Temer diz que Lava Jato tentou quebrá-lo psicologicamente
Em entrevista no programa Roda Viva, ex-presidente diz que acusação que envolve sua filha, Maristela, é maneira de intimidá-lo
SÃO PAULO - Em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, o ex-presidente Michel Temer disse que sua prisão, em março, não seguiu o devido processo legal e que a força-tarefa da Operação Lava Jato tenta "quebrá-lo psicologicamente" ao envolver sua filha, Maristela, na acusação em que responde por lavagem de dinheiro. Ele negou as acusações e disse que a filha vai demonstrar "cabalmente" no processo que não recebeu dinheiro.
"Depois que tentaram me derrubar do governo, e não conseguiram, tentam me quebrar psicologicamente envolvendo a minha filha", disse o ex-presidente, ao comentar as acusações. No caso, conhecido como "Quadrilhão do MDB", o Ministério Público Federal acusou Temer, Maristela, seu amigo João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, e a esposa dele, Maria Rita Fratezi, de lavar R$ 1,6 mihão de origem supostamente ilícita. A acusação diz que coronel Lima teria pago por reformas na casa de Maristela.
"O coronel João Baptista Lima Filho não pagou por essa reforma", rebateu Temer, no programa.
Segundo o MPF, o MDB teria arrecadado propina da construtora Engevix para que a empresa assumisse obras da usina nuclear de Angra 3. A propina, segundo a acusação, teria sido paga através de uma empresa do coronel Lima e gasta nas reformas da casa.
O presidente ainda disse que a prisão foi decretada sem que ele fosse ouvido no processo. "O juiz pegou aquilo e, sem indiciamento, sem denúncia, acolhimento de denúncia, sem ouvir o acusado, mandou decretar a prisão", disse. A prisão foi decretada em março pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio. "Se acontece comigo, você pode imaginar o que pode acontecer com o cidadão comum."
Lula poderia ter evitado impeachment, diz ex-presidente
Em entrevista à bancada de jornalistas, Temer comentou o impeachment de Dilma Rousseff e a divulgação dos grampos dela com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mesmo dia em que era esperada sua nomeação para a chefia da Casa Civil do governo Dilma. Temer disse acreditar que, caso Lula assumisse o cargo, é "muito provável" que o impeachment não tivesse ocorrido. Lula foi posteriormente condenado e preso na Lava Jato.
"Se ele (Lula) fosse chefe da Casa Civil, é muito provável - ele tinha bom contato com o Congresso Nacional - que não se conseguiria fazer o impedimento, não se conseguiria fazer o impeachment", disse Temer. "Disso, eu não tenho dúvida."
A posse acabou suspensa pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, após o juiz Sergio Moro divulgar uma conversa em que Dilma dizia a Lula que enviaria o termo de posse para o ex-presidente - o que foi interpretado, à época, como uma tentativa de impedir uma eventual do petista.
Temer ainda reiterou que não participou na articulação do impeachment de Dilma, em 2016. Ele disse que era simpático a uma aproximação com a então presidente e com Lula, mas que não havia apoio no MDB para seguir com uma sustentação do governo PT.
"Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo 'golpe'", disse Temer. "Eu não poderia ser o articulador de um golpe porque chegaria muito mal no governo."
O ex-presidente comentou uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que mostrou uma conversa entre ele e Lula, gravada no mesmo dia em 2016. No telefonema, segundo o jornal, Lula pedia reaproximação entre o governo e o MDB, e Temer responde que eles sempre tiverem "bom relacionamento". Segundo Temer, a gravação seria prova de que ele teria trabalhado para a permanência da presidente no cargo.
Temer admite que sua relação com Dilma piorou a partir da publicação do documento "Ponte para o Futuro", com uma agenda de desenvolvimento para o País. Segundo ele, o gesto da publicação do material foi mal interpretado.
"Nós apresentamos como colaboração ao governo", justificou. "Nossa ex-presidente, por razões que eu não consigo ententeder, achou que aquilo era um gesto de oposição, e aí de fato ela se afastou definitivamente de mim."