Ultradireita recebe tarefa de formar novo governo na Áustria
Partido da Liberdade (FPÖ), o mais votado nas eleições de setembro, teve sinal verde do presidente do país após fracasso da centro-direita em montar uma coalizão de governo.O líder da legenda austríaca ultradireitista Partido da Liberdade (FPÖ), Herbert Kickl, recebeu do presidente Alexander Van der Bellen nesta segunda-feira (06/01) a incumbência de formar um governo de coalizão, após forças de centro fracassarem em fazer isso.
O FPÖ - um partido eurocético e favorável à Rússia fundado na década de 50 por um ex-oficial da força de elite paramilitar Schutzstaffel (SS), de Adolf Hitler - ficou em primeiro lugar nas eleições parlamentares de setembro pela primeira vez na história, com 29% dos votos.
Os ultradireitistas terão de negociar uma coalizão de governo com o conservador Partido Popular da Áustria (ÖVP), que até a pouco vinha se recusando a sentar-se à mesa com o FPÖ.
Segunda tentativa de formar governo
Van der Bellen havia enfurecido o FPÖ logo após a eleição, ao não incumbir a legenda mais votada de formar um governo, uma vez que nenhum outro partido expressou intenção de aliar-se à ultradireita.
Ele inicialmente atribuiu a tarefa ao ÖVP e ao seu líder, o chanceler Karl Nehammer. A legenda de centro-direita havia ficado em segundo lugar nas eleições. Mas a tentativa de formar uma coalizão com outros partidos centristas fracassou neste fim de semana, o que levou o chanceler a anunciar sua renúncia.
Nehammer insistia que seu partido não aceitaria governar ao lado do FPÖ, afirmando que Kickl é um teórico da conspiração e uma ameaça à segurança do país.
Essa postura, porém, pode ter chegado ao fim com a renúncia do chefe de governo. O sucessor de Nehammer, Christian Stocker, disse no domingo que seu partido participaria de uma negociação de coalizão liderada por Kickl.
"Estamos bem no início. Se formos convidados para essas conversas, o resultado delas estará em aberto", afirmou o governador de Salzburgo, Wilfried Haslauer, um dos principais líderes do ÖVP.
Se as negociações fracassarem, é provável que sejam convocadas eleições antecipadas no país. As pesquisas de opinião mostram que o apoio ao ultradireitista FPÖ aumentou desde setembro.
Discordâncias entre centro-direita e ultradireita
"Primeiro o povo e depois o chanceler", disse Kickl em um post no Facebook na noite de domingo, repetindo o slogan populista utilizado durante sua campanha. O FPÖ já esteve no poder anteriormente como um parceiro minoritário de uma coalizão, mas jamais liderou um governo.
A questão mais espinhosa nas negociações gira em torno de sobre como reduzir o déficit orçamentário, que deve exceder o limite imposto pela União Europeia (UE) de 3% do PIB em 2024 e 2025.
Enquanto ambas as partes pedem cortes de impostos, o FPÖ prometeu atacar alguns dos interesses mais caros ao ÖVP. Os dois partidos entram em conflito sobre a oposição do FPÖ à ajuda à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia e em relação aos planos para um sistema de defesa antimísseis.
Van der Bellen, ex-líder do Partido Verde, de esquerda, disse várias vezes que estará atento para garantir que "pedras angulares da democracia", incluindo direitos humanos, imprensa independente e a filiação da Áustria à União Europeia, sejam respeitadas.
"Vozes dentro do ÖVP que descartam a cooperação com um FPÖ sob Herbert Kickl se tornaram mais silenciosas. Isso, por sua vez, significa que um novo caminho pode estar se abrindo", disse Van der Bellen neste domingo.
rc/bl (Reuters, DPA)