Virada ODS quer mudar maneira como população olha para o futuro
Evento gratuito trará para a capital de SP atividades como palestras, hackathon e feiras gastronômicas
Para aproximar a população para os objetivos de desenvolvimento sustentável, a cidade de São Paulo será palco da Virada ODS entre os dias 8 e 10 de julho. Com palestras, feiras gastronômicas e de negócios, experiências sensoriais, apresentações artísticas, rodas de conversa e hackathon, a Prefeitura espera engajar cerca de 50 mil pessoas ao longo dos três dias. O evento também faz parte de um esforço de tornar a capital "farol da sustentabilidade" no Brasil e no mundo.
As oito macrorregiões da cidade terão atividades, que abrangem seis áreas do desenvolvimento sustentável: comunicação; inovação e tecnologia; desenvolvimento econômico; justiça; educação e cultura. Para isso, contará com convidados nacionais e internacionais, como o ex-presidente do México Felipe Calderón, o ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon, o vencedor do Nobel da Paz Juan Manuel Santos, o médico Drauzio Varella, a escritora Nina Silva e a filósofa Djamila Ribeiro.
Lançada em 2015, durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, na ONU, a Agenda 2030 reúne os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ambiciosos e interconectados, eles são "um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade", conforme a ONU.
Em março, a Prefeitura apresentou um plano com 655 ações a serem realizadas para cumprir a agenda da ONU. As propostas foram criadas de forma transversal entre as secretarias e membros da sociedade civil, dialogando ainda com o Plano Diretor Estratégico e o Plano Plurianual (2022-2025).
Entre as metas, por exemplo, está a de reduzir o número de pessoas em situação de rua para 0,05% da soma de habitantes até 2030 - em 2019, conforme o plano, a taxa era de 0,19%, o que equivale a mais de 24,3 mil. Outra quer aumentar para 70% a taxa de participação dos modos coletivos de transporte em oito anos, que foi de 58% em 2019.
Quase metade (49%) dos brasileiros não sabe o que são os ODS, conforme uma pesquisa da organização sem fins lucrativos Rede Conhecimento Social, de 2017. Cerca de 38% já ouviram falar sobre, mas não têm conhecimento sobre. Apenas 1% declarou entendê-los com mais profundidade.
A concepção do evento faz frente a essa estimativa e à compreensão de que o cumprimento de metas tão ambiciosas só será possível com um esforço coletivo. "Temos que traduzir (as ODSs) para a população", diz a secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy, ao Estadão. "Principalmente porque a maioria já tem alguma prática de ODS. A pessoa economiza água, fecha a torneira, combate o racismo, tenta diminuir a pobreza. Na hora que ela se apropria do que faz, pode se empoderar a fazer mais."
Marta Suplicy destaca ainda que é a primeira vez, em todo mundo, que um evento como esse é proposto. A secretária conta que, há dois meses, apresentou a proposta para a secretária-geral adjunta da ONU, Amina Mohammed. "Ela ficou maravilhada, porque disse que não tinha nenhuma cidade do mundo fazendo algo dessa grandiosidade."
O projeto, conta a coordenadora da Virada, Malu Molina, propõe um "virar de chave" na maneira como olhamos para nosso futuro e do planeta. "Se a gente não virar essa chave, talvez não tenha amanhã para mudarmos de ideia."
"Não vamos mais sobreviver da maneira que nós sobrevivemos. Vamos ter escassez de água e ar puro, vamos ter uma vida muito diferente. E não vai demorar tanto, porque estamos vendo que isso está vindo a galope. Estamos vendo incêndios, terremotos, enchentes, como nunca antes", completa Marta.
Programação e inscrições
O evento contará com atividades em dez polos. O principal será no Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera.
Ali, no primeiro piso, ocorrerá a abertura na sexta-feira, às 10h, e rodas de conversa com convidados sobre temas diversos, que vão de cidades do futuro e mudanças climáticas até combate ao racismo e igualdade de gênero.
O segundo piso terá a estrutura do Festival Green Nation. Por ali, os visitantes serão provocados por experiências sensoriais, que simulam a crise do meio ambiente e dilemas do nosso tempo. No terceiro, ocorrerá a Expo ODS, onde além das secretarias apresentarem ações em andamento, startups e empreendedores terão a oportunidade de exporem projetos a investidores.
No Hub Green Sampa, em Pinheiros, na zona oeste, ocorrerá um hackathon - espécie de gincana -, na qual os competidores serão desafiados a propor solução para um problema socioeconômico ou ambiental.
As equipes vencedoras de cada desafio ganham R$10 mil. Os dois primeiros colocados do ambiental vão receber dez meses de aceleração no Programa Green Sampa, com oficinas, masterclasses e mentorias.
Também haverá atividades diversas nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) Parelheiros, Butantã, Cidade Dutra, Heliópolis, Água Azul, Jardim Paulistano, São Rafael e Jacanã.
A programação, aos poucos, é disponibilizada no site oficial da Virada. É ali também que será possível fazer inscrição para palestras e agendar visitas a alguns pavilhões. Todas as atividades são gratuitas, porém, algumas têm limitação de público. Para quem não puder participar, haverá transmissões ao vivo.
Farol da sustentabilidade
Marta Suplicy destaca que a Virada tem também um objetivo de posicionar a cidade de São Paulo como "farol da sustentabilidade" para o Brasil e o mundo. "A gente estava tendo muita dificuldade em se inserir internacionalmente por causa do negacionismo do presidente brasileiro", afirma. "Temos que nos diferenciar, mostrar que a cidade de São Paulo não é negacionista."
Nesse sentido, além da educação para o desenvolvimento sustentável, a Virada tem um apelo econômico. "O financiamento do mundo, no século 21, é obrigatoriamente ODS", frisa.