Semana de Paris aposta em silhuetas esguias e modelos com mais de 50 anos
Vestidos volumosos são gradualmente substituídos por formas geométricas e acabamentos puristas
Duas vezes por ano, fashionistas do mundo todo se reúnem na Cidade Luz vestindo seus melhores looks para assistir aos desfiles de alta-costura organizados pelas marcas de moda mais prestigiadas e tradicionais do mercado. Graças à internet, a Haute Couture de Paris tornou-se também acessível aos amantes de moda que não podem estar de forma física.
É importante lembrar que esta semana tem um caráter especial, já que as criações que cruzarão a passarela do evento serão reproduzidas somente sob medida para alguns clientes, sem produção em escala e com as melhores técnicas, materiais e acabamentos.
Para participar da semana e poder chamar oficialmente sua grife de alta-costura, as marcas devem seguir uma lista estrita de normas do órgão regulador desta arte, que vão desde o número de artesãos trabalhando nos ateliês à quantidade de peças para dia e para noite apresentadas a cada coleção.
Toda a aura de sonho e tradição que envolve a Haute Couture tem um motivo, mesmo que as roupas desfiladas sejam vendidas a valores altíssimos e acessíveis apenas a uma pequena parcela da população. As criações apresentadas trazem um caráter experimental e plantam sementes que eventualmente se transformarão em tendências globais, traduzidas pela produção em escala.
Com total liberdade criativa, os diretores das marcas apresentam verdadeiras preciosidades, muitas dignas de um conto de fadas. Mas, neste janeiro, as apresentações chegaram com um sabor diferente.
DIOR. Esqueça as saias volumosas com milhares de camadas de tules. Nesta temporada, o tom da nova couture traz silhuetas esguias, acabamentos puristas e geometria. Foi exatamente isso que mostrou aDior, uma das mais esperadas da semana, que, sob a batuta de Maria Grazia Chiuri, apresentou uma coleção que partiu do conceito de conexão humana.
Na coleção, as silhuetas saltam aos olhos, todas construídas de forma imaculada, em tecidos que fazem uma delicada dança ao andar. Tudo muito leve, sem exageros e que abraçam mulheres de todas as idades.
Na Schiaparelli, uma das marcas mais tradicionais e experimentais do calendário, a história é similar. O americano Daniel Roseberry, que comanda a grife, não deixou de lado o surrealismo que faz parte do DNA da Maison, mas esqueceu completamente as cores vibrantes e os grandes volumes construídos com enormes quantidades de tecido. As silhuetas são próximas ao corpo e a combinação de preto e dourado fala alto na passarela.
Os volumes teatrais e elementos fantásticos ficam por conta dos acessórios. Chapéus, luvas, brincos e adornos metálicos, que criam uma combinação fantástica em contraponto às roupas.
Outras duas grandes marcas italianas também trazem um olhar mais humano e real para o sonho da alta-costura. Valentino de Pierpaolo Piccioli se destacou ao trazer uma seleção diversa de modelos, com diferentes corpos, cores e idades. Mulheres com mais de 50 - que representam grande parte da clientela deste serviço - marcaram presença na passarela, e o impacto reverberou pelas mídias sociais. Mais um gol para o diretor criativo que sai da bolha para olhar o mundo real.
A Fendi reforçou a tendência das silhuetas esguias e apresentou uma série de vestidos-coluna, com formas simplistas em toda a sua complexidade. Na Couture, mesmo o que parece fácil na verdade envolve dias de trabalho árduo e expertise. Uma nova alta-costura para um novo mundo.