Saída de Gaza pelo Egito volta a ser fechada
Passagem de Rafah voltou a ser fechada após ataque israelense a ambulâncias no norte de Gaza e em meio a troca de acusações sobre quebra de acordo para evacuação de civis.Após passar quase três dias aberta nesta semana para a saída de pessoas com passaporte estrangeiro da Faixa de Gaza, a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, voltou a ser fechada na noite deste sábado (04/11) logo após forças israelenses bombardearem um comboio de ambulâncias próximo à Cidade de Gaza, no norte do enclave palestino, sob a justificativa de que um dos veículos transportaria integrantes do grupo radical islâmico Hamas.
O fechamento da fronteira egípcia interrompeu um acordo mediado pelo Catar que permitiu, pela primeira vez desde a eclosão da guerra entre Israel e Hamas em 7 de outubro, a evacuação de 1.102 pessoas do território, entre feridos em estado grave e detentores de passaporte estrangeiro, segundo contagem da Sociedade do Crescente Vermelho egípcia (braço da Cruz Vermelha).
A informação sobre o fechamento da passagem de Rafah - a única saída de Gaza que não é controlada por Israel - foi confirmada a agências de notícias por fontes egípcias de segurança e de saúde, bem como profissionais da saúde atuando no lado palestino.
À Reuters, autoridades egípcias, catari e americanas afirmaram trabalhar num acordo para retomar a evacuação de civis - o grupo de assistidos pelo Itamaraty, um total de 34 entre cidadãos brasileiros e parentes, estão entre aqueles ainda presos no enclave.
Troca de acusações e exigências atravancam evacuação
O fechamento da passagem é atribuído a diferentes motivos.
Um deles é que o Hamas - considerado uma organização terrorista por Estados Unidos e países da União Europeia - estaria condicionando a saída de pessoas com passaporte estrangeiro à autorização de saída de palestinos gravemente feridos para tratamento em hospitais no Egito.
Fontes do governo americano, porém, alegam que a evacuação por Rafah emperrou porque o Hamas incluiu combatentes feridos na lista de evacuados - algo a que Egito, Israel e países aliados se opõem ferrenhamente.
À Reuters, um funcionário do governo egípcio afirmou que a fronteira estaria aberta do lado egípcio, mas que as evacuações haviam sido suspensas por causa dos bombardeios em Gaza. Outra fonte americana afirmou à agência que o Hamas estaria fazendo novas exigências, sem detalhá-las.
"O bombardeio de hospitais e ambulâncias, que são parte desse acordo para que comboios de ambulâncias retirem pacientes dali, certamente não ajuda", afirmou um porta-voz do governo catari.
Hamas aposta no prolongamento do conflito às custas de civis para forçar cessar-fogo
O conflito atual em Gaza foi deflagrado em 7 de outubro, quando integrantes do Hamas invadiram Israel, massacrando cerca de 1.400 pessoas, a maioria civis, e sequestrando outros mais de 240. Desde então, o enclave está sob bombardeio intenso, e a população civil sofre enquanto o Hamas - acusado de usar inocentes como escudo humano ao passo que se mantém entrincheirado debaixo de uma extensa rede de túneis - continua a lançar foguetes na direção de Israel, que também enfrentou ataques vindos da Síria e do Líbano.
O Hamas aposta no prolongamento do conflito às custas da população civil como estratégia para forçar Israel a aceitar um cessar-fogo - endossado por parte da comunidade internacional - e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos, segundo fontes da organização citadas pela Reuters.
No lado palestino, o saldo de vítimas já passa de 9 mil, sendo 4 mil crianças, segundo dados do Ministério da Saúde em Gaza - esses números não podem ser verificados de forma independente.
Israel quer deslocar civis para o Egito, diz NYT
Citando diplomatas internacionais, o jornal americano New York Times afirmou em reportagem publicada neste domingo (05/11) que Israel tenta conquistar apoio internacional para a ideia de deslocar centenas de milhares de civis palestinos de Gaza para o Egito enquanto durar a guerra.
Apresentada como uma iniciativa humanitária para poupar civis do conflito, a ideia tem tido pouca aceitação entre interlocutores de Israel, que temem um deslocamento permanente. Palestinos também rejeitam a ideia e temem que a guerra seja um pretexto para removê-los de Gaza em uma segunda 'Nakba'.
Um documento interno da inteligência israelense datado de 13 de outubro e vazado à imprensa recomendava a evacuação de civis de Gaza para o Sinai, no Egito. O governo israelense reagiu afirmando que o documento tinha caráter "preliminar".
Gaza já esteve sob domínio israelense entre 1967 e 2005. Quando o governo israelense se retirou, repassou a administração do território à Autoridade Palestina, que em 2007 foi expulsa dali pelo Hamas. Desde então, o enclave está sob bloqueio de Israel e Egito.
ra (Reuters, ots)