Sob pressão, presidente do Equador decreta estado de emergência
Guillermo Lasso aciona Forças Armadas para combater tráfico de drogas e aumento da criminalidade. Neste mês, Congresso abriu investigação sobre suas empresas em paraísos fiscais e oposição convocou protestos.O presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou estado de emergência no país por no mínimo 60 dias e mobilizou as Forças Armadas para atuar no combate ao tráfico de drogas e à criminalidade em geral.
A decisão foi anunciada na noite de segunda-feira (18/10), quando Lasso fez um pronunciamento na televisão e culpou o tráfico de drogas pela onda de violência no país e nos presídios. Neste ano, 238 presos morreram em conflitos em estabelecimentos prisionais equatorianos.
"Há somente um inimigo nas ruas do Equador: o tráfico de drogas. Quando o tráfico de drogas cresce, o mesmo acontece com homicídios e roubos de casas, carros e bens. Nossas forças militares e policiais serão sentidas com intensidade nas ruas", disse.
No mesmo dia, o presidente trocou o comando do Ministério da Defesa, que passou a ser liderado pelo general da reserva Luis Hernandez, no lugar de Fernando Donoso.
A decretação do estado de emergência foi anunciada um dia antes de uma visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ao Equador. Ele desembarcou no país nesta terça-feira, onde discutirá temas de segurança, defesa, comércio e meio ambiente.
Blinken está fazendo seu primeiro giro pela América do Sul desde que assumiu o cargo em janeiro, no início do governo Joe Biden. O roteiro não inclui o Brasil.
Forças Armadas atuarão em nove províncias
O estado de emergência permitirá que as Forças Armadas do Equador atuem em operações de apreensão de drogas e armas em nove das 24 províncias do país, inclusive em Guayas, onde fica a cidade de Guayaquil, um centro de distribuição de cocaína produzida na América do Sul para os Estados Unidos.
Segundo o presidente, mais de 70% das mortes violentas em Guayas seriam "em alguma medida" relacionadas ao tráfico de drogas.
O país tem enfrentado uma onda de violência e de motins em prisões. Em setembro, 119 pessoas foram mortas durante confrontos entre facções rivais em um presídio de Guayaquil. Em julho, motins em prisões de Cotopaxi e Guayaquil deixaram 21 mortos, e em fevereiro 79 morreram em conflitos entre gangues rivais em diversos presídios do país.
Lasso também afirmou que irá propor e editar normas que apoiem membros das forças de segurança em ações contra o crime e criar um órgão para defender policiais que são processados "somente por fazerem o seu serviço".
"O governo irá perdoar todos aqueles que foram condenados injustamente por terem feito o seu trabalho", disse o presidente, que também pediu aos juízes que "garantam a paz e a ordem, e não a impunidade e o crime".
A decretação do estado de emergência não foi bem recebida por grupos indígenas e sindicalistas, que recentemente convocaram protestos contra a política econômica do governo e o aumento do preço dos combustíveis.
Eles receiam que a medida não solucionará os problemas sociais do país, e poderia servir de justificativa para silenciar manifestações da oposição.
Lasso está sob pressão dos "Pandora Papers"
Ex-banqueiro, o presidente do Ecuador tem perfil conservador e defende políticas liberais na economia. Ele assumiu o cargo em maio , após uma campanha em que se posicionou como o nome mais forte contra o socialista Andrés Arauz, apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa.
Lasso apareceu ligado a empresas offshore no caso dos "Pandora Papers", uma investigação jornalística realizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). Em 10 de outubro, o Congresso do Equador aprovou a abertura de uma investigação para averiguar se ele cometeu alguma ilegalidade ao manter dinheiro em paraísos fiscais.
Após a revelação dos "Pandora Papers", Lasso disse que as empresas já foram fechadas, que ele não cometeu irregularidades e que sua fortuna é resultado de sua atuação no Banco de Guayaquil, do qual é o maior acionista.
bl (AP, Reuters, AFP, dpa, ots)