A derrota final dos talibãs chegou exatamente dois meses após as forças anglo-americanas lançaram as primeiras bombas sobre o Afeganistão. No dia 7 de dezembro, a milícia fundamentalista que governou o país durante cinco anos entregou o controle de Kandahar, o berço do movimento e a última cidade sob seu controle. Dois meses antes, no dia 7 de outubro, quando o mundo aguardava o ataque desde meados de setembro, as forças da coalizão encabeçada pelos EUA dispararam cerca de uma centena de mísseis e bombas tele-guiadas contra 31 alvos militares situados em torno das maiores cidades afegãs. Os projéteis alcançaram aeroportos, defesas antiaéreas, radares, o Ministério de Defesa talibã em Cabul e as bases da organização terrorista Al-Qaeda próximas à cidade de Jalalabad, no leste do país.
Pouco depois o dissidente saudita e chefe da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, ameaçou lançar novos atentados contra os Estados Unidos, em um vídeo retransmitido pelo canal de televisão Al Jazira. A partir daí, a violência dos bombardeios só aumentou. Até mesmo a residência do líder supremo dos talibãs, o mulá Mohamed Omar, em Kandahar, foi bombardeada sob o argumento de que
seria um centro de controle da milícia, mesmo que lá vivessem mulheres e crianças. Duas semanas depois, com o mulá Omar e Bin Laden desaparecidos, o regime de Cabul, por meio de seu único embaixador, Abdul Salam Zaif, reiterava a postura desafiante dos talibãs. Ao mesmo tempo, a coalizão internacional continuou enviando forças a países do Oriente Médio e Ásia Central para preparar uma intervenção terrestre no Afeganistão, com o fim de coordenar a ofensiva das tropas da Aliança do Norte contra os talibãs.
Com o inesperado ódio ocidental contra o Talibã, a Aliança do Norte, uma desorganizada coalizão de grupos político-militares, se viu repentinamente fortificada e capaz de reconquistar territórios de seus rivais. Na terceira semana de outubro os bombardeios norte-americanos permitiram que a Aliança avançasse com extrema lentidão até a cidade de Mazar-i-Sharif, que caiu em suas mãos praticamente sem resistência. A queda de Mazar-i-Sharif foi o prelúdio do desmoronamento das linhas de defesa dos talibãs. A partir daí, as tropas da Aliança do Norte tomaram quase todo o norte e oeste do Afeganistão. No noroeste, depois de uma batalha de doze horas, a Aliança do Norte capturou a província de Takhar, e na região central do Afeganistão a de Bamiyan, colocando suas tropas às portas de Cabul.
Estados Unidos, Reino Unido e Paquistão pediram à Aliança que se abstivesse de entrar na capital, mas na noite de 12 de novembro cerca de 8 mil talibãs abandonaram a cidade. Os comandantes da Aliança do Norte se sentiram no direito de quebrar a promessa e entraram triunfantes em Cabul, deparando-se apenas com a insignificante resistência de grupos isolados de mercenários árabes e paquistaneses. Depois disto, apenas duas cidades ainda resistiam: Kunduz e Kandahar. A primeira capitulou no dia 24 de novembro e a segunda, como já se disse, baixou as armas pouco mais de duas semanas depois.
Sem o Talibã os afegãos querem agora reorganizar o país destruído por mais de 20 anos de guerra. Um encontro em Bon, na Alemanha, que reuniu chefes tribais, buscou formar um governo de consenso entre todas as etnias. O governo provisório deverá funcionar por seis meses, até a que a “Loya Jirga”, a reunião dos chefes tribais, escolha qual o caminho a seguir.
EFE
Leia mais:
» Especial: tudo sobre a crise dos atentados
» Imagens: animações e mais de 40 galerias
» Dicionário: o vocabulário da guerra no Afeganistão Volta
|