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Por que Elon Musk está interessado no Brasil?

País tem áreas que podem ser estratégicas para negócios do bilionário, como a base de Alcântara para lançamento de foguetes

20 mai 2022 - 15h32
(atualizado às 16h07)
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Brasil é um parceiro estratégico para Musk expandir suas companhias
Brasil é um parceiro estratégico para Musk expandir suas companhias
Foto: REPRODUCAO/TWITTER / Estadão

Em visita ao Brasil nesta sexta-feira, 20, o bilionário Elon Musk, cujo patrimônio beira os US$ 250 bilhões, prometeu conectar 19 mil escolas em áreas rurais por meio da Starlink, serviço de internet via satélite.

Esse, porém, está longe de ser a única área de interesse do bilionário. O portfólio de companhias dele é vasto: além da Starlink, ele tem uma montadora de carros (Tesla), uma empresa de exploração espacial (SpaceX) e até projetos de trens de alta velocidade. Tudo isso torna o Brasil um parceiro estratégico não apenas como mercado consumidor, mas também como fornecedor de materiais e prestador de serviços. Abaixo, veja alguns motivos para Musk estar "atento" ao Brasil.

Internet

Levar internet para regiões desconectadas é um projeto antigo de Musk e talvez um dos mais famosos quando se fala em Brasil. Não à toa, "conectar a Amazônia" foi o motivo divulgado publicamente para a visita de Musk ao Brasil nesta sexta. O bilionário foi ao Twitter afirmar que cerca de 19 mil escolas em áreas rurais terão conectividade à banda larga por meio da Starlink.

A Starlink, braço da companhia de exploração espacial SpaceX, é especializada em colocar satélites em baixa órbita, de cerca de 500 km a 2 mil km de altitude. Por meio deles, a companhia vende conexão de internet, o que permite "conectar" florestas e desertos — o modelo torna-se atraente para esse tipo de região, já que o cabeamento de fibra das operadoras de telefonia, visto nas grandes cidades, não costuma chegar a lugares remotos devido ao alto custo de infraestrutura. A promessa de Musk é colocar 42 mil desses satélites em órbita.

Em janeiro passado, a Starlink recebeu aprovação da Anatel para operar no Brasil até 2027. Os preços do serviço variam, a depender do modelo: a assinatura mensal sai por US$ 110, enquanto o kit (com antena, roteador e cabos) é vendido por US$ 600 (cerca de R$ 3 mil). A promessa é de até 500 Mb/s de velocidade.

Tesla

Quando se trata de indústria automobilística, o Brasil é um dos maiores mercados do mundo e está entre os dez maiores produtores, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Ainda assim, a Tesla, a montadora mais valiosa do mundo, não tem escritórios por aqui.

Entusiastas da marca, por exemplo, importam os veículos e arcam com custos de manutenção que totalizam US$ 1,2 milhão — apenas para ter os carros elétricos da companhia de Musk.

Para o bilionário, trazer a Tesla para o Brasil pode abrir não só um novo mercado (e facilitar negócios com outros países da América Latina), mas também impulsionar a infraestrutura de carros elétricos no País. Isso porque é preciso ter potentes carregadores de veículos elétricos em estacionamentos de casas, prédios e outros locais (como shoppings).

Além disso, assim como fazem outras montadoras, também pode ser erguida uma fábrica local — atualmente, a Tesla possui fábricas apenas na China, Alemanha e Estados Unidos. Em 2020, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou interesse em abrir uma fábrica da montadora no Brasil, mas o assunto não foi retomado.

Base de Alcântara

Um dos locais de maior atratividade no Brasil para Musk é o Centro de Lançamento de foguetes de Alcântara (CLA), no Maranhão. A região, que fica próximo da linha do Equador, é um dos campos de decolagem mais visados entre empresas e agências do setor aeroespacial. As condições favoráveis, que incluem a trajetória de lançamento e a distância da órbita terrestre, resultam em economia de combustível.

Os foguetes lançados de lá entram em órbita mais rapidamente, por conta da maior velocidade de rotação da Terra em pontos mais próximos à linha do Equador. Para a SpaceX, que se notabilizou por reduzir os custos de viagens espaciais, uma futura parceria poderia ser vantajosa. Até o momento, a empresa conta com uma base no Texas e um local de lançamento na Flórida, utilizado em parceria com a Nasa.

Ao comentar a visita de Musk ao País para o Estadão, um oficial do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial disse acreditar que o interesse no Brasil está conectado à base de Alcântara. Ele afirmou ainda que o interesse de Musk é bem vindo, desde que não inclua construir uma base própria da SpaceX nos arredores de Alcântara.

