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Um a cada 4 brasileiros acha que democracia funciona bem no País, diz pesquisa

Pesquisa global analisou 42 democracias no mundo; País só perde para Croácia em descontentamento

13 dez 2019 - 06h11
(atualizado às 11h14)
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Apenas 23% dos brasileiros consideram que a democracia funciona "bem" ou "muito bem" no País, enquanto 77% entendem que ela funciona mal ou muito mal. As informações são do levantamento intitulado 'Democracia sob tensão', apresentado na Fundação Fernando Henrique Cardoso, na noite desta quinta-feira, 12, em São Paulo, pelo professor Dominique Reynié, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, a Sciences Po.

O estudo foi apoiado pela ONG Fondapol, liderada por Reynié, pelo Instituto Republicano Internacional, dos Estados Unidos, e pelo think tank República do Amanhã, do Brasil. Os dados foram coletados no final de 2018 e no início de 2019 e estão disponíveis online. Foram ouvidas 36.395 pessoas em 42 países.

A média global é de 51% de satisfação com o sistema democrático. O melhor exemplo é a Suíça, com 88%, e o pior, a Croácia, com 19%. Considerando todos os países analisados, o estudo mostrou que a insatisfação é maior em classes como a de pequenos empresários, funcionários do setor de comércio e serviços, desempregados e operários. A avaliação negativa é mais frequente entre aqueles com 35 e 59 anos e também entre jovens.

A insatisfação, no entanto, não significa a defesa automática de outro regime: 67% dos ouvidos disseram que a democracia é o melhor sistema possível e é insubstituível. O restante disse que outros modelos de governo podem funcionar tão bem quanto.

Quando os entrevistados foram perguntados sobre qual modelo de governo é mais eficaz para combater a corrupção, o democrático ganhou com 24%, enquanto o autoritário recebeu 14% de apoio. Por sua vez, 62% afirmaram que a corrupção não é uma questão de governo.

Brasileiros desconfiam da classe política, aponta estudo

Um dos aspectos analisados foi a desconfiança com a classe política. Nove em cada dez brasileiros afirmaram desconfiar do governo (93%), do Parlamento (90%) e dos partidos políticos (96%). Os números são superiores à média das democracias pesquisadas: 64%, 59% e 77%, respectivamente. Decorrência disso ou não, apenas um em cada dois brasileiros afirmaram se interessar por política.

Apenas o Exército brasileiro se destaca — a taxa de confiança é de 70%. Além disso, 45% dos brasileiros julgaram positiva a possibilidade de o País ser governado por um regime militar — a média global é de 21%. Metade dos entrevistados afirmam que a volta dos militares ao poder seria a melhor solução para enfrentar os problemas do País.

Entre os assuntos que mais preocupam os brasileiros, ganharam destaque o desemprego (96%) e a crise econômica (95%), que aparecem acima da média global — de 71% e 79%, respectivamente. O relatório ainda aponta que a delinquência, outro assunto que preocupa especialmente os brasileiros (94%), tem tido grande impacto na democracia do País. Isso porque o tema teria ganhado uma dimensão política, com a proliferação de discursos sobre "extermínio" de criminosos. Segundo a pesquisa, dos 42 países participantes, o Brasil é o segundo que mais concorda (73%) com a afirmação: "prefiro mais ordem, ainda que resulte em menos liberdade".

Sobre a influência das religiões, o relatório indica que há uma relação entre o avanço do cristianismo evangélico e o conservadorismo. Esse dado pode estar relacionado com a confiança que os brasileiros depositam em autoridades religiosas (43%).

Segundo o relatório, no entanto, o País está entre os mais tolerantes quanto às diferenças religiosas (90%) e até quanto à orientação sexual (85%) — dados que iriam de encontro com a retórica adotada pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. A média global desses dois últimos temas é de, respectivamente, 78% e 77%.

Globalização positiva

Os brasileiros se destacaram no apreço pela globalização. O País registrou a maior taxa de apoio entre os países pesquisados — 81% afirmaram que a globalização oferece oportunidades. A média global é de 66%.

Estadão
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