Renato Kalil nega violência obstétrica contra Shantal Verdelho em depoimento à polícia
Médico é investigado por suspeita de violência obstétrica em parto de influenciadora; inquérito indica violência contra outras pacientes
O ginecologista e obstetra Renato Kalil negou, em depoimento à Polícia Civil, que tenha cometido violência obstétrica durante o parto da influenciadora Shantal Verdelho. De acordo com a GloboNews, que teve acesso ao interrogatório do médico, ele admitiu o uso de "palavras inadequadas", mas alegou que as usou apenas no que chamou de "momento de incentivo motivacional", pois o parto era difícil.
Em nota ao Terra, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) afirmou que acompanhou o interrogatório e agora aguarda a conclusão do inquérito policial. A defesa de Shantal, representada pelo advogado Sergei Cobra Arbex, também foi procurada, mas, até a última atualização dessa reportagem, não deu retorno.
A influenciadora, que é casada com o modelo Mateus Verdelho, denunciou o médico por violência obstétrica em dezembro. O caso teve destaque no Fantástico, da Rede Globo. Na época, havia vazado nas redes sociais um áudio no qual Shantal o acusa o médico de usar palavrões sobre ela durante o parto e de expor sua intimidade para o pai da criança e outras pessoas na sala.
Após o caso vir à tona, ex-pacientes e algumas ex-funcionárias de Kalil surgiram com denúncias de má conduta profissional, assédio moral e assédio sexual. Um dos mais bem-sucedidos ginecologistas de São Paulo, Renato Kalil se afastou do consultório e dos hospitais e buscou refúgio em uma casa de praia no sul da Bahia.
Em depoimento ao delegado Eduardo Luis Ferreira, o obstetra afirmou que a influenciadora tinha a dilatação adequada para o parto normal e que o bebê estava encaixado, com o "polo cefálico na posição transversa", quando está atravessada no útero. Kalil negou que tenha idicado a episiotomia, corte cirúrgico no períneo, já na fase de expulsão do bebê, para liberar o canal vaginal.
"(...) muito embora tenha conversado antes do parto várias vezes sobre esse assunto com Shantal, pois esse procedimento pode eventualmente ser necessário para evitar a ocorrência de graves lacerações na região vaginal da mulher", disse o médico.
Durante o parto, Shantal recusou a episiotomia e houve lacerações de grau 2, que foram suturadas logo em seguida, segundo o depoimento. No áudio vazado, Shantal conta que o médico chamou seu marido, Mateus Verdelho, e falou: "Olha aqui, toda arrebentada. Vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela".
Para Shantal, o médico falava de um jeito como quem diz "Olha aí, onde você faz sexo, tá tudo fod***". "Ele não tinha que fazer isso. Ele nem sabe se eu tenho tamanha intimidade com meu marido", lamentou a influencer.
Ao ser questionado pela polícia se chamou o marido dela para mostrar as lesões e se lembrava as palavras usadas, o médico confirmou que o chamou, e que as palavras que disse foram apenas para mostrar a ele onde teriam ocorrido as lacerações. Depois, o pai da bebê foi chamado novamente para "mostrar que tudo estava ok" após a sutura.
Xingamentos
Ainda no áudio vazado, Shantal afirma que o médico a xingou durante o trabalho de parto, e falava para ela fazer força. "'Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe, por**'... depois que revi tudo, foi horrível", acusou a influenciadora.
Sobre o fato, o obstetra diz em depoimento que não viu os vídeos gravados, mas que, quando se refere a ela como "viadinha", estava conversando com ele mesmo. "Em momento algum teve a intenção de constranger a paciente", disse Kalil, segundo a reportagem da GloboNews.
Ainda segundo a emissora, Kalil também negou que tenha pedido ao anestesista e à médica auxiliar para realizar a manobra de Kristeller - quando é realizada pressão externa sobre o útero da mulher, com o objetivo de diminuir o período expulsivo -, contraindicada pelo Ministério da Saúde.
Inquérito
De acordo com a GloboNews, a Polícia solicitou a perícia do vídeo gravado durante o parto na câmera de Verdelho e um exame para constatar a presença de lesão corporal contra a paciente, causada por prática ilegal no procedimento.
Funcionárias da equipe de Kalil e ex-pacientes também foram ouvidas no inquérito policial. Conforme a reportagem, os depoimentos indicaram a prática de violência obstétrica durante consultas e partos realizados por ele.
Após a conclusão do inquérito, a Polícia Civil pode relatar o caso por lesão corporal e violência psicológica, já que violência obstétrica não é tipificada como infração penal.