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Startups de investimentos 'correm por fora' em mercado aquecido

Briga entre XP e Itaú e mínima histórica da taxa Selic impulsionam setor; nesta quarta, Magnetis anuncia aporte de R$ 60 milhões liderado pela Redpoint eventures

29 jul 2020 - 05h11
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Nos últimos anos, o surgimento de corretoras e a redução da taxa de juros básica, a Selic, levaram muitos brasileiros a sair da caderneta de poupança pela primeira vez, apostando em aplicações como Tesouro Direto, fundos multimercado ou até em ações. Essa tendência se tornou ainda maior nos últimos meses, com o Banco Central levando à Selic à sua mínima histórica, a ponto de XP Investimentos e Itaú entrarem numa briga fraterna pelos ativos dos clientes. Mas este é um setor que não está sendo disputados só por bancos e corretoras: com apoio da tecnologia, muitas startups também prometem ajudar o brasileiro a fazer seu pé de meia. Uma delas, a Magnetis está anunciando nesta quarta-feira, 29, uma nova rodada de aportes de R$ 60 milhões.

Fundada em 2015 por Luciano Tavares, a empresa usa tecnologia para indicar aos seus clientes a melhor carteira de investimentos possível. Para isso, antes de colocar qualquer centavo em sua conta na startup, o potencial investidor deve responder um questionário falando sobre sua personalidade (é conservador ou arrojado?) e sobre seus planos - se a ideia é poupar para se aposentar ou para comprar uma casa. Com os dados em mãos, a empresa é capaz de direcionar os melhores investimentos para o cliente, em diferentes produtos, que vão do Tesouro Direto e CDB até ações e fundos multimercado, por exemplo.

Ajuda

"Com a tecnologia, nós conseguimos oferecer para qualquer pessoa um tipo de gestão que só está disponível para quem tem um patrimônio muito grande, na casa de R$ 50 milhões", explica Tavares, em entrevista exclusiva ao Estadão. Em vez de uma taxa de comissão sobre os ganhos, a empresa cobra dos usuários uma taxa de administração sobre o montante investido - de 0,6% ao ano. Até aqui, a empresa sempre funcionou com parcerias com corretoras. Após a rodada de aportes, liderada pelo fundo de investimentos Redpoint eventures, vai também passar a ter sua própria corretora. "Nossa ideia é controlar a experiência do cliente de ponta a ponta", afirma o executivo.

A empresa também vai utilizar os recursos da rodada para investir em tecnologia e em sua expansão: hoje, a empresa tem cerca de 100 funcionários e cuida de R$ 430 milhões em ativos, com cerca de 6 mil clientes. O mínimo necessário para abrir uma conta na Magnetis é de R$ 1 mil, embora Tavares afirme que atenda clientes com patrimônio de até R$ 1 milhão. Impulsionada pelos recursos do aporte, a Magnetis pretende chegar ao final de 2020 com 130 pessoas em sua equipe.

Em 12 meses, quer mais que dobrar a quantidade de ativos sob gestão, chegando a R$ 1 bilhão. "Serviços como o nosso são bastante adequados ao cenário de juros baixos e instabilidade, no qual é preciso ter uma carteira bem diversificada. Fazer isso é complicado, mas nós podemos ajudar", diz o executivo. "No começo da crise, ali para março, a bolsa chegou a ter queda de 40% em algumas semanas. No mesmo período, nosso cliente com a carteira mais arrojada perdeu cerca de 14%. Uma carteira diversificada ajuda na proteção."

Para Anderson Thees, sócio do Redpoint eventures, um dos motivos que levou ao aporte na Magnetis é a justamente o timing do cenário de aplicações e investimentos no País. "O brasileiro está precisando aprender rápido a investir porque o comodismo com a renda fixa evaporou", afirma. "Por outro lado, o mercado de capitais não é trivial e para nós faz sentido ter um profissional na gestão de carteira, sem ficar na roleta russa de escolher ações uma a uma."

