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Shingo, o povoado do Japão ao qual peregrinam milhares de pessoas levadas pela lenda de que ali está enterrado Jesus

Nesta remota cidade japonesa, Cristo é chamado de Daitehu Taro Jurai; no lugar de sua suposta sepultura, está um montinho de terra e uma enorme cruz de madeira.

20 abr 2019 - 07h19
(atualizado às 07h25)
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Jesus não morreu aos 33 anos, mas aos 109. Ele se casou e teve três filhas. E quem foi crucificado em Jerusalém foi seu irmão.

Essas são as crenças de um pequeno grupo de cristãos que moram no longínquo povoado de Shingo, no norte do Japão.

A pequena cidade encravada entre as montanhas atrai 20 mil pessoas por ano, entre peregrinos e turistas, por causa de lenda local de que ali é o verdadeiro lugar onde Jesus foi sepultado. Isso mesmo: de acordo com a lenda local, o "verdadeiro" Jesus está enterrado ali, junto com a orelha de seu irmão.

Nesta remota cidade japonesa, Cristo é chamado de Daitehu Taro Jurai. E, no lugar de sua suposta sepultura, está um montinho de terra e uma enorme cruz de madeira.

"É só uma atração turística, para fazer dinheiro", disse à rede de TV americana ABC Marcel Poliquin, um sacerdote católico que vive próximo ao "Museu da Lenda de Cristo", criado no local para falar da lenda.

Apenas 1% da população do Japão se declara cristã
Apenas 1% da população do Japão se declara cristã
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As lendas locais são parte de uma crença que vem do século 17 e explicaria os anos obscuros de Jesus, sobre os quais a Bíblia não diz nada.

De acordo com o Museu da Lenda de Cristo, quando Jesus tinha 21 anos ele teria viajado ao Japão para aprender mais sobre outras religiões que existiam no mundo. Ali viveu até seus 30 anos, quando voltou à Jerusalém, através do Marrocos, para continuar sua jornada.

Os primeiros missionários cristãos chegaram ao Japão no século 16
Os primeiros missionários cristãos chegaram ao Japão no século 16
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A partir deste ponto, o relato se torna mais complexo: aos 33, Jesus teria de fato sido preso pelas autoridades romanas, que o condenaram à crucificação. Mas, segundo ela lenda japonesa, ele trocou de lugar com seu irmão, conhecido no Japão como Isukiri.

Assim, diz a lenda, Jesus teria conseguido escapar de Jerusalém com duas relíquias, com as quais conseguiu chegar até Shingo: uma orelha de seu irmão crucificado e uma mecha de cabelo de Maria.

Ele teria se estabelecido no Japão e formado uma família. E morrido, já velhinho, na cidade entre as montanhas. Depois teria sido enterrado no lugar onde hoje se ergue uma enorme cruz de madeira.

A maioria dos japoneses é budista ou xintoísta
A maioria dos japoneses é budista ou xintoísta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A mesma história afirma - baseando-se supostamente em pergaminhos do século 17 que convenientemente desapareceram durante a Segunda Guerra Mundial - que a família dos Sawaguchis, fazendeiros de arroz da região, são descendentes diretos de Jesus.

Entre eles, no entanto, não há cristãos. A maioria da população do Japão é budista ou xintoísta.

A origem da lenda

O folclore local surgiu da mistura de diversos relatos: os mitos dos missionários cristãos enterrados nos arredores, o desejo de um prefeito de atrair turistas e as especulações de arqueólogos oportunistas.

De acordo com o jornalista Winifred Bird, não há uma data exata de criação do "lugar sagrado", mas há um registro de que na década de 1930 se começou a falar sobre o suposto local onde existiria o túmulo de Cristo.

"Por volta de 1935, chegou à região Kiyomaro Takenouchi, um religioso que leu documentos mais tarde conhecidos como Os Livros Takenouchi, que indicavam que Cristo foi enterrado no Japão", escreveu Bird.

A lenda de Shingo diz o irmão de Cristo foi crucificado em seu lugar
A lenda de Shingo diz o irmão de Cristo foi crucificado em seu lugar
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Quando chegou ao local, um dos moradores lhe mostrou os montes de terra cobertos com bambu. E disse erroneamente que era o local onde estava enterrado Jesus e o fragmento de seu irmão", escreveu.

A isso se somou o empenho do prefeito da época, Denjiro Sasaki, que viu na ideia da tumba de Cristo uma oportunidade turística. E efetivamente ela tem rendido.

Mas será que os moradores locais acreditam nela?

"É parte central de nossa indústria turística. Se não acredita nelas, não se salva" disse um Mariko Hosokawa, uma moradora de Shingo, ao jornal japonês Japan Times.

Outros são mais céticos. "É claro que os túmulos são uma mentira", disse Toshiko Sato, outra moradora da área. "Mas há algo que pode sugerir que um evento espiritual e sem precedentes aconteceu nessa região."

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