lindau e terá suas portas abertas pelo presidente da Alemanha, Frank-Walter Steimeier.
A Religions for Peace é uma rede global de religiões e comunidades. Segundo Schneider, todas as religiões do mundo estão, de alguma forma, envolvidas nessa aliança criada em 1970.
Há quem compare as reuniões, que ocorrem a cada cinco anos, com a Assembleia Geral da ONU. Desta vez, a grande aliança cívica ocorrerá em uma pequena cidade, bem longe dos grandes centros políticos, acessados mais facilmente.
Lindau, porém, se encontra no coração da Europa. A cidade alemã recebe há muitos anos o encontro internacional de vencedores do Prêmio Nobel, oferencendo atmosfera para reflexões intensas e interações entre diferentes culturas.
Expectativas religiosas e políticas
O economista Wolfgang Schürer, presidente da Fundação para os Diálogos de Paz entre Religiões e Sociedades Civis Mundiais, é o motor por trás do encontro religioso. "Esperamos que a assembleia mundial dê um impulso com efeito duradouro e que não seja apenas mais uma das inúmeras cúpulas que existem no mundo hoje", afirma ele à DW.
Essas também são as expectativas e esperanças do mundo político, bem como do Ministério do Exterior alemão, que apoia com milhões de euros o evento em Lindau.
Por muitos anos tem havido regiões no mundo onde as instituições políticas são incapacitadas, e apenas forças da sociedade civil - geralmente religiosas - assumem o papel de ajudar aqueles que precisam. Assim ocorre em vilarejos na República Centro-Africana, em partes do Iraque e em campos de refugiados em vários países.
"Comunidades religiosas são as maiores instituições da sociedade civil no mundo", afirma Andreas Görgen, diretor do Departamento de Cultura e Comunicação do Ministério do Exterior alemão. "Muito além de todas as questões de fé, estamos preocupados com sua responsabilidade para com essas sociedades."
Desde 2018, Görgen tem sob seus auspícios a unidade de religião e política externa do ministério. Em Lindau, ele e seus colegas receberão diplomatas de diversos países europeus, que estarão no evento como observadores. Isso porque em todo o mundo, seja na Europa, na Ásia ou nos Estados Unidos, políticos observam cada vez mais o papel das religiões.
O mundo político enxerga o potencial das comunidades religiosas, mas também quer que elas assumam a tarefa de promover a paz. Em parte, esse será um tema quente em Lindau. A portas fechadas, representantes da Coreia do Sul e da Coreia do Norte, de Myanmar e de Bangladesh, do Sudão e do Sudão do Sul conversarão uns com os outros.
Pessoas de coragem
É possível entender a dimensão disso ao observar alguns dos nomes mais proeminentes entre os participantes da cúpula. Um deles é José Ramos Horta, importante político de sua terra natal, o Timor Leste, e vencedor do Nobel da Paz.
Outra convidada é a iraquiana Layla Alkahafaji, muçulmana que ficou presa por dez anos durante a ditadura de Saddam Hussein antes de fugir para o Canadá, onde se tornou uma das vozes mais fortes no combate à violência contra mulheres no Iraque.
Também irá a Lindau o cardeal nigeriano John Onaiyekan, que prega em seu país a coexistência entre as religiões, em meio ao terror perpetrado pela organização fundamentalista islâmica Boko Haram.
Ao todo, serão mais de 900 representantes de diferentes religiões, vindos de 100 países. Segundo Ulrich Schneider, o objetivo inicial era de que um terço dos participantes fosse do sexo feminino, o que não foi atingido pelos organizadores.
Schneider enfatizou a importância das religiões no mundo todo ao afirmar que 80% da população mundial se descreve como religiosa. "Isso é certamente diferente do que ocorre aqui na Alemanha e demonstra a importância das religiões nos dias de hoje", observa.
A diversidade de países e religiões vai transformar a pequena Lindau. Os convidados terão a oportunidade de participar de serviços religiosos de crenças diferentes. Na quarta-feira, as igrejas católica e protestante da cidade convidarão representantes religiosos e a população local para comerem juntos em uma grande mesa.
Os alemães esperam que Lindau possa estimular encontros e conversas. O evento deverá resultar não apenas em uma declaração final conjunta, mas também em decisões bastante concretas.
Planeja-se a criação de uma iniciativa global pela proteção de locais religiosos, além de um comprometimento conjunto na área acadêmica, visando aumentar a conscientização sobre a violência contra mulheres em conflitos armados.
"Nossa esperança é de que Lindau se torne um local permanente de diálogos inter-religiosos e de impulsos para a paz", diz Schneider. Assim, quem sabe os representantes religiosos possam voltar ao Lago de Constança daqui a cinco anos.
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