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"Vaquinhas" viram problema para hospital que operou Bolsonaro

Golpes têm sido aplicados em nome de Santa Casa de Juiz de Fora após instituição ganhar visibilidade depois de salvar a vida do presidente

6 set 2019 - 17h07
(atualizado às 19h08)
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Uma das instituições que mais ganhou respeito no País recentemente pede ajuda para salvar bebês prematuros. O motivo parece nobre, mas é apenas mais um dos golpes aplicados com o nome da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, instituição que ganhou notoriedade depois de ter sido nela que Jair Bolsonaro teve a vida salva há um ano, após a facada desferida por Adélio Bispo, que quase o matou.

A instituição chegou a receber doações. Em gratidão, Bolsonaro anunciou que destinaria suas sobras de campanha para o hospital, que completou 165 anos no último mês. No entanto, a ação foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e apoiadores angariam recursos no montante de R$ 1,3 milhão para a Santa Casa, que devem ser destinados a obras de infraestrutura. Ainda assim, seja por má fé ou falta de organização, dezenas de "vaquinhas" não oficiais podem ser encontradas facilmente em nome da Santa Casa, algumas com valores na casa dos milhares de reais.

Bolsonaro foi atingido por facada em Juiz de Fora.
Bolsonaro foi atingido por facada em Juiz de Fora.
Foto: Fábio Motta / Estadão Conteúdo

Em nota, a assessoria da Santa Casa informa que "não pede, em hipótese alguma, doações e/ou depósitos via telefone e não autoriza nenhuma pessoa ou empresa a fazê-lo em nome da instituição". Somente em agosto deste ano, a instituição teve de vir a público duas vezes para desmentir golpistas que usavam seu nome para angariar fundos. "É uma preocupação que tivemos de ter. Há golpes toda hora no Brasil, e o sistema integrado de internet permite isso. Facilita muito dizer o que fez, ou deixou de fazer", afirma o presidente da Santa Casa de Juiz de Fora, Renato Loures.

Loures relata dificuldades na administração financeira do hospital, mas destaca uma situação melhor na unidade juiz-forana frente a outras filantrópicas no Brasil: "O déficit na nossa instituição gira entorno de 33%, e a média brasileira é acima de 60%. Temos uma gestão avançada que conta com operador de saúde", diz.

O plano privado, segundo o presidente da Santa Casa, é o que possibilita "cobrir o déficit do SUS". Muitas instituições não contam com um serviço do tipo, o que leva o presidente a concluir:

Emenda parlamentar

Ainda como deputado pelo PSL, Bolsonaro destinou uma emenda parlamentar para a instituição, não liberada até agora. Os R$ 2 milhões seriam destinados para cobrir o déficit dos procedimentos do SUS, que, em 2017, chegaram a R$ 27 milhões. "A maioria das emendas são usadas para custeio", afirma Loures, que conta com a verba. "Existem outras emendas parlamentares à Santa Casa que não recebemos ainda, apesar de serem impositivas, não foram liberadas as de 2018. Acreditamos que, até o fim do ano, haverá a liberação".

O déficit é gerado, em grande parte, por causa da defasagem na tabela SUS, que determina os repasses. No caso da cirurgia que salvou o atual presidente, a Santa Casa recebeu R$ 1.090, valor que não tem atualização desde 2008. "As cirurgias de alta complexidade são muito caras. No caso, não paga o custo", explica o gestor da Santa Casa. "Temos duas questões básicas: o subfinanciamento do SUS e as dívidas financeiras das filantrópicas", continua Loures, que é membro do conselho da Confederação das Misericórdias do Brasil.

O médico aponta, ainda, que levou as reivindicações do setor ao governo, e que há uma frente parlamentar em apoio à "sustentabilidade das filantrópicas". À frente de uma das dez principais instituições filantrópicas brasileiras, Loures traça planos maiores: "Temos a meta de, até 2023, sermos um dos hospitais de referência brasileiros, não só na filantropia, mas na assistência global", garante. Ele assumiu o atual cargo em 2010, e afirma que "houve evolução, baseada no tripé: resultados, custo e qualidade".

Enfrentando a crise, o presidente do hospital afirma que "criatividade, bom senso e apoio" ajudaram a Santa Casa a "vencer a crise". O próprio procedimento que salvou a vida de Bolsonaro é apontado como prova da capacidade do hospital. "O presidente deu entrada no hospital com risco de vida, na hora foi encaminhado para os plantonistas, e a própria cirurgia deu resultados excepcionais".

Teorias conspiratórias

Sobre as teorias conspiratórias que questionam a ocorrência da facada em Bolsonaro, Loures aponta o tamanho da instituição, no que vê como irresponsabilidade: "Se um hospital do tamanho da Santa Casa, com 2.400 colaboradores, 850 médicos, fizesse uma mentira desse nível, seria classificar esse número de pessoas e a própria instituição como irresponsáveis. Isso passa a ser brincadeira".

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Estadão
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