Caminhoneiros criaram dor de cabeça até para próximo governo
Movimento emparedou Temer, derrubou presidente da Petrobras e instaurou caos econômico em todo o País
Mesmo tendo acabado sete meses antes da posse do próximo presidente da República, Jair Bolsonaro, a greve dos caminhoneiros deixou para o novo governo uma despesa extra difícil de ser cortada.
Após emparedar Michel Temer nos dias de paralisação, causando carestia de produtos básicos nas cidades, interrupção de serviços e uma corrida aos postos de combustível, a categoria arrancou do Executivo Federal um subsídio bilionário para o óleo diesel, combustível usado pelos caminhões.
Caberá a Bolsonaro e Paulo Guedes, seu super-ministro da economia, decidir se assumem o risco de haver novo movimento e incluem essa despesa em seu projeto de arrocho nos gastos ou se mantêm a ajuda. A mobilização expôs a dependência do Brasil por caminhões e mostrou a força dos caminhoneiros.
Ainda que tenha causado caos econômico e afetado diretamente a vida da população, o movimento teve apoio popular. O então presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão. Também houve uma amostra da disseminação de informações de qualidade duvidosa que viria na campanha eleitoral.
Por esses motivos, o Terra escolheu a greve dos caminhoneiros como um dos acontecimentos mais relevantes de 2018 e decidiu abrir com ela a retrospectiva do ano.
O movimento explodiu em 21 de maio com uma pauta de ataques à política da Petrobras de reajustes diários nos preços de combustíveis. A prática era parte importante do plano de Pedro Parente de reforçar o caixa da empresa, que vivia dificuldades financeiras.
No primeiro momento, a greve contava com apoio de empresas de transporte. Devido a essa adesão, houve acusações de que se tratava de um locaute – uma “greve de patrões”, vedada por lei.
Com lideranças difusas, o movimento teve as reivindicações expandidas enquanto as negociações com o governo avançavam. Após Temer ceder em praticamente todos os pontos, parte dos manifestantes deixou a greve. Os petroleiros tentaram pegar carona no movimento, mas tiveram pouco sucesso.
Em 30 de maio, o presidente assinou as medidas provisórias que baixavam o preço do combustível em R$ 0,46 cada litro: R$ 0,16 em corte de impostos e R$ 0,30 em subsídio. Muitos dos grevistas, porém, não reconheciam legitimidade naqueles que negociaram com o governo. Os piquetes continuaram.
A greve teve uma data para início, mas não foi possível cravar quando acabou. O movimento foi minguando no começo de junho até que tudo voltasse ao normal.
Após a canetada de Michel Temer, Parente pediu demissão, deixando o comando da Petrobras. As ações da petrolífera se desvalorizaram, e o mundo político também reagiu. Assumiu Ivan Monteiro.
Além dos desdobramentos na economia e em Brasília, a greve desencadeou dois fenômenos políticos.
A curiosidade dos internautas por uma “intervenção militar” aumentou. Grupos saudosos da Ditadura conseguiram impulsionar a pauta.
E o intenso uso de grupos de Whatsapp – fundamentais para mobilizar a greve e disseminar suas reivindicações, em parte com mentiras –, o tempo provaria meses depois, seria quase uma prévia da campanha eleitoral. A disputa foi marcada por denúncias de uso irregular dessa rede social.
Ainda não há certeza sobre o que o governo Bolsonaro fará com os incentivos ao Diesel. O presidente eleito chegou a dizer que poderá manter a ação.
Nas últimas semanas do ano, decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Fux voltou a deixar os caminhoneiros desagradados. O juiz suspendeu a tabela do preço mínimo do frete, criada pelo governo federal após reivindicação na greve de maio. Há mobilização da categoria, mas não se sabe se terá força.