Startups brasileiras oferecem serviço de 'Uber de garçom'
Aplicativos como a Closeer e a My Staff conectam profissionais a estabelecimentos; empresas não têm vínculo trabalhista com os prestadores de serviço
A era dos aplicativos tornou muito mais fácil requisitar serviços profissionais na palma da mão: já é assim com serviços de motorista, faxina e até mesmo faz-tudo. Agora, essa ideia chegou aos garçons: no Brasil, startups já oferecem a restaurantes profissionais temporários, selecionados por meio de filtros criados com tecnologia, atendendo os estabelecimentos de acordo com a demanda desejada.
A startup Closeer, que oferece esse tipo de serviço, começou a operar em junho de 2018 e diz que já recebeu R$ 700 mil de investimento. Segundo Walter Vieira, presidente executivo da empresa, a ideia surgiu da dor de dois sócios da Closeer, que trabalharam durante muitos anos no mercado de restaurantes e conviveram com a dificuldade de contratação de garçons. "Agora, quando o estabelecimento precisa de um garçom para atender uma demanda muito alta, como na noite de um sábado, é possível usar nosso app para solicitar um profissional", explica Vieira.
O aplicativo da Closeer funciona com um algoritmo semelhante ao da plataforma do Uber. Primeiro, o restaurante informa o perfil de profissional que ele quer: se precisa de um homem ou uma mulher, se o garçom precisa falar inglês, o horário de trabalho necessário, entre outras descrições. Depois de enviada a oferta, o algoritmo pesquisa em sua base e gera uma lista de com os nomes dos profissionais que mais se adequam ao pedido do estabelecimento - aqui, alguns critérios são levados em consideração, como geolocalização, experiência e a avaliação do trabalho do garçom registrada pelo app. A oferta é direcionada para o primeiro da lista, que tem até cinco minutos para aceitar o trabalho e, se ele não topar, o próximo da fila recebe a notificação.
A Closeer estabelece que os garçons devem ganhar no mínimo R$ 17 por hora de trabalho. Para usar a plataforma, os restaurantes também pagam uma assinatura de R$ 90 por mês. A Closeer recebe 15% do valor pago ao profissional - o garçom não precisa pagar pelo uso do serviço. Depois de um ano de mercado em São Paulo e mais de 400 mil profissionais cadastrados no aplicativo, a empresa expandiu nos últimos meses sua atuação para Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O plano é terminar 2019 com 20 funcionários - hoje, a startup tem apenas seis pessoas na equipe.
Para além dos garçons
Esse mercado não se restringe à contratação de garçons. A startup My Staff também conecta bartenders, cozinheiros, recepcionistas e auxiliares de faxina para restaurantes e baladas. O aplicativo oferece até serviço para quem quer dar uma festa dentro de casa - já existem mais de 8 mil profissionais cadastrados na plataforma, que foi lançada em setembro do ano passado.
Diferentemente da Closeer, que usa um algoritmo, a MyStaff oferece aos usuários um mecanismo de busca para seleção de profissionais. Os estabelecimentos não pagam assinatura na My Staff - é cobrada apenas uma taxa de 16% sobre o salário do prestador de serviço.
"A longo prazo, acredito que o aplicativo vai melhorar a qualidade da prestação de serviço, já que existem classificações dos profissionais na plataforma com base em comprometimento, simpatia, atenção e pontualidade", afirmou Fernando Gaudio, presidente executivo da My Staff, em entrevista ao Estado.
Trabalho
Essas startups não herdam somente o lado inovador do Uber: assim como a empresa do Vale do Silício, elas também convivem com questões trabalhistas. Seja nos EUA ou no Brasil, o Uber e outros aplicativos de transporte tem sido acionados na Justiça por suposto vínculo empregatício dos parceiros. Tanto a Closeer quanto a My Staff seguem a mesma linha, dizendo não têm ligação empreagatícia com os profissionais.
A Closeer afirma há medidas no app para proteger os contratantes: o algoritmo não permite, por exemplo que um funcionário trabalhe em um mesmo estabelecimento duas vezes na semana. Já a My Staff reforça seu papel de conexão entre o restaurante e o profissional. "Há uma alta taxa de desemprego no País, e tem muita oportunidade que não está sendo preenchida por falta dessa ponte", afirma Gaudio.
*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas