Scholz critica comentários "erráticos" de Musk e apoio à AfD
Suporte de Elon Musk ao partido alemão de ultradireita deixou os principais líderes do país preocupados com influência indevida antes da eleição antecipada de fevereiro.O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), criticou em uma entrevista publicada neste sábado (04/01) os comentários recentes feitos pelo empresário Elon Musk sobre ele e o presidente alemão, bem como seu apoio ao partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Homem mais rico do mundo, dono da Tesla, da SpaceX e da rede social X, Musk foi também o maior doador da campanha de Donald Trump e se posiciona para ter grande influência sobre o governo do novo presidente americano, que toma posse em 20 de janeiro.
Em dezembro, Musk chamou Scholz de "tolo incompetente", disse que o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, era um "tirano antidemocrático", e publicou um artigo de opinião no jornal alemão Welt am Sonntag afirmando que a AfD seria a "última centelha de esperança" para a Alemanha, que realiza eleições antecipadas em 23 de fevereiro.
Indagado, Scholz disse à revista que, "tudo está ocorrendo de acordo com os desejos de nossos cidadãos, e não com os comentários erráticos de um bilionário americano", e que era importante "manter a calma" antes das eleições.
"O presidente alemão não é um tirano antidemocrático e a Alemanha é uma democracia forte e estável - não importa o que o sr. Musk diga", afirmou Scholz.
Apoio à AfD preocupa
O chanceler federal alemão considera que o apoio público de Musk à AfD era "muito mais problemático do que esses insultos".
A AfD, que está em segundo lugar nas pesquisas atrás dos conservadores da União Democrática Cristã (CDU), "defende laços mais estreitos com a Rússia de Putin e quer enfraquecer os laços transatlânticos", disse Scholz.
O partido de ultradireita confirmou nesta semana que a sua líder, Alice Weidel, deve participar de uma conversa ao vivo com Musk transmitida pelo X na próxima quinta-feira.
Questionado se ele também gostaria de debater com Musk, Scholz disse: "Não acho que seja necessário procurar os favores do sr. Musk. Deixarei isso para os outros".
Interesses comerciais
O chanceler federal lembrou que já havia se encontrado com Musk uma vez, em março de 2022, na inauguração da fábrica da Tesla no estado alemão de Brandemburgo "em um momento em que o diretório local da AfD estava protestando contra isso".
Naquele ano, Musk fez um pedido pessoal a Scholz em uma ligação telefônica sobre os planos do governo federal alemão de subsidiar estações de recarga elétrica em todo o país. A Tesla opera seu próprio sistema de estações de recarga na Alemanha.
"Não é segredo que a Tesla era contra o financiamento do governo para estações de recarga elétrica na Alemanha", disse o chanceler, sugerindo que os comentários de Musk também decorrem dos interesses de seus negócios.
Habeck fala em "ataque frontal à democracia"
O vice-chanceler federal alemão, Robert Habeck, do Partido Verde, usou palavras mais incisivas para Musk.
"Tire as mãos de nossa democracia, Sr. Musk!", disse à revista alemã Der Spiegel quando perguntado se Musk era uma ameaça para a Alemanha. Ele também criticou o apoio declarado de Musk à AfD.
Habeck disse que o bilionário está fazendo tudo o que pode para promover seus próprios interesses. "A combinação de imensa riqueza, controle sobre informações e redes, o uso de inteligência artificial e a vontade de ignorar regras é um ataque frontal à nossa democracia", afirmou na entrevista, publicada na sexta-feira.
Ele ainda descreveu o recente artigo de Musk endossando a AfD como "horrível" e alertou que suas tentativas de influenciar a política alemã não devem ser subestimadas.
"O homem mais rico do mundo, dono de uma das plataformas de comunicação mais poderosas, apoia abertamente um partido que é parcialmente de extrema direita. Não devemos cometer o erro de ignorar isso", disse.
Bilionário e a política europeia
A Alemanha não é o único alvo de Musk na Europa, onde muitos governos já estão lutando contra a ascensão da ultradireita.
Nesta semana, o bilionário também pediu a destituição do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e solicitou a libertação do agitador extremista britânico Tommy Robinson.
Em dezembro, Musk conversou com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, um ultranacionalista crítico da União Europeia (UE) e próximo do presidente russo, Vladimir Putin, chamou a UE de antidemocrática e classificou como ditadores os juízes que anularam a eleição presidencial da Romênia em meio a suspeitas de interferência russa.
Musk também é um apoiador entusiasmado da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, a líder mais direitista do país desde 1945.
bl (AFP, dpa)