Startup Galena levanta US$ 16 mi para expandir 'trainee' digital
Com investidor inédito que chega ao Brasil, empresa de educação conta com nomes conhecidos do setor para preparar jovens talentos para mundo corporativo
A startup de educação Galena, de preparação de estudantes de escola pública para trabalhar em grandes empresas, anuncia nesta quarta-feira, 13, que levantou uma rodada de US$ 16,3 milhões, do tipo série A. Esse é o primeiro grande aporte formal recebido pela empresa, que espera expandir seu serviço pelo Brasil.
O cheque contou com a estreia do fundo americano Altos Ventures no Brasil, gestora localizada no Vale do Silício e responsável por já ter investido no Roblox, empresa americana dona do game infantil de mesmo nome. O movimento reforça a chegada de novos investidores ao País, que vem registrando recordes de aportes estrangeiros em startups brasileiras.
"Para nós, esse cheque vai permitir investir em tecnologia e em pessoal na Galena. Mas também é a validação de um fundo estrangeiro qualificado que aceita investir em nós", explica ao Estadão o empresário Guilherme Luz, presidente executivo e fundador da startup ao lado de Eduardo Mufarej (criador do programa Renova Brasil, de treinamento de lideranças políticas) — este é o terceiro projeto conjunto dos dois empreendedores, que criaram a Tarpon e Somos Educação. "É um aporte que teve esses dois sabores para nós."
Também participaram da atual rodada Exor N.V. (acionista da Ferrari, Juventus e The Economist), Owl Ventures, Reaction e Globo Ventures. Como pessoa física, participaram David Velez (fundador e atual presidente global do Nubank), Kevin Efrusy (investidor de QuintoAndar, Olist e Nuvemshop), Dan Rosensweig, o economista Armínio Fraga (ex-Banco Central) e Romero Rodrigues (cofundador do Buscapé).
A startup, fundada ao final de 2020, já havia levantado em março de 2021 outros US$ 7,3 milhões em rodada do tipo semente, quando os cheques vêm com intuito de testar o modelo de negócio.
A fórmula parece ter dado certo: há duas semanas, a Galena viu começar sua terceira turma de estudantes, todos de escola pública e recém-saídos do Ensino Médio, público-alvo do treinamento. Ao todo, já são 408 alunos em curso pelo Brasil, e há o objetivo de formar 50 mil em cinco anos.
Para começar o curso, os alunos recebem um notebook e conexão de internet. Em seguida, ao longo de quatro meses com oito horas diárias em videoconferência, eles aprendem a trabalhar habilidades socioemocionais ("soft skills"), a lidar com ferramentas corporativas (como planilhas e agenda compartilhada, por exemplo) e até a dominar jargões do mundo dos negócios. As tarefas são em grupos e em tempo real, sem videoaulas gravadas.
Terminado o programa, os estudantes começam a pleitear vagas juniores em grandes empresas, como nas áreas de vendas e sucesso dos clientes. Atualmente, o portfólio de parceiras da Galena é bastante variado, indo de startups (Nubank, iFood, Stone, QuintoAndar e Cora) a nomes tradicionais (Unilever, Itaú e Dell).
"A escola não prepara o jovem para a prática do trabalho e a maioria das pessoas não transita para esse mundo de forma natural", aponta Luz. Para ele, é preciso "resgatar" esses estudantes que têm potencial, mas não estão inteiramente aptos para o mercado. "Não podemos desperdiçar esses talentos por falta de oportunidade ou apoio."
Realizada a contratação em regime CLT e com salário superior a R$ 2 mil mensais, os ex-alunos da Galena devem iniciar o pagamento do curso que fizeram, podendo pagar à vista (R$ 3,5 mil) ou em até 24 parcelas que totalizam R$ 7,5 mil. O modelo é similar ao que faz a Provi, que financia cursos da área de tecnologia (como programação) a estudantes que, após contratados, iniciam o pagamento das parcelas.
"Esses jovens estão em condições financeiras melhores do que estavam antes, porque estão empregados. Além disso, eles conseguem ser promovidos nessas grandes empresas e, nesse meio-tempo, o financiamento ajuda a trazer novos estudantes para a Galena", explica Luz.