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A Equação de Drake já não serve mais, mas há uma possível correção

5 abr 2018 - 16h41
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Criada em 1961 por Frank Drake, a Equação de Drake é uma fórmula que visa estimar a quantidade de civilizações tecnologicamente avançadas que possam existir em nossa Via Láctea. Sim, estimar, uma vez que alguns de seus parâmetros não são exatos e, portanto, a equação se tornou um tanto quanto polêmica, com cientistas obtendo resultados discrepantes dependendo dos valores considerados.

O problema, agora, é que os recentes avanços da exploração espacial nos deram novas descobertas e novos meios de se pensar a respeito dessa questão. Com isso, a equação acabou se tornando obsoleta à medida em que aprendemos muito mais sobre o universo.

Mas, primeiro, vamos explicar como funciona a equação original, que prevê o número de civilizações inteligentes e tecnológicas com base em dados da astronomia, biologia, geologia e antropologia. Drake propôs o seguinte: N = R* x fp x ne x fl x fi x fc x L, sendo que:

  • N = O número de civilizações na Via Láctea com as quais poderíamos estabelecer contato
  • R * = A taxa de formação de estrelas em nossa galáxia
  • fp = A fração de estrelas com sistemas planetários
  • ne = O número de planetas, por sistema estelar, com um ambiente adequado para a vida
  • fl = A fração de planetas adequados em que a vida realmente possa se desenvolver
  • fi = A fração de planetas que desenvolvem vida inteligente
  • fc = A fração de planetas com vida inteligente e que têm o desejo e os meios necessários para estabelecer comunicação
  • L = O tempo esperado de vida de tal civilização

Então, de acordo com Drake, os valores para cada parte da equação seriam os seguintes:

  • R* - estimado em 7/ano
  • fp - estimado em 0,5
  • ne - estimado em 2
  • fl - estimado em 0,33
  • fi - estimado em 0,01
  • fc - estimado em 0,01
  • L - estimado como sendo 10.000 anos

Sendo assim, o cálculo ficaria da seguinte maneira: N = 7 × 0,5 × 2 × 0.33 × 0,01 × 0,01 × 10 000 = 2,31 (ou seja, cerca de 2,31 civilizações inteligentes existiriam na Via Láctea além da Terra), sendo esta considerada uma visão conservadora, uma vez que o resultado mostra que, em nossa galáxia, existem somente cerca de duas civilizações alienígenas inteligentes e capazes de fazer algum tipo de contato com a humanidade. Outros cientistas, incluindo Carl Sagan, fizeram seus próprios cálculos, chegando a resultados mais otimistas de mil ou até 1 milhão de civilizações aguardando que a evolução de nossa tecnologia nos permita fazer contato.

Os problemas da Equação nos dias de hoje

Para começar, a Equação de Drake foi formulada antes de que a teoria do Big Bang fosse validada. Naquela época, acreditava-se que o universo era algo estável, mas hoje sabemos que ele está em constante movimento. Ainda, a equação parte do princípio de que há apenas um planeta potencialmente habitável por estrela, o que já foi refutado pelas recentes descobertas do Telescópio Espacial Kepler, que já chegou a achar sistemas estelares com diversos planetas rochosos em sua zona habitável.

Lançado em 2009, o telescópio espacial Kepler é conhecido como "o caçador de exoplanetas" (Imagem:NASA/JPL-Caltech)
Lançado em 2009, o telescópio espacial Kepler é conhecido como "o caçador de exoplanetas" (Imagem:NASA/JPL-Caltech)
Foto: Canaltech

A equação também presume que tais civilizações tecnologicamente inteligentes não sejam capazes de se espalhar por outros mundos - sendo que nós, humanos, já estamos praticamente prestes a explorar presencialmente outros planetas do Sistema Solar, com planos de colonizar Marte e até mesmo a Lua. Portanto, não faz sentido pensar que o mesmo não possa acontecer, ou já não tenha acontecido, em outros mundos.

Outra falha da Drake foi supor que a observação e escuta de sinais de rádio seja exatamente o método escolhido por essas supostas civilizações para nos descobrir. Nós, humanos, estamos fazendo isso por meio do SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), mas isso não significa que outros seres espaciais façam o mesmo.

Além disso, alguns valores da equação são obtidos por mera suposição, uma vez que não são exatos e dependem de muitos fatores ainda não confirmados pela ciência para serem determinados. Mas a boa notícia é que, desde 1961 até 2018, aprendemos muito mais sobre nossa galáxia para ao menos tentar atualizar a Equação de Drake para os dias atuais, tornando-a um pouco mais confiável.

