Três testemunhas acusam Flordelis no 1º dia de julgamento pela morte de pastor
Delegada revelou que encontrou provas do crime queimadas na casa da família da pastora e ex-deputada
Primeira testemunha ouvida no início do julgamento da pastora e ex-deputada federal Flordelis, acusada pela morte do pastor Anderson do Carmo em 16 de junho de 2019, a delegada Bárbara Lomba afirmou em depoimento nesta segunda-feira, 7, que provas do crime teriam sido queimadas no quintal da casa onde a família morava, em Pendotiba, em Niterói (RJ).
Segundo Lomba, os policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói, onde era lotada à época do crime, encontraram apenas cinzas no terreno da casa da família durante as buscas por pistas do assassinato.
Ao depor no primeiro dia do julgamento, a policial também contou que os celulares da vítima, da ex-parlamentar e de Flávio dos Santos, filho biológico da ex-parlamentar, autor dos disparos contra Anderson, desapareceram.
Um dos advogados de defesa de Flordelis, Rodrigo Faucz, tentou contestar um aspecto da investigação da Polícia Civil, envolvendo as tentativas fracassadas de envenenar Anderson do Carmo. O defensor mostrou que, segundo o inquérito, a pastora fez pesquisas sobre venenos, na internet, em 2019, depois que, em 2018, o pastor fora internado em decorrência de tentativas de envenenamento.
Faucz disse que não faria sentido pesquisar sobre meios de envenenamento depois de supostamente já ter envenenado o alvo. "Vai ver ela (Flordelis) queria envenenar mais alguém", ironizou Bárbara Lomba. Segundo ela, o fato de ter havido pesquisa posterior não invalida a acusação de envenenamento.
Apesar da afirmação da delegada, após o depoimento da policial o advogado de Flordelis demonstrou confiança na absolvição de seus clientes no caso. "Não tem nada que acuse diretamente a Flordelis e os demais. O que eles (a acusação) têm são apenas achismos, indícios não comprovados. Com isso, vai ser muito difícil eles conseguirem provar a responsabilidade dos meus clientes. Inexiste prova, até porque não foram eles (que cometeram o crime)", afirmou.
A promotoria perguntou à ex-titular da especializada se Flordelis, ao depor na delegacia, teria relatado ter sido agredida pelo pastor. Segundo Bárbara, a ex-deputada disse que a relação com o marido era excelente. A ex-deputada teria dito que nunca sofreu nenhum tipo de intimidação.
A segunda testemunha ouvida no primeiro dia do julgamento foi o delegado Alan Duarte, que 24 de janeiro de 2020 assumiu a investigação do caso, substituindo a delegada Bárbara Lomba. Duarte foi responsável pela conclusão do inquérito e por imputar a Flordelis a prática do homicídio. Em seu depoimento perante o Tribunal do Júri no Fórum de Niterói na Região Metropolitana do Rio, Duarte narrou sua parte na investigação e afirmou estar certo de que a pastora foi responsável pelo crime.
Segundo o delegado, a pastora se contradisse pela primeira vez quando questionada sobre o local onde teria ido na noite de sábado, 15 de junho de 2019, horas antes do crime, ocorrido na madrugada de 16 de junho.
“Primeiro ela afirmou que tinha ido ao Rio para comer petiscos, depois afirmou que foi namorar na praia, disse que foi a Copacabana, mas não há nenhum registro da passagem do carro em que ela estava por esse bairro”, afirmou. Uma outra contradição teria ocorrido, segundo o delegado, quanto ao celular do pastor, que a princípio teria sido roubado pelos criminosos que o mataram (inicialmente foi alegado latrocínio). Mas o celular teria sido usado, depois do crime, pela própria pastora.
Segundo Duarte, Flordelis tentou envenenar o marido em pelo menos seis ocasiões. O delegado elencou ainda mensagens trocadas por ela com os filhos tratando do planejamento da morte do pastor.
A terceira testemunha a prestar depoimento foi Regiane Ramos Cupti Rabello, que conheceu Lucas - filho afetivo do casal e acusado de participação na morte do pastor - quando ele tinha 14 anos, porque morava perto da casa de Flordelis e era próxima da família. Regiane empregou o rapaz na oficina mecânica do marido e passou a auxiliar Lucas, que segundo ela reclamava muito da família. Lucas chegou a morar com Regiane e teria relatado vários problemas familiares. Em seu depoimento, a testemunha acusou Flordelis de fazer uma proposta a Lucas para matar o pastor - ele teria se recusado a praticar o crime.
Regiane afirmou ainda que, logo após o assassinato do pastor Anderson, a então deputada federal realizou um treinamento para combinar os depoimentos que seriam prestados pela família à Polícia Civil. Ainda segundo ela, os familiares empregados no gabinete de Flordelis na Câmara dos Deputados praticavam o esquema ilegal da “rachadinha”: eles ganhariam cerca de R$ 15 mil e ficavam com cerca de R$ 2.500, devolvendo a diferença à pastora.
Choro
Flordelis e os filhos choraram ao ver parentes que acompanham o júri. A mãe da ex-deputada, Carmozina Mota, chegou a se aproximar do local onde ela e os outros réus aguardavam o início da sessão. Os advogados dos acusados fizeram uma barreira para evitar que eles fossem fotografados.
A sessão de julgamento foi interrompida pouco depois das 22h15 desta segunda e será retomada nesta terça-feira, 8.
Acusações
Vestida com uma camiseta branca, calça jeans, óculos e chinelos, Flordelis começou a ser julgada na manhã desta segunda-feira, 7, no Tribunal do Júri de Niterói, na região metropolitana do Rio. Denunciada como mandante do assassinato a tiros do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis é julgada ao lado de três filhos- dois adotivos e um biológico- e de uma neta. Todos são acusados de envolvimento no crime.
Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, responde pelos mesmos crimes de Marzy. Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada. André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis, foi denunciado pelo uso de documento falso e associação criminosa armada.
O julgamento é presidido pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3.ª Vara Criminal de Niterói., e deve se estender até a próxima quarta ou quinta-feira, segundo estimam advogados que atuam no processo.