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Saída de Moro ocorre após fala de Bolsonaro sobre "estrelas"

Declaração do presidente havia sido dada meio à crise com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta

24 abr 2020 - 13h07
(atualizado às 13h19)
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BRASÍLIA - O pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, nesta sexta-feira, 24, ocorreu 14 dias após o presidente Jair Bolsonaro avisar que usaria a caneta contra pessoas que "viraram estrelas" em seu governo. A declaração no dia 5 de abril foi dada em meio à crise com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, demitido há uma semana, mas foi entendida como um recado para os mais populares da Esplanada. Para interlocutores do governo, o presidente já indica que próximo alvo é o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O anúncio nesta semana do programa Pró-Brasil para recuperação econômica pós-covid-19 foi feito pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, sem a participação de nenhum integrante da equipe de Guedes, evidenciou que também está em curso um desgaste do ministro da Economia. De acordo com interlocutores do governo, Bolsonaro indica em conversas reservadas que não aceitará mais ser confrontado por seus subordinados na Esplanada.

Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Justiça, Sergio Moro, em cerimônia no Palácio do Planalto
18/12/2019 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Justiça, Sergio Moro, em cerimônia no Palácio do Planalto 18/12/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Algumas pessoas no meu governo, algo subiu a cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Mas a hora deles não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem. Nada pessoal meu. A gente vai vencer essa", declarou o presidente no último dia 5.

Para políticos com trânsito no governo, Bolsonaro sempre se incomodou com o protagonismo e autonomia de seus ministros. Após a demissão de Mandetta, ele avaliou que as críticas não o abalaram e ganhou força para investir contra outras "estrelas" da Esplanada. Apesar de ser alertado que Moro tem uma legião de adoradores pelo seu trabalho na Lava Jato, o presidente manteve a decisão de confrontar o ex-juiz para ter mais influência no comando da Polícia Federal e ignorou até mesmo o apelo de aliados.

Na entrevista em que anunciou a sua saída do governo, Moro disse que soube da exoneração do chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo, pelo Diário Oficial da União (DOU). O ex-juiz da Lava Jato disse ainda que tentou sugerir um substituto para o cargo, mas não obteve resposta. Ao justificar sua demissão, Moro acusou o presidente de tentar interferir politicamente no comando da PF.

Apesar das informações de que Moro deixaria o governo no caso da demissão de Valeixo, Bolsonaro resolveu concretizar a exoneração para evidenciar que ele é do "dono da caneta". O presidente ficou contrariado com o vazamento para a imprensa de que ele havia sido "emparedado" pelo ministro, o mais popular do seu governo.

No entanto, até a manhã desta sexta-feira o presidente e seus auxiliares acreditavam que o ministro não tomaria uma decisão abrupta. Em uma tentativa de evitar um desgaste para Bolsonaro, o Planalto criou uma narrativa de que Valeixo foi exonerado "a pedido", o que também foi desmentido por Moro.

Bolsonaro, ao deixar o Palácio do Alvorada nesta manhã, disse a repórteres que "erraram tudo" no dia anterior. Em seguida, o presidente usou as redes sociais para falar indiretamente sobre a exoneração de Valeixo. Bolsonaro citou a Lei 13.047, de 2014, que reorganiza a carreira de policiais federais. O chefe do Executivo destacou o artigo da legislação que estabelece que o cargo de diretor-geral da instituição é nomeado pelo presidente da República. A publicação acompanhava foto do decreto de exoneração de Valeixo com o trecho "EXONERAR, a pedido" destacado em amarelo.

Estadão
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