A entidade estima que precisará de US$ 738 milhões (R$ 2,9 bilhões) para dar assistência em uma crise que, em 2019, afetará 3,6 milhões de pessoas. Entretanto, nem todos migram para países da América Latina: os ricos buscam status de refugiado na Europa. Em muitos casos, empresários são colocados em albergues e disputam espaço com imigrantes sírios e líbios.
Grande parte dos venezuelanos, entretanto, entrou no Brasil através da fronteira com Roraima. A crise fez com que o governo Temer decretasse intervenção federal no Estado. Antes disso, a ex-governadora de Roraima, Suely Campos (PP), havia ido a Caracas e fechou um acordo para ajudar o presidente Nicolás Maduro na repatriação de refugiados. Porém, muitos que aderiram ao programa disseram que usarão a viagem de volta para rever a família e depois voltar ao Brasil.
Roraima - Cerca de 40 mil imigrantes vivem atualmente em Boa Vista, capital de Roraima. Em um ano, chegada de venezuelanos aumentou em 10% a população da cidade, de 332 mil habitantes.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Travessia - Cerca de 700 imigrantes fazem fila diariamente na fronteira da Venezuela com o Brasil, próximo ao município de Pacaraima, em Roraima
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Caminho - Após atravessarem a fronteira, muitos venezuelanos caminham por dias pela estrada até a chegada em Boa Vista.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Carona - Na foto, a família de Francisco da Encarnación tenta conseguir uma carona pela BR-174 até Boa Vista
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Abrigo - Os cinco abrigos de Boa Vista estão superlotados. Na foto, o abrigo do bairro Pintolândia, no qual imigrantes vivem dentro de um ginásio e em tendas no entorno.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Descanso - Nos abrigos, imigrantes dormem em colchões dispostos no chão ou em redes improvisadas
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Rotina - Na foto, imigrantes penduram roupas em ginásio transformado em abrigo pela Defesa Civil de Roraima
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Em praças - Com os abrigos lotados, imigrantes montaram barracas improvisadas nas praças, mas não contaram com a ajuda do poder público. Na Praça Simon Bolívar, por exemplo, tapumes foram intalados ao redor da praça para separar os venezuelanos das pessoas que passam nas avenidas vizinhas. O local não tem banheiros e tampouco fornece água aos refugiados.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Falta de estrutura - Comércio no entorno de praça cobra R$ 3 para venezuelanos utilizarem banheiros. Sem alternativa, muitos procuram matagais próximos para urinar e defecar.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Superlotação - Dentre os abrigos, a pior situação é a do localizado no bairro Pintolândia, que acolhe apenas venezuelanos indígenas. O local tem capacidade para 370 pessoas, mas recebe atualmente 715 indígenas. Muitos chegam da Venezuela doentes. Na última semana, oito crianças moradoras do abrigo estavam internadas em Boa Vista com quadros de desnutrição ou problemas respiratórios.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Refeições - Na foto, venezuelanos esperam na fila para receber comida no GinásioTranquedo Neves, transformado em abrigo pela Defesa Civil em Boa Vista
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Refeições com sobras - Com a chegada de mais refugiados à cidade e a falta de vagas em abrigos, os que vivem em praças começaram a buscar alternativas para comer. Inicialmente, ONGs e igrejas entregavam refeições nos espaços, mas, com o aumento do fluxo migratório, a oferta não tem sido suficiente para todos. Pelo menos três restaurantes da cidade passaram, então, a fazer marmitas com as sobras do almoço para distribuir aos estrangeiros.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Fechamento de fronteira - A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), se encontrou na quinta-feira com a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), relatora da ação em que o Estado pede o fechamento temporário da fronteira. Na foto, imigrantes acampados em praça.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Higiene - Venezuelanos acampados em praça de Boa Vista andam mais de dois quilômetros até o Rio Branco para tomar banho ou lavar roupas.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Comércio improvisado - Ruas do entorno do abrigo Tancredo Neves viraram uma espécie de feira ao ar livre de venezuelanos, com venda de alimentos e cigarros e prestação de serviços.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Trabalho - O trabalho autônomo foi a opção encontrada por imigrantes que não conseguem emprego na capital de Roraima. Alguns vendem os poucos itens que trouxeram da Venezuela, como cigarro, farinha e biscoitos. Outros reproduzem o ofício que tinham no país de origem.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Precarização - Outra mudança no mercado de trabalho de Boa Vista trazida pela imigração foi a redução no valor das diárias pagas a profissionais autônomos. Com muita mão de obra barata disponível, empregadores estão oferecendo condições precárias de trabalho, com valores de R$ 10 para um dia de trabalho em fazenda ou de R$ 20 a R$ 30 para a diária de um pedreiro – quando a média para esse tipo de serviço entre brasileiros é de cerca de R$ 100.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Nas ruas - Venezuelanos trabalham nos faróis lavando os retrovisores de carros para ganhar trocados em Boa Vista
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Prostituição - Moradores contam que a presença de garotas de programa nas calçadas se intensificou com o aumento da imigração venezuelana na cidade. Antes, dizem eles, duas ou três casas noturnas do bairro reuniam garotas de programa brasileiras, mas elas trabalhavam apenas dentro dos estabelecimentos. Hoje, dezenas se concentram no bairro Caimbé, principalmente na Rua Leôncio Barbosa, que passou a ser chamada pelos moradores da cidade de Rua Ochenta (oitenta, em espanhol), em referência ao valor médio cobrado por uma hora de programa com as venezuelanas. Há, porém, aquelas que, por desespero, cobram de R$ 30 a R$ 50.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Violência - Com o aumento da população, Boa Vista viu o número de ocorrências criminais dobrar. Mas apenas 0,5% dos crimes foi cometido por venezuelanos, segundo a Polícia Civil. Entre 2015 e 2017, o número de boletins registrados na capital de Roraima passou de 7.929 para 15.266, dos quais 63 tiveram os imigrantes como autores. Os crimes mais comuns foram lesão corporal, furto e roubo. Na foto, Damiana Marques, que foi esfaqueada por um venezuelano durante assalto em seu estabelecimento.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão
Compartilhar
Publicidade
O governo brasileiro havia aprovado uma Medida Provisória para ajudar os refugiados, com ações de assistência emergencial para os imigrantes que se refugiam no Brasil em razão de crises humanitárias em seus países de origem. Após as eleições, o presidente eleito Jair Bolsonaro sugeriu, disse durante cerimônia militar no Rio de Janeiro, a criação de campos de refugiados, "talvez, para atender aos venezuelanos que fogem da ditadura de seu país".
'Bota fogo!': o ataque de brasileiros a imigrantes venezuelanos em Pacaraima:
Além disso, agências da ONU e entidades internacionais lamentaram e criticaram a decisão do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, de se distanciar do Pacto Global de Migração. "É sempre lamentável quando um Estado se dissocia de um processo multilateral, em especial um (país) tão respeitável de especificidades nacionais", declarou Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional de Migrações (OIM).
Em 2018 uma caravana de migrantes da América Central se dirigiu aos Estados Unidos e as reações do presidente Donald Trump foram duras. Ele definiu a caravana como uma "invasão" e sugeriu que seja criada uma "barreira de pessoas" na fronteira sul do país para impedir que a caravana de imigrantes da América Latina avance. Na Ásia, os 150 mil refugiados rohingyas enfretaram problemas e a ONU classificou o êxodo em massa para Bangladesh como 'limpeza étnica".
Como os venezuelanos enfrentam a fome em meio a colapso econômico: