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Primeira ligação feita com um celular completa 45 anos; relembre a história

3 abr 2018 - 15h26
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Hoje em dia, viver sem um telefone celular é algo praticamente inimaginável — esses pequenos dispositivos móveis são essenciais para nos comunicarmos tanto com familiares e amigos quanto com pessoas relacionadas à nossa rotina profissional. Porém, as coisas eram diferentes na década de 1960. Nessa época, quem quisesse ter a liberdade de realizar chamadas telefônicas enquanto estivesse na rua precisava investir em um telefone de carro, que nada mais era do que um equipamento gigantesco que só funcionava com o motor ligado.

A primeira ligação efetuada através de um telefone verdadeiramente portátil só ocorreu a 45 anos atrás, no dia 3 de abril de 1973. Martin Cooper, um engenheiro que trabalhava na Motorola, resolveu demonstrar à imprensa norte-americana um protótipo do DynaTAC 8000X, primeiro celular comercial do mundo. Cooper tinha um ótimo senso de humor, então ele discou para a (até então) concorrente AT&T, que também estava tentando desenvolver uma tecnologia similar, só para tirar um sarro com o chefe do departamento.

Apesar da importância histórica desse episódio, é importante lembrar que os celulares só começaram a ser vendidos 10 anos depois, e demorou ainda mais para que tais gadgets atingissem o status que eles têm hoje em dia. A trajetória de tal tecnologia é um tanto curiosa e divertida — e, pensando nisso, resolvemos celebrar a data relembrando os principais acontecimentos que contribuíram para a popularização desse produto que é tão importante em nossas vidas.

Martin Cooper, o pai dos celulares (Reprodução: Sonetics Corp)
Martin Cooper, o pai dos celulares (Reprodução: Sonetics Corp)
Foto: Canaltech

Tudo começou dentro dos carros

A ideia de criar uma rede de telecomunicações baseada em radiofrequência é antiga — na década de 1940, a Bell Labs (empresa afiliada com a AT&T, que hoje é uma das maiores operadoras dos EUA) já discutia o assunto com os órgãos regulatórios estadunidenses. Ao longo dos anos 1950 e 1960, a empresa conduziu seus próprios experimentos em paralelo com a Motorola, gerando uma verdadeira corrida para ver quem lançaria o primeiro celular.

Na época, a Motorola era líder no segmento de car phones — telefones que eram instalados em automóveis e trabalhavam com canais de comunicação limitados. Aliás, o próprio nome da companhia vem do título de seu primeiro car phone, que foi chamado de "motor" (referindo-se ao motor automotivo) e "ola", um sufixo bastante comum naqueles tempos (basta se lembrar da vitrola ou victrola, patente da Victor Talking Machine Company).

Um car phone da Motorola (Reprodução: Wikimedia)
Um car phone da Motorola (Reprodução: Wikimedia)
Foto: Canaltech

Em 1970, a Motorola elegeu Martin Cooper como o responsável pelo time que desenvolveria o primeiro celular da companhia. Desapontado com a falta de flexibilidade dos car phones, Cooper afirmava que celulares deveriam ser "um telefone pessoal — algo que poderia representar um indivíduo para que você pudesse atribuir um número; não a um lugar, não a uma mesa, não a uma casa, mas uma pessoa".

Posteriormente, o engenheiro revelou que uma de suas principais inspirações foi o rádio-relógio usado pelo detetive Dick Tracy na história em quadrinhos homônima. Com um belo investimento por parte da diretoria da Motorola, Cooper montou um time de sucesso e conseguiu produzir um protótipo funcional em menos de 90 dias. Agora só faltava avisar ao mundo.

Um momento revolucionário

No dia 3 de abril de 1973, a caminho de uma coletiva de imprensa em Manhatan, Cooper decidiu demonstrar publicamente o funcionamento de seu protótipo. Em vez de realizar a demonstração a portas fechadas, o engenheiro quis que os pedestres também pudessem conhecer a novidade tecnológica — logo, sacou uma edição prévia do DynaTAC 8000x no meio da rua e discou para o Dr. Joel S. Engel, da AT&T.