O governo Bolsonaro já sinalizou a autorização para que empresas privadas do mundo inteiro possam utilizar a base. Em 2019, durante visita aos EUA, o presidente Jair Bolsonaro firmou um acordo com o então líder americano, Donald Trump, para que se pudesse fazer uso comercial do centro. Na época, o acordo poderia render uma economia de cerca de US$ 260 bilhões por ano para o governo americano.

Para o Brasil, porém, os ganhos nunca foram divulgados, mas estima-se que o aluguel por missão na base de Alcântara possa passar dos R$ 150 milhões. Atualmente, empresas como Virgin Orbit, C6 Launch, Hyperion e Orion Ast possuem contrato com o governo brasileiro para utilizar a base.

Hyperloop

Por aqui, outro projeto de Musk que pode se dar bem é o Hyperloop, uma espécie de trem de alta velocidade construído pela The Boring Company, outra aposta do bilionário. O Hyperloop tenta construir um sistema modal que usa a velocidade de um avião em meio terrestre, com estações parecidas com a de um monotrilho - funcionaria tanto para o transporte de cargas quanto de passageiros, com velocidade de até 1,2 mil km/h.

Em 2018, uma das empresas que tenta trabalhar o conceito de Musk, a HyperloopTT, anunciou a construção de um centro de pesquisa da empresa em Contagem, Minas Gerais, que viria acompanhada de um investimento inicial de R$ 26 milhões e a promessa de trazer o veículo para terras mineiras.

Em 2021, a ideia chegou ao Sul do Brasil. Em um estudo em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a companhia demonstrou que seria viável construir uma via ligando Caxias do Sul a Porto Alegre. As duas cidades estão separadas por cerca de 125 km no Rio Grande do Sul.

Embora tenha divulgado a pesquisa, ainda não há nenhuma indicação que a via será construída entre as cidades. De acordo com os entusiastas, um dos objetivos de Musk poderia interligar São Paulo e Rio de Janeiro, em uma viagem com duração de aproximadamente 20 minutos.

Em janeiro deste ano, a HyperloopTT recebeu um investimento do EGA Group, empresa de transporte de containers que atua no Brasil. A parceria entre as empresas quer construir cápsulas para transporte de cargas, chegando a movimentar 2,8 mil contêineres por dia.

De qualquer forma, o projeto do Hyperloop teria um longo caminho a percorrer, já que não existem linhas comerciais no mundo e operação. Recentemente, a Boring Company finalizou a perfuração de um dos túneis planejados para Las Vegas. No projeto, chamado Vegas Loop, a intenção é criar uma via de cerca de 46 km ligando diversos pontos de Las Vegas por meio de 50 paradas ao longo do trajeto.

Lítio

Musk nunca declarou publicamente interesse sobre mineração no Brasil - e nem há informações sobre projetos de exploração mineral do bilionário por aqui. Ele, entretanto, já deixou claro que sabe que a América Latina é rica no metal, que é um dos principais componentes de baterias elétricas — como as que a Tesla usa em seus veículos. Somadas, Bolívia e Argentina possuem cerca de 70% das reservas mundiais de lítio. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), em relatório de 2021, o Brasil tem a sétima maior reserva de lítio no mundo.

Em 2020, o bilionário fez barulho no Twitter ao afirmar, sarcasticamente, que os Estados Unidos poderiam dar um golpe de Estado na Bolívia para que a Tesla tivesse acesso ao lítio da região. Durante os atos em favor do retorno de Evo Morales à presidência da Bolívia, um seguidor rebateu o bilionário sobre o assunto, afirmando que não era de interesse público que os EUA organizassem um golpe para que a Tesla pudesse obter o mineral no país.

O tuíte com a resposta de Musk, que foi deletado após a polêmica, dizia: "podemos dar um golpe em quem a gente quiser. Lide com isso". Após a declaração, o empresário se retificou, afirmando que o lítio utilizado pela Tesla vinha da Austrália, e não da América Latina.

No encontro realizado com o presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, 20, o empresário afirmou que não tem interesse, no momento, na reserva de nióbio brasileira. De acordo com o bilionário, a Tesla precisa avançar mais seus estudos até tornar viável que suas baterias sejam construídas com o minério. O Brasil possui, hoje, a maior reserva de nióbio do mundo, localizada, na sua maior parte, no Estado do Amazonas.

Estadão
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