Conflito

Quem também aposta no uso de tecnologia para fazer uma gestão de carteira mais assertiva é a startup Warren, que levantou uma rodada de R$ 120 milhões liderada pelo fundo QED, que também já fez cheques para unicórnios como Nubank, Loft e QuintoAndar. Fundada pelo ex-XP Marcelo Maisonnave e por Tito Gusmão, a empresa tem um sistema de funcionamento similar ao da Magnetis: o usuário responde um questionário com planos e personalidade e, a partir disso, o robô de investimentos da empresa elabora uma carteira para ele, cobrando comissão de 0,5% ao ano sobre o patrimônio investido. As aplicações podem ser no mercado ou também em produtos financeiros da Warren, que também tem seus fundos próprios.

"A taxa de juros Selic tá em 2,25%. Antes, você podia ser ineficiente com o teu dinheiro, mas agora não dá mais", diz Gusmão, que pretende usar o aporte para expandir em três frentes. A primeira é contratação: a meta é chegar ao final de 2020 com 350 funcionários; hoje, são 285 pessoas. O foco do recrutamento será a área de tecnologia. Segundo o executivo, hoje a Warren tem 140 mil clientes e R$ 2,5 bilhões em ativos geridos. Até o final do ano, a meta é chegar a R$ 5 bilhões.

Para isso, a empresa investe também em parcerias com consultores de investimentos, que usam a plataforma da Warren para auxiliar quem deseja aplicar. "Nem todo mundo quer ser digital, às vezes é preciso falar com um humano", diz o executivo. Muitos desses consultores trabalhavam, antes da pandemia, em agências físicas da Warren, presentes em sete cidades das regiões Sul e Sudeste do País. Com o aporte, a meta é chegar a 12 espaços. "Esses consultores não tem conflito de interesses: eles cobram, assim como nós, uma comissão sobre o total do investimento, tendo o compromisso de apostar no que é o melhor para a pessoa", diz.

A frase faz sentido em meio à briga entre Itaú e XP - o banco acusa a corretora de, ao usar o modelo de agentes autônomos, não agir no interesse dos clientes. Isso porque os agentes autônomos da plataforma da XP recebem comissões para indicar determinados produtos financeiros, o chamado "rebate". Assim, é fácil imaginar que um agente vai indicar um produto pelo qual ele ganha mais, mas que não seja necessariamente melhor para o investidor. É algo que Warren e Magnetis dizem ser contra. Mas a briga ajuda. "O conflito entre as duas empresas nos ajudou muito, chamou atenção para o que fazemos", diz Gusmão.

Competição

Nem todas as startups de investimentos, porém, se colocam nessa posição. É o caso da Gorila Investimentos, criada em 2016 por Guilherme Assis, um dos fundadores do fundo Iporanga (Loggi, Olist, QueroEducação). "Somos uma ferramenta de controle e consolidação de investimentos, com educação financeira, ajudando o investidor a entender o que cada letrinha de um produto significa", diz Assis. A empresa se divide em duas frentes: tem um app para pessoas físicas, que é gratuito, e uma plataforma para auxiliar agentes autônomos a administrarem as aplicações de seus clientes - a startup fatura com a venda da licença do software, dependendo do valor investido e da quantidade de clientes de cada agente.

No ano passado, a empresa levantou um aporte de R$ 35 milhões com o Ribbit Capital, fundo do Vale do Silício especialista em fintechs. Os recursos ajudaram a empresa a chegar à marca de 200 mil clientes do app gratuito e 100 clientes da plataforma de investimentos - ao todo, R$ 30 bilhões estão dentro do Gorila, que não funciona como corretora ou gestora. Para Assis, a discussão sobre conflito de interesses não se esgotará nunca. "É algo inerente a qualquer atividade de distribuição. O que podemos fazer é mitigar esse conflito com o aumento da competição", diz. "É diminuir as margens e melhorar o serviço, e nós queremos fazer ambos."

Estadão
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