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Mundo pós-pandemia fortalece empresas como o Nubank, diz David Vélez

Ao completar sete anos em maio, fintech já é usada por cerca de 25 milhões de brasileiros; para executivo, isolamento social acelerou ainda mais a digitalização de empresas e serviços

29 mai 2020 - 07h10
(atualizado às 14h10)
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A fintech brasileira Nubank segue crescendo em meio à pandemia do novo coronavírus: neste mês de maio, ao completar sete anos, a startup anuncia que tem cerca de 25 milhões de brasileiros como clientes de seus serviços financeiros - entre eles, a conta digital NuConta e o cartão de crédito roxo que lhe deu fama. Desde que adotou o trabalho remoto, no início de março, a empresa já contratou 178 funcionários, indo na contramão do mercado. E, na visão do presidente executivo David Vélez, o cenário de longo prazo é bom para a companhia.

"O isolamento social acelerou o movimento de digitalização, que já era acelerado. O mundo pós-pandemia vai fortalecer empresas como o Nubank, que são mais digitais, têm tecnologia, são ágeis e conseguem se adaptar rapidamente", disse o executivo em entrevista exclusiva ao Estadão, realizada nesta quinta-feira. Conhecida por não cobrar taxas de anuidade no cartão ou de manutenção para a conta bancária, a empresa afirma ter ajudado os clientes a economizar R$ 8 bilhões em tarifas nestes sete anos de história.

Segundo Vélez, uma das amostras das mudanças de comportamento em meio à pandemia é o crescimento de clientes do Nubank em faixas etárias mais elevadas - em abril, foram 30 mil novas contas de usuários acima dos 60 anos, bem como 300 contas abertas por pessoas acima de 90 anos. "O público mais velho é mais resistente a um banco 100% digital, mas quando não se pode tomar café com o gerente, a mudança acontece", afirmou.

Nesta sexta-feira, 29, o Nubank vai lançar uma nova ferramenta para seus usuários, permitindo doações diretas, via cartão de crédito. A princípio, quatro organizações serão parceiras da fintech, recebendo os donativos: o Hospital das Clínicas, a Ação da Cidadania, a Cruz Vermelha do Brasil e o Action Aid. Segundo Vélez, quando R$ 100 mil forem arrecadados para as instituições, o Nubank vai contribuir com R$ 100 mil para cada uma delas, num total de R$ 400 mil.

Ao Estadão, Vélez também falou sobre os planos da empresa para o futuro - em testes há algum tempo entre os clientes, a função de empréstimo pessoal deve demorar mais tempo para chegar a todos os usuários da conta digital da empresa. "Estamos num ambiente em que há mais risco para um produto de crédito como esse", afirma o executivo. A seguir, confira os principais trechos da entrevista.

Como o Nubank recebeu essa crise?

A primeira reação foi um choque para os investidores. Tivemos um período de olhar nossa posição financeira com cuidado, até chegarmos à conclusão que estávamos bem preparados. Uma vez que a gente ficou confortável, começamos a pensar no que poderíamos oferecer para os clientes em meio à crise. É difícil saber se ainda serão três, seis ou nove meses até a crise passar. Mas sei que o mundo pós-pandemia vai fortalecer empresas como o Nubank, que são mais digitais, têm tecnologia, são ágeis e conseguem se adaptar rapidamente.

Muita gente fala que o período de isolamento social "acelerou a digitalização" do mundo. Como o sr. vê o tema?

O isolamento social acelerou o movimento de digitalização, que já era acelerado. A digitalização já vinha avançada e só aumentou com esse choque. No ano passado, nós crescemos de 6 milhões para 20 milhões de clientes, é um crescimento incrível. Mas havia fatias demográficas que ainda tinham fricção. Usuários mais velhos tinham dificuldade de confiar em um banco 100% digital, gostavam de tomar café na agência com o gerente. Nos últimos 60 dias, isso teve que mudar, porque não tem mais o café na agência com o gerente. Só em abril, vimos mais de 30 mil pessoas acima dos 60 anos abrindo uma conta no Nubank, um crescimento de 20% nessa faixa contra o ano anterior. Tivemos 300 contas abertas por usuários acima de 90 anos. É um passo importante. Em termos de penetração geográfica, hoje temos clientes em 100% dos municípios brasileiros. Acredito que é uma tendência que vai se espalhar por muitos setores, como saúde e educação.

Muitas empresas têm demitido profissionais em meio à pandemia, mas o Nubank tem contratado. O sr. falou recentemente sobre a dificuldade de recrutar talentos. Ficou mais fácil nesse cenário?

Nós continuamos contratando, foram 178 pessoas novas desde que entramos no regime de home office, no início de março. A maior parte delas, cerca de 90%, foi contratada aqui no Brasil, mas houve também casos na Índia e no Oriente Médio, nos EUA e em países da Europa. Temos muita gente trabalhando remotamente e o lado interessante disso é que, estando de casa, podemos contratar pessoas em qualquer lugar do mundo. Ainda estamos aprendendo a como fazer isso funcionar bem. Mas o foco continua no Brasil e ter mais talento disponível no mercado ajuda sim.

O Nubank tinha planos para 2020 que consideravam um cenário diferente do que temos agora - em janeiro, o sr. falou sobre empréstimo pessoal, por exemplo. Como esses planos mudaram?

Não sei se consigo dar muitos detalhes. Com certeza, a parte de crédito num ambiente como este se torna mais desafiadora. No nosso caso, o único Brasil que a gente conhece é um Brasil em recessão, nós crescemos muito entre 2013 e 2019. Estar nesse ambiente é um pouco de mais do mesmo, mas isso também cria mais risco na parte de crescimento de crédito. À parte isso, esperamos dar um bom salto na parte de produtos financeiros até o final do ano, seja na conta digital ou no cartão. Também vamos avançar na conta para pessoas jurídicas (PJ). Hoje, temos mais de 200 mil clientes na conta PJ - é um produto ainda restrito para microempreendedores e para quem já tem conta no Nubank como pessoa física. Quanto ao México, também estamos crescendo bem. É um país que também sofre bastante com a crise, mas estamos vendo uma reação positiva, lá o efeito de boca a boca que tivemos no Brasil está se repetindo.

O cenário de instabilidade política preocupa?

Desde o começo do Nubank, vivemos cenários tão turbulentos que aprendemos uma coisa: baixar a nossa cabeça e focar no que a gente pode controlar. É uma visão estóica. Não temos controle sobre o ambiente macro, mas temos sobre os nossos clientes, os produtos, o crescimento. Toda a turbulência acontece lá fora e a gente não perde muito tempo pensando nisso.

Há algumas semanas, o Sergio Furio, da Creditas, deu uma entrevista ao 'Estadão' e disse que ele não vê uma distinção clara entre bancos e fintechs daqui a alguns anos. Como o sr. vê o assunto?

Depende. Tem duas formas de trabalhar essa questão. Uma é pensar num banco em termos de produtos e de licenças regulatórias. Outra é cultural. Um pouco como Walmart e Amazon. Depois de dez anos, eu ainda não diria que o Walmart é uma empresa de tecnologia. Existe uma clara divisão entre um varejista offline que tem (presença) online e uma empresa de tecnologia. Assim como haverá bancos que serão fortes no digital, mas haverá empresas de tecnologia que são focadas nisso. Em termos de cultura, são empresas muito diferentes.

Estadão
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