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'Semana do inferno': como é prova de resistência de força especial nos EUA

Um aspirante às forças especiais da Marinha dos EUA morreu recentemente, logo depois de passar por prova exaustiva.

9 fev 2022 - 11h20
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Durante cinco dias e meio, aspirantes a integrar força de elite da Marinha dos EUA passam por exercícios de resistência e força
Durante cinco dias e meio, aspirantes a integrar força de elite da Marinha dos EUA passam por exercícios de resistência e força
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Na Marinha dos EUA, há um treinamento conhecido como "semana do inferno".

Durante cinco dias e meio, aqueles que querem integrar as forças especiais SEAL têm que passar pelas provas de resistência mais extenuantes que existem nos manuais militares dos Estados Unidos.

As autoridades consideram que esse desafio é o que realmente define se uma pessoa pode ou não ser um SEAL - grupo de militares dedicado às tarefas de maior periculosidade das Forças Armadas, como a operação de captura de Osama bin Laden em 2011.

A "semana do inferno" é tão intensa que só um a cada quatro aspirantes completa o desafio, e ela já foi vinculada a ao menos duas mortes.

Recentemente a imprensa americana divulgou o caso de Kyle Mullen, um aspirante de 24 anos que morreu no dia 4 de fevereiro após ser internado num hospital da Califórnia. O jovem havia "completado com êxito" o treinamento da "semana do inferno", informou a Marinha num comunicado.

"Até o momento, a causa de sua morte é desconhecida e está sendo investigada", assegurou a instituição, que informou que um outro aspirante estava hospitalizado.

Nenhum dos dois estava ativamente treinando quando "reportou os sintomas", disse a Marinha.

Menos de 25%, ou um em cada quatro candidatos, consegue completar os desafios
Menos de 25%, ou um em cada quatro candidatos, consegue completar os desafios
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Outros dois aspirantes a SEAL morreram em 2016. Um deles por afogamento, o que inicialmente gerou uma acusação de homicídio contra um instrutor. O outro cometeu suicídio logo depois de desistir de um treinamento em que teve que passar mais de 50 horas sem dormir.

Como é essa "semana de inferno", caracterizada por levar seus participantes ao limite?

'Eliminar os fracos'

Tecnicamente, a semana do inferno é o que se conhece como BUD/S ou Treinamento Básico de Demolição Submarina SEAL, o qual é definido pela Marinha dos EUA como o "programa mais duro e exigente que existe".

"O seu objetivo é eliminar os fracos e não comprometidos", diz a Marinha dos EUA, ao explicar que não se trata de um treinamento, mas sim uma prova de resistência.

Menos de 25%, ou um em cada quatro candidatos, consegue completar os desafios.

Um dos exercícios consiste em ficar na água gelada do mar da Califórnia, no inverno, por várias horas
Um dos exercícios consiste em ficar na água gelada do mar da Califórnia, no inverno, por várias horas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Nos cinco dias e meio de duração da "semana do inferno", os candidatos têm 20 horas de provas físicas por jornada e só quatro de sono. Os desafios são realizados nas praias da Califórnia, onde o frio no inverno dificulta a resistência.

"Começa como uma exploração. Há munições simuladas, disparos e explosões para começar a semana com certa intensidade", diz a Marinha num vídeo em que dá uma amostra de como é esse treinamento.

Os candidatos a SEAL têm que realizar exercícios regulares, como correr cerca de 320 km, nadar e remar por vários quilômetros e fazer centenas de flexões e abdominais. Tudo num ambiente extenuante de uma praia fria.

Mas há outros desafios com dificuldade maior e que requerem trabalho em equipe.

Em uma prova chamada "log PT", os candidatos a SEAL devem carregar um tronco de quase 70 kg durante um período prolongado. E isso molhados, com areia causando fricção na pele e queimando as feridas já abertas pelo corpo.

Outro exercício, o "boat PT", consiste em carregar uma lancha inflável pesada com a cabeça, em meio a vários competidores.

Algumas atividades que parecem menos demandantes são mais complicadas, como permanecer várias horas imóvel na beira do mar, recebendo no corpo o golpe constante das fortes ondas da Califórnia.

"Os participantes fazem vários testes que requerem que pensem, liderem, tomem decisões acertadas e operem quando estão extremamente privados de sono, perto da hipotermia ou quase alucinando", diz a Marinha sobre esse exercício.

Os aspirantes são constantemente incitados pelos instrutores a abandonar a "semana do inferno"
Os aspirantes são constantemente incitados pelos instrutores a abandonar a "semana do inferno"
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A semana de inferno normalmente é realizada em janeiro ou fevereiro, quando o clima é mais frio nas praias de San Diego, na Califórnia.

Por que não se trata só de uma prova física?

A Marinha destaca que um equívoco comum de quem se prepara para a "semana do inferno" é tentar recriar antecipadamente os desafios, incluindo a privação de sono e a exposição ao frio.

A chave é o preparo em outro sentido, sobretudo o mental. "Numerosas analogias esportivas ilustram esse ponto. Um corredor de maratona não sai correndo maratonas todos os dias para se 'acostumar' a elas", explica a Marinha dos EUA.

"Os atletas inteligentes focam em se condicionar e se manter saudáveis para assegurar que seus corpos tenham força e resistência para aguentar o exercício quando necessário."

Passar pela "semana do inferno" não é o fim do processo de seleção
Passar pela "semana do inferno" não é o fim do processo de seleção
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Durante todo o processo, os instrutores semeiam dúvidas entre os aspirantes a SEAL. Eles os incentivam a desistir, para que apenas os mais resistentes cheguem às próximas fases de seleção.

"A semana de inferno reconhece os candidatos que têm o compromisso e a dedicação exigidos de um SEAL. É o teste final da vontade de um homem e do trabalho em equipe", destacam no programa.

Passar pela "semana do inferno" não é o fim do processo de seleção. Os aspirantes devem completar ainda as fases dois e três, assim como uma prova de classificação para se converter a um membro da elite da marinha dos EUA.

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