Storytelling: a chave do poder da liderança
Por Leandro Waldvogel
Falar de storytelling de repente virou moda. Aqui no Brasil, um imenso número de empresas e profissionais parece ter descoberto a "chave secreta" para o sucesso e tem se dedicado a estudar uma das invenções mais antigas e poderosas da humanidade. Se não fossem pelas histórias, até hoje estaríamos reinventando a roda, pois não haveria quem contasse sobre a novidade para cada nova geração.
As histórias fazem três coisas extraordinárias: elas permitem acumular o conhecimento do passado, elas atribuem sentido ao nosso mundo no presente, e, o que é mais formidável, são elas que permitem o progresso da humanidade. Se ninguém imaginasse o futuro, contasse as histórias de como nossas vidas poderiam ser se seguíssemos este ou aquele caminho, não haveria progresso, não saberíamos para onde ir.
Os grandes líderes da história, seja no mundo dos negócios, seja na política, onde quer que seja, foram grandes contadores de histórias. Histórias que ensinam, que inspiram, que dão direção, que inventam o futuro. É a capacidade de contar boas histórias que separa um gestor do dia-a-dia de um líder de verdade. Aprender a utilizar as ferramentas do storytelling é absolutamente fundamental para todos os profissionais que desejam liderar e ter sucesso em suas carreiras.
A grande verdade é que nosso poder está em nossa história. A história de nossas experiências, daquilo que aprendemos em anos de estudos e, principalmente, as histórias de nossas ideias. Steve Jobs dizia que no mundo há muito espaço para más ideias, mas nenhum para más histórias. Uma ideia maravilhosa sem uma boa história, provavelmente será sempre apenas uma ideia. São as histórias que dão vida às ideias, que fazem as pessoas acreditarem e trabalharem para sua concretização, que convencem o mundo de seu valor e necessidade. Sem a genialidade do storytelling do criador da Apple, é possível que até hoje vivêssemos sem computadores pessoais e smartphones.
Desde o dia em que nascemos, vivemos em um mudo completamente dominado por histórias. Somos alvo permanente dos mais diferentes tipos de narrativas para estimular nosso consumo, para nossa diversão, para sermos convencidos a emprestar o carro em um sábado à noite. No entanto, em nossa vida profissional, parece que nos esquecemos do poder extraordinário de persuasão que têm as histórias, e da capacidade natural que desenvolvemos ao longo de nossas vidas para usá-las a nosso favor. Perdemos, assim, uma das mais importantes e indispensáveis ferramentas para nosso sucesso pessoal e profissional.
Ao longo de muitos anos conduzindo workshops e coaching de storytelling para vendas, liderança, e gestão de mudança e crise, percebemos como podemos facilmente "limpar a ferrugem" na capacidade de usar histórias no mundo corporativo e ajudar profissionais das mais diferentes áreas e indústrias a se tornarem muito mais poderosos na conquista de seus desafios e objetivos. A capacidade está em todos nós, só precisamos parar e refletir um pouco sobre as estruturas das narrativas e, principalmente, como compreender o outro. A chave está aí: o storytelling desloca o foco para o outro, para as necessidades e desejos de nossas equipes, clientes, consumidores.
Comece reconhecendo que você não é o herói da história. Seu papel, como líder, é fazer com que cada um de seus colaboradores sejam os heróis de suas próprias histórias e conquistem os objetivos que realmente façam sentido para cada um deles. O papel do líder é o de ser o mentor, aquele que viabiliza os sonhos daqueles que o cercam. Lembrem-se, mais uma vez, de Steve Jobs. Um dos maiores líderes do mundo corporativo contemporâneo foi o mentor das profundas mudanças que cada um de nós viveu - e ainda vive - na interação com a tecnologia. Seu papel foi fazer com que a tecnologia da Apple transformasse cada um de nós em uma versão melhor de nós mesmo. O líder é aquele que conta as histórias que ensinam e inspiram cada um de nós a sermos a melhor versão de nós mesmos.
Depois, temos de reconhecer que uma história só é realmente boa e interessante se houver um vilão, um desafio a ser enfrentado. Sem um problema, um obstáculo entre o personagem e seu objetivo, não há história. Esse vilão - ou desafio, problema -, é aquilo que realmente importa para nosso herói - lembre-se, o herói é nossa equipe, nossos clientes. Quando falamos sobre esse "vilão", damos um passo importantíssimo: realmente colocamos o foco no outro. Foco no cliente é foco no "vilão" do cliente. Para ficarmos no exemplo da Apple, o grande foco da empresa é resolver as dificuldades de seus clientes em lidar com a tecnologia, tornar mais fácil e acessível esse mundo que antes era reservado para alguns poucos iniciados. Fale sobre o problema e o desafio de sua audiência, faça que eles compreendam que você entende de verdade quais são suas necessidades, e só depois fale das soluções e caminhos que você pode oferecer. Você perceberá como seu poder de persuasão aumentará de forma extraordinária.
As histórias são a forma mais antiga e eficiente de comunicação entre as pessoas. Sua estrutura permanece praticamente inalterada desde os escritos de Aristóteles sobre persuasão há 2400 anos. Aprender a utilizar o storytelling a nosso favor é um dos mais importantes passos que qualquer pessoa pode dar para ter sucesso em sua vida profissional - e pessoal também. Um bom começo é dar uma navegada nas palestras do TED. Essa incrível plataforma de conhecimento, além de tornar acessível a todos alguns assuntos antes reservados a poucos acadêmicos, resgata a tradição de contar boas histórias, que andava meio perdida em tempos de PowerPoint. Assine a newsletter e assista a um vídeo de 15 minutos por dia. Sua capacidade de comunicação vai começar a se transformar. E seu poder pessoal também. Seu poder está na sua história. E, no mundo de hoje, talvez em nenhum outro lugar.
Leandro Waldvogel é um dos maiores especialistas brasileiros em storytelling corporativo. É palestrante, consultor de empresas, coaching executivo, e ministra workshops baseados em storytelling para vendas, liderança e mudança, além de design thinking e modelo de excelência da Disney. É um dos professores mais bem avaliados do MBA da FIA/USP e professor convidado de universidades no Brasil e exterior. Trabalhou por anos na the Walt Disney Company nos Estados Unidos, a maior referência mundial em Storytelling.
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