Repressão a protesto na Bolívia deixa oito mortos
Cocaleros pró-Evo Morales participavam de marcha que tentava chegar a Cochabamba. Outras 125 pessoas ficaram feridas. ONU denuncia uso "desproporcional da força pela polícia e pelo Exército" no país.Pelo menos oito pessoas morreram nesta sexta-feira (15/11) em Sacaba, perto de Cochabamba, durante um conflito entre manifestantes e agentes da polícia boliviana que contaram com apoio das Forças Armadas. Outras 125 ficaram feridas e 110 foram presas.
O representante da Defensoria do Povo da Bolívia em Cochabamba, Nelson Cox, disse que todos os mortos eram plantadores de coca que apoiavam o presidente deposto Evo Morales. Segundo ele, todos tinham perfurações de bala.
Cox ainda denunciou que as forças conjuntas de policiais e militares realizaram uma operação "desproporcional" diante da manifestação. "Tenho insistido todos os dias para que evitem mobilizações, não só não violentas, mas para evitar mobilizações. Desde domingo, assistimos a uma escalada das intervenções das forças conjuntas, da polícia e das Forças Armadas, que tiveram intervenções desproporcionais", disse.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), por sua vez, condenou em um comunicado o "uso desproporcional da força policial e militar". A CIDH informou ainda que "as armas de fogo devem estar excluídas dos dispositivos utilizados pelo controle dos protestos sociais".
Já a polícia alegou que os agentes "foram atacados com armamento letal e armas de fogo improvisadas" entre as cidades de Cochabamba e Sacaba, e que uma viatura "recebeu impactos de armas de fogo". Um agente das forças conjuntas disse a canais de televisão que os manifestantes estavam utilizando "dinamite e armamento letal".
"Presumimos que na segunda fila eles dispararam e feriram seus próprios companheiros", disse o oficial.
Os embates começaram quando um grande número de cocaleros tentava entrar na cidade por um dos acessos onde as forças da ordem instalaram controles. Os manifestantes pareciam ter como destino final La Paz.
Neste sábado, a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, também denunciou "o uso inútil e desproporcional da força pela polícia e pelo Exército" na Bolívia.
O uso excessivo de força "é extremamente perigoso" e pode levar a uma degradação da situação, acrescentou Bachelet em comunicado.
Ela destacou que 14 pessoas já morreram nos seis dias seguintes à queda do ex-presidente Evo Morales.
Após as mortes terem sido divulgadas, o ex-presidente Evo Morales, que recebeu refúgio no México, condenou a repressão a grupos cocaleros e pediu para que as Forças Armadas e a polícia "parem o massacre".
"Condeno e denuncio ao mundo que o regime golpista que tomou o poder por assalto em minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da polícia o povo que pede pacificação e a reposição do estado de direito", escreveu no Twitter.
"Agora, assassinam nossos irmãos em Sacaba, Cochabamba", denunciou Morales, que está no México, após renunciar à presidência da Bolívia e aceitar o asilo oferecido pelo governo do país.
O ex-presidente ainda classificou como "ditadura" o governo da presidente interina Jeanine Áñez, citando também os opositores Carlos Mesa e Luis Fernando Camacho.
"Para justificar o golpe, Mesa e Camacho nos acusaram de 'ditadura'. Agora sua 'presidenta' autoproclamada e seu gabinete de advogados defensores de violadores e repressores, massacra o povo com as Forças Armadas e a polícia como a verdadeira ditadura", comentou.
Os protestos a favor de Evo Morales começaram depois de o agora ex-presidente ter anunciado sua renúncia no domingo passado.
Jeanine Añez, segunda vice-presidente do Senado e senadora da oposição a Morales, se declarou nesta terça-feira presidente interina no país. O Tribunal Constitucional aprovou a troca de poder.
Añez, de 52 anos, tem que organizar novas eleições num prazo de 90 dias. Na quarta-feira, ela apresentou seu gabinete de ministros, cuja maioria é formada por políticos de Santa Cruz, tradicional reduto eleitoral da oposição.
Morales renunciou à presidência após a OEA denunciar supostas irregularidades no pleito em que o então presidente foi reeleito para o quarto mandato consecutivo. No último domingo, as Forças Armadas exigiram sua renúncia. Ele deixou o país e recebeu refúgio no México.
JPS/efe/lusa/ots
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