Rússia cogita resgatar cosmonautas no espaço após vazamento
Problema no sistema de refrigeração da cápsula Soyuz força agência espacial russa a buscar outro meio de trazer tripulantes da Estação Espacial Internacional de volta à Terra.A agência espacial russa informou nesta sexta-feira (23/12) que considera realizar um "resgate" para trazer de volta três dos sete membros da tripulação da cápsula Soyuz MS-22. O plano seria colocado em prática por meio do envio de uma nave espacial vazia para a Estação Espacial Internacional (ISS), depois que foi constatado um vazamento do líquido de refrigeração quando o veículo estava atracado em órbita.
Em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, a Nasa e a Roscosmos - estatal russa responsável pelas atividades espaciais do país - disseram que seguem investigando o que causou a perfuração no cabo de refrigeração do radiador externo da cápsula na semana passada - momento em que dois cosmonautas se preparavam para um passeio espacial de rotina.
Até agora, no entanto, nenhuma decisão foi tomada sobre qual a melhor forma de trazer os tripulantes de volta à Terra. Uma possibilidade é enviar outra Soyuz para buscá-los. Outra, menos provável, é mandá-los para a órbita terrestre na cápsula defeituosa, sem parte da refrigeração.
Caso a MS-22 seja considerada inapta para executar o retorno de todos os tripulantes, a ISS teria apenas um "bote salva-vidas" capaz de transportar quatro pessoas. Três, nesse caso, teriam de ser resgatadas de outra forma.
Serguei Krikalev, chefe dos programas espaciais tripulados da Rússia, disse na semana passada que o vazamento poderia ter sido causado por uma chuva de meteoroides - pequenos fragmentos de rochas espaciais.
Mas ele e seus colegas da Nasa deixaram em aberto essa possibilidade, mencionando que outros possíveis culpados do incidente podem ter sido tanto uma falha em um hardware quanto um impacto provindo de pedaços de detritos espaciais.
O problema, que ocorreu no dia 14 de dezembro, fez com que os controladores da missão em Moscou cancelassem o passeio espacial, uma vez que uma transmissão ao vivo da Nasa exibiu o que parecia ser uma enxurrada de partículas semelhantes a flocos de neve lançados a partir da retaguarda da Soyuz.
O vazamento durou horas e esvaziou o radiador utilizado para regular as temperaturas dentro da espaçonave, onde fica a tripulação. Apesar disso, a Nasa informou que nenhum membro da missão esteve em perigo.
O incidente, porém, alterou a rotina da Rússia na ISS, forçando a suspensão de todos os futuros passeios espaciais promovidos pela Roscosmos, e levando os funcionários em Moscou a focar no vazamento e na possibilidade de novos desdobramentos.
Temperaturas em níveis aceitáveis
Esta não é a primeira vez que um problema semelhante ocorre em uma Soyuz. Em 2018, foi registrado um vazamento de ar, e a Roscosmos alegou possível sabotagem. Houve perda de pressão, mas nada que colocasse a vida da tripulação em risco. Na ocasião, astronautas utilizaram uma fita para tapar o buraco.
Desta vez, a Nasa já reforçou que as temperaturas dentro da cápsula permanecem "dentro de limites aceitáveis" e que testes em propulsores não apontaram problemas.
Krikalev, porém, acrescentou que a temperatura poderia aumentar se o acesso da cápsula para a estação estivesse fechada.
Retorno previsto para março
Os cosmonautas Sergey Prokopyev e Dimitri Petelin - designados para o passeio espacial que foi abortado - voaram para a ISS em setembro a bordo da cápsula Soyuz MS-22, juntamente com o astronauta americano Frank Rubio.
Além deles, há outros quatro membros dentro da cápsula: os também americanos Josh Cassada e Nicole Mann, o japonês Koichi Wakata e a russa Anna Kikina. Eles viajaram em outubro para a ISS, a bordo de um SpaceX Crew Dragon contratado pela Nasa.
Originalmente, todos deveriam retornar à Terra na mesma espaçonave, em março de 2023, o que, devido ao incidente, pode ocorrer antes do previsto.
A ISS é um laboratório científico do tamanho de um campo de futebol e fica a cerca de 400 quilômetros acima da superfície da Terra. Há duas décadas, é gerenciada por uma parceria entre Estados Unidos e Rússia, além de Canadá, Japão e outros 11 países europeus.
gb (Reuters, ots)