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The Economist: Na Nicarágua, Daniel Ortega se aferra ao poder

Líder que comandou a guerrilha nos anos 1970 se sustenta mesmo após rebelião de opositores e repressão do governo arruinarem economia do país

10 set 2018 - 05h12
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Há dois meses a agitação tomou conta de Monimbó, um bairro da cidade de Masaya, a sudeste de Manágua, na Nicarágua. Opositores do autoritário presidente Daniel Ortega assumiram o controle da cidade. Barricadas guardadas por homens mascarados defendiam a região contra as forças do governo.

O controle da oposição, que durou pouco, foi o auge de uma rebelião generalizada contra Ortega em que 320 pessoas morreram. Monimbó foi a primeira localidade a se insurgir contra a ditadura de Somoza, que Ortega conseguiu derrubar em 1979. Em julho, ela foi a última a cair quando as forças paramilitares do próprio Ortega retomaram Masaya.

Agora o bairro parece calmo. Os limpadores de rua, que retornaram ao trabalho, varrem as ruas enquanto a polícia os observa. Jovens, que lideraram a luta, "partiram todos", diz um lojista. Muitos se juntaram aos 23 mil nicaraguenses que buscaram asilo na Costa Rica.

A rebelião que durou quatro meses e a repressão do governo arruinaram a economia da Nicarágua, mas o autocrata se mantém firme no poder, pelo menos no momento. A economia nicaraguense era uma das mais robustas da América Central, com um crescimento anual de 5%.

Neste ano o Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher em quase 6%. No segundo trimestre, a mão de obra formal diminuiu em um décimo. O turismo, que responde por 5% do PIB, despencou. Numa sexta-feira recente, o número de cães sem dono nas ruas era maior do que o de turistas em Granada, um resort à margem do lago. Cerca de US$ 1 bilhão, o equivalente a 8% do PIB, saiu do país, fragilizando os bancos.

Apesar do colapso, a contestação ao regime arrefeceu. Ela começou em abril como um protesto contra cortes das aposentadorias, revertidos em seguida pelo governo. Mas rapidamente o protesto se transformou em manifestação de cólera contra a subversão da democracia desde 2007, quando Ortega retornou ao poder depois de uma ausência de 17 anos.

Manipulou eleições, dissolveu partidos da oposição e aboliu os limites do mandato presidencial. No ano passado ele nomeou sua mulher, Rosario Murillo, como sua vice-presidente. Muitos empresários importantes do país, que constituíam sua base de apoio, respaldaram a demanda popular para as eleições serem realizadas no próximo ano, não em 2021. A força parecia estar do lado dos manifestantes.

Isso mudou quando soldados paramilitares mataram 16 pessoas em uma manifestação pacífica, em 30 de maio, Dia das Mães na Nicarágua. O setor privado entrou em pânico. Mas Ortega não. Grupos armados leais ao regime assumiram o controle das universidades e cidades controladas pelos dissidentes. Gangues invadiram propriedades de críticos do regime. O Exército apenas observava.

E o governo vem perseguindo seus opositores, que se defrontam com "o exílio, a prisão ou a morte", dizem porta-vozes de Ortega. Durante a rebelião, Conselhos do Poder Cidadão - redes de espionagens no estilo cubano - anotaram os nomes dos agitadores.

Agora, a polícia vem enviando alguns para prisões clandestinas, onde são torturados. O governo demitiu 135 médicos que trataram dissidentes feridos. Apenas os manifestantes mais obstinados participam de demonstrações esporádicas que ainda são realizadas. "Eu ia a todas elas, mas agora me sinto anestesiado", disse um dissidente.

O desespero pode se transformar em cólera novamente à medida que a situação piora. A imagem arruinada do regime deve desencorajar os investidores. Muitos nicaraguenses de talento partiram do país. A Venezuela, que forneceu US$ 4 bilhões de ajuda nos últimos dez anos, deixou de financiar a Nicarágua já que a própria economia está desmoronando. Em julho, o governo Ortega aprovou um orçamento reduzindo os gastos em quase 10%, o dobro do corte realizado após a crise financeira global. Projetos como o de construção de estradas serão cancelados, com a perda de postos de trabalho no setor de construção.

E ele deve aprovar os cortes das pensões, mas isso não será suficiente para acabar com o enorme déficit do sistema previdenciário. O regime está desesperado com a falta de recursos. Levantou empréstimos de curto prazo para fornecer liquidez para os bancos e pretende emitir novos títulos, embora não esteja claro quais investidores estrangeiros vão comprá-los.

Ortega pode procurar substituir o apoio venezuelano por uma ajuda financeira da Rússia ou da China, cujo governo comunista a Nicarágua não reconhece. Sem auxílio externo, ele terá dificuldade para continuar com os benefícios para seus eleitores pobres, como os "microcréditos", em troca de votos.

A classe média voltou-se definitivamente contra ele. Um morador de Manágua disse que os filhos mais jovens de Ortega já não são mais vistos nos bares ou supermercados da capital. Ortega pode ficar mais tranquilo ao comparar sua situação com a de Nicolás Maduro, que se mantém no poder mesmo com a contração de 40% da economia do país desde 2013. Como Maduro, Ortega é um presidente muito impopular e neste momento irremovível. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

© 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Estadão
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