Quem propõe a atualização dos cálculos é o astrofísico Ethan Siegel, e ele imagina o seguinte:

1) No lugar de R*, trocar por um "Ns" para representar o número de estrelas em nossa galáxia. Afinal, por que estimar a taxa de formação de estrelas na Via Láctea se podemos simplesmente usar o número já conhecido desses objetos em nossa galáxia? Já sabemos muito a respeito da galáxia em que vivemos e, com base em tudo o que já foi observado e comprovado, é seguro estimar que esse número seja de entre 200 e 400 bilhões de estrelas.

2) Já quanto à fração de estrelas com sistemas planetários, é preciso atualizar os valores de acordo com as descobertas recentes do Kepler. De acordo com os dados obtidos por meio do "caçador de exoplanetas", a fração de estrelas que não têm nenhum planeta em sua órbita é muito pequena, não passando dos 20%. Sim, pelo menos 80% das estrelas de nossa galáxia têm planetas ao seu redor!

3) Quanto ao "ne", que representa o número de planetas por sistema estelas com ambiente adequado para abrigar algum tipo de vida, Siegel propõe que o fator seja substituído por "fH", para representar a fração de estrelas com condições de habitabilidade em sua órbita. Acredita-se, com base em dados reais, que cerca de 25% das estrelas da Via Láctea tenham ao menos um planeta potencialmente habitável.

4) Substituindo o "fl", correspondente à fração de planetas adequados em que a vida possa se desenvolver, o astrofísico sugere a inclusão de um "np" para representar o número de mundos ao redor de estrelas com condições de habitabilidade em sua órbita. Ainda que as questões ao redor de "o que determina a habitabilidade de um planeta" sejam diversas, com muitas ainda não solucionadas, é justo estimar que, das estrelas cujas condições permitam a existência de uma zona habitável, em média, haverá ao menos um planeta nesta região. E, caso seja um gigante gasoso, como Júpiter e Saturno, por exemplo, é possível que o tal planeta tenha luas rochosas, como é o caso de Encélado e Europa - luas do Sistema Solar que estão sendo estudadas para determinar se abrigam algum tipo de vida microbiana abaixo de suas crostas congeladas.

5) No lugar do "fi", que significa a fração de planetas que desenvolvem vida inteligente (afinal, ainda não sabemos sequer de um planeta em que há vida microbiana além da Terra, que dirá vida inteligente), a sugestão de troca é para o fator "fl", ou a fração de planetas adequados em que a vida realmente possa se desenvolver. O fator da equação original de Drake pode ser mantido, aqui, mesmo que o valor correspondente a esse fator ainda seja determinado com uma boa dose de "achismo".

6) Já substituindo o "fc", sobre a fração de planetas com vida inteligente que têm meios para fazer contato conosco, pode-se usar um "fx": a quantidade de mundos que podem abrigar vida com organismos complexos e diferenciados. Isso porque tentar chegar a um número que defina a quantidade de planetas com vida inteligente ainda é algo muito longe da realidade, e, aqui na Terra, a ciência ainda debate quanto até onde podemos considerar outras espécies, como golfinhos e polvos, como inteligentes. O que é consenso, contudo, é que são organismos complexos e diferentes entre si.

7) Por fim, Siegel sugere trocar o "L", que determina o tempo esperado de vida de tal civilização alienígena, para um "ft", representando a fração de planetas que seja a morada de civilizações tecnologicamente avançadas. Afinal, é mais importante determinar quantos são esses mundos, do que imaginar o tempo de vida de uma civilização extraterrestre por aí. E, de acordo com o que sabemos mesmo em 2018, há somente um planeta capaz de entrar nessa descrição: a Terra.

Concluindo a nova equação

A Via Láctea a partir da Terra (Foto: J.C Casado)
A Via Láctea a partir da Terra (Foto: J.C Casado)
Foto: Canaltech

Então, fazendo os cálculos com base na correção da Equação de Drake sugerida por Ethan Siegel, o astrofísico chegou à estimativa de que possam haver 10 mil mundos na Via Láctea onde é possível existir uma variedade de vida com organismos complexos e diferentes entre si, com a evolução se encarregando de surgir ao menos 1 espécie inteligente o suficiente para se tornar tecnologicamente evoluída, em cada um deles.

Sendo assim, há estimados 10% de chance de haver, no presente momento, uma outra civilização inteligente de maneira científica e tecnológica além da humana em nossa galáxia. Ainda assim, pelo fato de alguns dos parâmetros da equação reformulada ainda serem um tanto quanto vagos, essa estimativa pode estar bem longe da realidade que, um dia, devemos descobrir - podendo ser maior, ou menor. Mas, de qualquer maneira, a interpretação de SIegel da equação original de Drake nos dá uma perspectiva atualizada quanto à busca por vida inteligente fora da Terra.

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