"Joel, é o Marty. Eu estou ligando para você de um celular, um celular real e portátil", disse Cooper. A ligação só foi possível por causa de uma base de rádio que havia sido instalada pela Motorola no topo do prédio Burlington House (que hoje abriga o Alliance Bernstein Building). Cercado pela mídia, o inventor ainda realizou uma segunda ligação com um repórter do The New York Times enquanto atravessava a rua — ato que, posteriormente, foi descrito pelo próprio como "uma das coisas mais perigosas que já fiz na vida".

Martin Cooper demonstrando o DynaTAC (Reprodução: Winnipeg Free Press)
Martin Cooper demonstrando o DynaTAC (Reprodução: Winnipeg Free Press)
Foto: Canaltech

Apesar do hype criado por jornais e revistas, o DynaTAC 8000x só foi lançado comercial dez anos depois. Nesse meio tempo, a Motorola "encheu o saco" da Comissão Federal de Comunicações dos EUA (Federal Communications Commission ou FCC) para criar uma estrutura de antenas que pudesse garantir o bom funcionamento da tal "rede celular". O órgão aprovou o aparelho em setembro de 1983.

O famoso "tijolão"

O DynaTAC (DYNamic Adaptive Total Area Coverage ou Cobertura Total de Área Dinâmica Adaptiva) 8000x era bem diferente do que estamos acostumados nos dias de hoje. Primeiramente, ele era enorme, tendo dimensões de 33 cm x 4,4 cm x 8,9 cm. Além disso, o produto pesava 793 gramas — para fins comparativos, um iPhone X pesa apenas 174 gramas. Ainda que o gadget fosse portátil, você dificilmente conseguiria carregá-lo no bolso.

Outro limitador era a bateria, que durava apenas 30 minutos de conversação e demorava 10 horas para ser recarregada por completo. Sendo inicialmente focado ao público corporativo, o 8000x foi lançado pelo preço sugerido de US$ 3.995 (o que equivale a aproximadamente R$ 13 mil na cotação atual da moeda). Em comparação, um bom car phone custava na época em média US$ 2,5 mil (cerca de R$ 8 mil).

Além do teclado numérico, o usuário tinha nove teclas especiais à sua disposição, incluindo a Rcl (Recall) para rediscar o último número chamado e a Sto (Store) para guardar um contato na agenda, que tinha memória para armazenar 30 entradas. As informações eram exibidas em um display LED de cor vermelha — algumas edições especiais do DynaTAC (como a International Series e a 6000XL) exibiam caracteres nas cores azul e verde.

Apesar do preço proibitivo, o DynaTAC foi um sucesso, e, depois do lançamento de diversas versões com poucas mudanças estruturais, o gadget foi substituído por completo pelo MicroTAC, que foi apresentado em 1989 e era bem mais compacto. Enfim, a humanidade tinha um telefone celular que podia ser guardado no bolso.

E surgem as redes móveis

Embora o primeiro celular do mundo tenha sido norte-americano, a primeira rede móvel comercial (1G) foi inaugurada no Japão. A Nippon Telegraph and Telephone (NTT) foi a precursora de tal modelo de negócios, oferecendo planos antes mesmo que tais dispositivos se tornassem populares. Em seguida, em 1981, a Nordic Mobile Telephone (NMT) também estreou sua rede na Finlândia, Noruega, Dinamarca e Suécia.

A rede 2G, primeira a usar tecnologia digital (e não analógica como a 1G), nasceu em 1991 pelas mãos da finlandesa Radiolinja, no padrão GSM. O Japão retomou os holofotes em 2001, quando a NTT DoCoMo apresentou o 3G com o padrão WCDMA. Foi só aí que os celulares ganharam a ampla capacidade de acessar a internet, abrindo as portas para o nascimento dos smartphones modernos.

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