Correios querem fim das ofertas de frete grátis para compras na China
O crescimento das importações de produtos chineses para o Brasil fez com que muitos sites do outro lado do mundo aumentassem as ofertas para nosso país, oferecendo páginas em português, serviços de atendimento e pagamento exclusivos, além da oferta mais interessante de todas: frete grátis. Mas para os Correios essa alternativa não é nada interessante, e, pelo contrário, estaria sendo uma das grandes responsáveis pelos atrasos e problemas na entrega de mercadorias em todo o país.
As palavras são do presidente da estatal, Guilherme Campos, que diz estar liderando uma aproximação entre o Brasil e a China para lidar com o problema. De acordo com ele, a falta de padronização nas etiquetas enviadas por lojas online e a ausência de códigos de rastreio estariam gerando prejuízos de mais de R$ 1 bilhão por ano, um valor ao qual são somados, também, os impostos não cobrados sobre os produtos de pequeno valor trazidos do país.
E é aí que está o principal problema por trás do crescimento acelerado no número de importações chinesas para o Brasil. De acordo com o presidente dos Correios, a oferta de frete grátis por parte das lojas asiáticas fez nascer os "camelôs eletrônicos", comerciantes que compram mercadorias da China com frete grátis e acabam não pagando impostos, revendendo os produtos no Brasil. Na visão dele, é a estatal quem acaba pagando a conta.
Como explicou o executivo, sites da China adotam um sistema de "pequenos pacotes", nos quais as encomendas menores e de baixo valor são enviadas todas de uma única vez para o país de destino, em grandes quantidades, com valor de frete baixíssimo, que não é repassado aos clientes. A "manobra comercial", como foi chamada por Campos, levou a um aumento de 200% no volume diário de encomendas recebidas no Brasil ao longo dos últimos dois anos, aumentando a carga sobre órgãos aduaneiros e de entrega, resultando na insatisfação de clientes.
Entre os principais problemas decorrentes desse tipo de envio estão a falta de informações eletrônicas sobre o destinatário, sem códigos de barras para endereço e CEP, por exemplo, além do uso de etiquetas fora do padrão internacional. Tais encomendas, ainda, seriam enviadas sem nenhum tipo de código de rastreamento, o que dificultaria o trabalho de organização e logística, obrigando um trabalho manual em vez da utilização de equipamentos para triagem automática.
Além disso, aponta Campos, os Correios deixam de receber sobre o trabalho realizado, o que levou ao prejuízo citado, que representa 6% de toda a receita da estatal, que opera há anos com prejuízos de alguns bilhões de reais. Com o não pagamento de impostos e a mão-de-obra adicional requerida pela falta de padronização dos pacotes, a empresa estaria deixando de arrecadar cerca de R$ 15 por encomenda, além de observar um acúmulo de reclamações quanto à demora nas entregas.
De acordo com os Correios, o prazo de entrega de encomendas é de 40 dias úteis após a liberação pela alfândega, mas quem faz compras do exterior sabe que, entre verificação aduaneira e efetiva chegada do pacote à porta de casa, a espera pode chegar a três meses. Reclamações não surtem efeito, enquanto o acesso à informação e solicitações por parte da estatal é difícil e burocrático, fazendo com que a espera acabe sendo uma das poucas opções disponíveis.
Segundo o presidente dos Correios, além do Brasil, os Estados Unidos também já teriam demonstrado preocupações relacionadas à questão dos fretes gratuitos em sites chineses. Comentários e pedidos de revisão já foram feitos na União Postal Universal, um órgão da ONU, mas, até o momento, a pressão ainda seria branda, e nenhuma solicitação formal de ação foi protocolada até agora.
Solução negativa para o bolso
Enquanto procura se aproximar da China e trabalha com outros países na ONU para resolver a questão, os Correios já possuem algumas soluções em mente, que devem ser aplicadas ainda neste ano. A principal delas seria anular a oferta de frete grátis por parte das lojas asiáticas fazendo com que os compradores paguem o custo de frete ao receberem os produtos no Brasil, uma dinâmica que pode ser aplicada ainda em 2018.
Além disso, os Correios tentam trabalhar com as lojas para que elas passem a incluir informações eletrônicas nos produtos enviados, como forma de tornar o processo automatizado e mais dinâmico - algo que pode inviabilizar o uso do sistema de "pequenos pacotes" e, com isso, levar à cobrança de frete. Nenhuma das iniciativas, entretanto, teve resultados ou perspectivas divulgadas.