'Sua irmã grita pelo seu nome', diz mãe da menina Heloísa, morta pela PRF no Rio
Alana dos Santos compartilhou, nas redes sociais, um comovente desabafo sobre a morte da filha
A mãe da menina Heloísa, Alana dos Santos, morta após abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF), usou as redes sociais para desabafar sobre a morte precoce da filha e o despreparo dos policiais envolvidos no crime. Heloísa passou nove dias internadas no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, mas não resistiu e faleceu no sábado, 16, aos tinha 3 anos.
Heloísa estava no carro com a família quando foi baleada com um tiro de fuzil na cabeça e na coluna. O carro foi alvejado por policiais da PRF quando passava pelo Arco Metropolitano, na altura de Seropédica, no Rio. O pai de Heloísa, Willian da Silva, disse que os agentes não fizeram ordem de parada e atiraram contra o veículo antes mesmo que ele parasse. Confira o relato de Alana abaixo:
“Filha, essa semana que ficamos juntinhas foi uma despedida tão dolorosa, ver você naquele sofrimento, lutando tanto, sendo tão forte, me encheu de esperança a todo momento. Fico lembrando de tudo, até quando vamos viver assim, pessoas que eram para nos proteger, sendo tão despreparados. Minha filha sofreu tanto, sentiu tanta dor, lembro dos gritos de desespero da minha família e dela em especial. Me pergunto, por quê? Por que ela? Hoje sei que Deus tem o melhor para nós, um dia entenderei", iniciou Alana.
Na sequência, ela fala sobre como a fé a tem 'sustentado' nesse período. "Eu pedi tanto a Deus ‘força’ e, hoje, é o que me sustenta, saber que está do lado do senhor, que é um anjinho lindo, cheia de luz e amor, sem dor, sem esse sofrimento que foi tão pesado. A vida aqui para você seria pequena, com sua alegria, dança, cantos e tantas outras coisas que ama fazer. Chegar em casa e ver suas coisinhas, me destrói. Procurar uma roupa sua que ainda não foi lavada para sentir seu cheiro é o que me acalma agora. Sua irmã sente tanto a sua falta, que ela grita pelo seu nome".
"Filha, desculpe por não proteger você, mas hoje entendi que você é uma escolhida por Deus e, muito antes de eu te amar, ele te amou. Sua família te ama tanto, que aqui não serei capaz de dizer. Mãe te ama até o céu. Seu cheirinho, seu bafinho de todas as manhãs… Você é luz! Obrigada por esse momento em que vivemos juntas, quanta coisa aprendi. Você é o amor da minha vida, Heloísa. Cuida de nós. Nosso último dia em família, eu te amo, amor", finalizou.
Mais sobre o caso
O Ministério Público Federal (MPF) e a corregedoria da PRF estão investigando o caso. Desde o último sábado, 9, o MPF quer esclarecer o porquê um agente da PRF foi visto entrando à paisana no hospital em que Heloísa está internada.
A TV Globo teve acesso às imagens das câmeras do hospital que mostram o homem entrando sem se identificar. Um funcionário percebe e avisa a um dos seguranças, que vai atrás do policial. Pouco depois, em outro corredor, o homem já aparece com o distintivo pendurado no pescoço. Segundo a prefeitura de Duque de Caxias, porém, o agente não teria entrado no CTI onde a menina está internada, já que foi barrado pelos funcionários do hospital.
Segundo o procurador Eduardo Benones, ouvido pela emissora, caso seja comprovado que o agente ingressou no local sem autorização médica, ele pode ter cometido crime de abuso de autoridade.
Depoimento do pai e confissão de agente da PRF
De acordo com Benones, que falou sobre o depoimento dado pelo pai da menina, William Silva, nesta segunda-feira, 11, os agentes teriam atirado contra o carro antes de a família descer do veículo.
"Segundo ele [o pai de Heloísa], ele percebeu a viatura, mas a viatura estaria com as luzes apagadas, atrás dele com as luzes apagadas, e daí ligaram o giroflex. Segundo ele, quando ele percebeu a presença da viatura muito próximo pelo retrovisor, ele deu seta, parou no acostamento e a partir daí em poucos segundos os fatos se desencadearam com os tiros", disse. Ainda com base no depoimento de William, os policiais não teriam dado nenhum sinal de parada para o carro e não teria tido nenhum barulho externo antes dos disparos.
Um agente da PRF admitiu ter sido o autor dos disparos que acertaram Heloísa. Fabiano Menacho Ferreira disse, em depoimento, que os policiais voltaram as atenções para o veículo de William, um Peugeout 207, depois de verem que a placa constava como produto de roubo.
Daí, segundo Menacho, os agentes teriam ligado o giroflex e passado a seguir o veículo. Cerca de 10 segundos depois, eles teriam ouvido barulhos de tiro, chegando a se abaixar na viatura. Em sequência, Fabiano Menacho conta ter dado os três disparos, em razão das circunstâncias.