Olist, que conecta à web 7 mil lojas offline, prevê expansão
Potencial da empresa atraiu um investidor de peso: o grupo japonês SoftBank, que lidera uma rodada de aportes avaliada em R$ 190 milhões
Vender bem pela internet não é fácil: é preciso criar um site, atrair clientes, desenvolver uma estrutura de pagamentos e segurança, ter boa reputação… Ao mesmo tempo, é um mercado que comerciante nenhum quer desprezar. Fundada em 2015, a startup curitibana Olist tenta resolver esse problema, colocando os produtos de 7 mil lojistas do País inteiro à venda em sites como MercadoLivre, Amazon, Submarino, Americanas e ViaVarejo. O potencial da empresa atraiu um investidor de peso: o grupo japonês SoftBank, que lidera uma rodada de aportes avaliada em R$ 190 milhões anunciada pela Olist hoje.
"Falamos com mais de 30 fundos para fechar essa rodada de investimentos. O SoftBank nos atraiu pelo ecossistema de apoio que oferece para as startups em que investem", disse Tiago Dalvi, presidente executivo e fundador da Olist, ao Estado. A startup curitibana é o nono investimento do SoftBank no País em 2019 - em março, os japoneses criaram um fundo de US$ 5 bilhões para aportar em startups latinas.
De lá para cá, os cheques do grupo de Masayoshi Son ajudaram pelo menos três empresas do País a se tornarem unicórnios (startups avaliadas acima de US$ 1 bilhão): a companhia de entregas Loggi, o "Netflix das academias" Gympass e a startup de aluguel residencial Quinto Andar.
"O Olist agrega valor ao e-commerce profissionalizando pequenos vendedores, ao mesmo tempo que atende o consumidor final com sólido serviço", afirmou, em nota, Paulo Passoni, sócio gestor de investimentos do fundo latino do SoftBank. É um setor em expansão: a despeito da crise, o e-commerce tem crescido a pelo menos dois dígitos nos últimos anos no País - em 2018, o faturamento foi de R$ 53,2 bilhões, alta de 11% na comparação com o ano anterior, segundo números da consultoria Ebit/Nielsen divulgados no início de 2019.
"Qualquer solução que melhore o cenário do mercado eletrônico está num momento muito oportuno", avaliou Luís Gustavo Lima, diretor de marketing da empresa de inovação Ace. Para Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a Olist permite que não só lojistas tradicionais, mas também qualquer brasileiro "explore uma nova fonte de renda vendendo produtos na internet".
Startup vira 'vitrine virtual' para lojas físicas
O que a Olist já faz e pretende intensificar nos próximos anos é servir como ponte entre os comerciantes que têm lojas físicas e pretendem entrar no comércio eletrônico. "O lojista sabe administrar bem o balcão, vender e comprar bem, mas não precisa se preocupar com as questões complicadas da internet", explicou Dalvi.
É algo simples: para entrar na plataforma da startup curitibana, o comerciante deve se cadastrar na plataforma da empresa, via site ou aplicativo, com versões tanto para iPhone como para smartphones Android. Uma vez que o cadastro for aprovado, ele pode começar a inserir seus produtos no inventário da Olist, por meio de código de barras - a startup tem um banco de dados com mais de 73 milhões de mercadorias catalogadas.
A startup, então, se encarrega de inserir os anúncios nos diferentes sites do comércio eletrônico em que está presente. Todos os anúncios ficam debaixo do nome da Olist, que se encarrega de atender o consumidor final - a cada dia, a empresa recolhe os produtos encomendados com os lojistas, que têm apenas o trabalho de emitir a nota fiscal e imprimir a etiqueta de envio. A curitibana também cuida da parte de entrega, por meio de parcerias com empresas de logística, e da parte de pós-venda.
"Centralizamos os processos para construir reputação, algo que pode levar muito tempo para cada lojista construir sozinho em cada plataforma. Conosco, é algo quase instantâneo e que ajuda a vender muito mais rápido", disse o presidente executivo da Olist. Para faturar, a empresa cobra uma comissão de cerca de 20% sobre as vendas que ajuda a realizar. Além disso, há uma taxa de "configuração" de cada estabelecimento, na casa de R$ 450, e uma assinatura mensal cobrada dos lojistas, entre R$ 50 e R$ 100. "Quem vende mais, paga mais, mas a ideia é gerar benefícios para todos", explicou Dalvi.
Com os valores recebidos nesta rodada, a Olist pretende fortalecer sua operação no Brasil, conectando mais de 100 mil lojistas à sua plataforma nos próximos dois anos. "Aumentar a base de lojistas é o maior desafio da empresa, porque exige novos canais de venda", disse Felipe Matos, empreendedor e autor do livro 10 Mil Startups. "Por outro lado, há possibilidade de criar novos produtos para esses clientes, como ferramentas de crédito e gestão."
Para transformar a meta em realidade, a empresa pretende expandir seu time. Hoje, tem aproximadamente 300 funcionários - dois terços deles ficam em Curitiba. Em São Paulo, a Olist tem 15 pessoas na área comercial. "Queremos chegar a 70 no ano que vem", disse Dalvi. A companhia tem hoje 100 vagas abertas. Mas a expansão do quadro deve se acelerar: até o fim de 2020, quer atingir 900 funcionários.
Aporte ressalta força do ecossistema de Curitiba
Apesar da fundação recente, a história da Olist é um pouco mais longa do que parece. Nascido em Londrina e formado em administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Tiago Dalvi começou a empreender quando tinha 19 anos, abrindo uma loja num shopping. Depois, criou uma distribuidora e, após fracassar, um site que buscava aproximar artesãos dos consumidores. Era a Solidarium, que chegou a ter 15 mil parceiros, mas não tinha um modelo de negócios ajustado.
Quando esteva perto de quebrar, Dalvi passou pelo programa de aceleração da americana 500 Startups e mudou a cara da startup, que se transformou na Olist. "A gente sentiu que precisava se reinventar. Foi fundamental para chegar onde estamos hoje", diz.
Para especialistas ouvidos pelo Estado, o aporte do SoftBank na Olist é uma amostra do fortalecimento do ecossistema de Curitiba - o grupo japonês já apostou na paranaense MadeiraMadeira, que vende materiais de construção. Enquanto isso, empresas como Pipefy e Ebanx receberam grandes aportes nos últimos meses. Esta última, que processa pagamentos para empresas estrangeiras, tornou-se na semana passada o primeiro unicórnio da Região Sul, conforme adiantou o Estado na semana passada.
"É uma cidade que tem empreendedores mais maduros e grandes centros de formação", disse Lima, da Ace. Para Pinho, da ABStartups, aportes como esse são apenas o começo. "Caras como o Tiago estão formando exemplos para que uma nova geração de startups surja por lá."