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Vazamento de mensagens prejudica governo, avaliam aliados

Apesar do diagnóstico, auxiliares reclamam da 'deslealdade" do ex-ministro da Justiça

25 abr 2020 - 18h37
(atualizado às 18h43)
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As mensagens trocadas pelo WhatsApp entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro "sangraram" ainda mais o governo. Na avaliação de interlocutores de Bolsonaro, o alerta enviado por ele a Moro, indicando interesse em substituir o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, acabou recrudescendo a crise.

Presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento no Palácio do Planalto
24/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento no Palácio do Planalto 24/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Aliados de Bolsonaro ouvidos pelo Estado admitiram que a saída do ex-juiz da Lava Jato provocou fuga desenfreada de apoiadores que não pertenciam à militância tradicional. Alguns auxiliares reclamaram, no entanto, da "deslealdade" de Moro em divulgar conversas privadas, mesmo considerando que o presidente empurrou seu ministro mais popular para fora do governo.

No Palácio do Planalto, o sentimento é o de que houve "traição" por parte de Moro. Ministros argumentam que, mesmo Bolsonaro tendo errado no diálogo pelo WhatsApp, Moro não poderia ter revelado o teor da conversa privada.

Além de lamentar o pronunciamento de improviso feito pelo presidente para rebater as acusações de Moro, a equipe de Bolsonaro acha que tudo piorou após a divulgação das mensagens, na noite de sexta-feira, pelo Jornal Nacional, da TV Globo. O Estado também teve acesso às conversas pelo aplicativo.

Nas mensagens, Bolsonaro envia a Moro uma reportagem do site "O Antagonista", mostrando que a Polícia Federal está "na cola" de "10 ou 12" deputados bolsonaristas que teriam organizado as manifestações do último dia 19, em defesa da intervenção militar. "Mais um motivo para troca", escreveu Bolsonaro, numa referência à saída de Valeixo. Moro respondeu que essa investigação está a cargo do ministro do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes, e não da PF.

Para integrantes do núcleo do governo, o presidente não deveria ter ignorado o discurso preparado na reunião daquela sexta, em seu gabinete. Um documento breve, rebatendo ponto por ponto o pronunciamento feito por Moro seis horas antes, estava nas mãos de Bolsonaro. Num dos trechos, citava um telefonema do presidente a Valeixo, por volta de 22h20 da quinta-feira. Na ocasião, o delegado teria sido informado que sua demissão seria publicada "a pedido" no Diário Oficial do dia seguinte. De acordo com esses relatos, Valeixo teria concordado com essa solução.

A frase "o senhor não vai me chamar de mentiroso" foi encaixada no discurso justamente por isso. Na parte do pronunciamento de improviso, Bolsonaro contou a conversa com Valeixo, mas sem a precisão considerada necessária pelos auxiliares, como o horário, por exemplo.

Um dos ministros que ajudaram na preparação do discurso disse que o presidente falou demais. "Não era o combinado. Ele acabou se perdendo", lamentou o auxiliar, que pediu anonimato.

Tudo havia sido montado para rebater didaticamente as acusações de Moro. O objetivo era não deixar dúvida sobre a forma como o ministro deixou o governo, considerada "desleal" pelo Planalto.

Bolsonaro, no entanto, acabou fazendo um pronunciamento em tom emocionado para divagar sobre questões que não tinham qualquer relação com o momento político. Ao se apresentar como vítima do sistema, ele citou, por exemplo, até mesmo um processo enfrentado pela sogra por alteração de documento, a passagem de uma avó da primeira-dama Michelle pela prisão, por tráfico de drogas, e as aventuras de Renan Jair, o filho 04 do presidente.

Além disso, ministros que estavam ao lado de Bolsonaro também viram alfinetadas em quem continua no governo. Chamou a atenção dos presentes o fato de o presidente ter dito e repetido uma queixa que costuma fazer em reuniões ministeriais: as informações não chegam até ele, que precisa ir direto à fonte para saber o que está acontecendo.

A referência foi considerada uma indireta para o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que tem sob sua batuta a Agência Brasileira de Informações, (Abin). Detalhe: a direção da Abin está com Alexandre Ramagem, indicado para assumir o comando da Polícia Federal. As ligações de Bolsonaro para Ramagem são frequentes.

O estrago provocado pela forma como Moro saiu do governo foi comparado, guardadas as proporções, àquele feito pelo então ministro da Cultura Marcelo Calero, hoje deputado federal. Calero deixou o governo de Michel Temer, em 2016, após divulgar conversas gravadas no gabinete presidencial.

Bolsonaro também sugeriu, no pronunciamento, que podem vir outras demissões, o que deixou auxiliares apreensivos com a possibilidade de novas crises. No Congresso há rumores de que o ministro da Economia, Paulo Guedes - hoje bastante enfraquecido — pode ser a próxima "bola da vez".

O Planalto continua monitorando a repercussão do confronto entre Bolsonaro e Moro, principalmente nas redes sociais. Nessa guerra de versões, porém, o presidente está em desvantagem, já que a maior parte da população ficou ao lado de Moro, como mostram os últimos levantamentos de opinião.

Estadão
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