Vitória de Bolsonaro 'completa' impeachment de Dilma
Hegemonia petista em eleições presidenciais tem fim após 4 pleitos; campanha foi tumultuada, teve candidato preso e até facada
O fenômeno começou em 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Só em 2018, porém, a hegemonia construída pelo Partido dos Trabalhadores em eleições presidenciais de 2002 a 2014 foi enterrada.
A retórica antipetista dominou o discurso do candidato vitorioso, Jair Bolsonaro (PSL), durante a campanha e continua presente mesmo após a eleição.
Toda troca de presidente da República é histórica e digna de entrar na retrospectiva do Terra. A quebra de paradigma e o tumulto das eleições de 2018 – incluindo um candidato preso e outro esfaqueado – dão ainda mais força a esse processo.
O começo
Jair Bolsonaro tinha um percentual de intenção de voto razoável no início do ano, e cresceu durante a campanha. O único candidato à sua frente era Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorreria a seu terceiro mandato.
A pesquisa DataFolha divulgada no fim de janeiro mostrava Lula com 37% das intenções de voto. Isolado do contexto, o número autorizaria os eleitores do ex-presidente a sonhar com uma vitória no primeiro turno.
O mesmo levantamento mostrava Bolsonaro com 16%. Na época, e até algumas semanas antes da eleição, a expectativa predominante entre analistas era de que a candidatura do militar reformado derreteria.
Segundo as projeções, a falta de estrutura partidária, bem como esperadas declarações desastradas de Bolsonaro, o deixariam em desvantagem. Geraldo Alckmin (PSDB) disputava o mesmo eleitorado e tinha quase metade do tempo da propaganda eleitoral na TV.
Alckmin não decolou. Bolsonaro não só não derreteu como, após a adesão de líderes evangélicos a sua candidatura, acelerou o crescimento na reta final.
O fim de Lula
Antes disso, porém, o candidato do PSL havia sido beneficiado pela prisão de Lula, em abril. Desde janeiro o petista tem uma condenação em segunda instância no processo do Tríplex no Guarujá.
Mesmo preso, o ex-presidente tocou sua campanha. As pesquisas de intenção de voto que vieram depois mostravam o petista ainda na liderança. O Comitê de Direitos Humanos da ONU defendeu o direito de Lula manter a candidatura até o esgotamento dos recursos.
O fim da candidatura do petista veio cerca de um mês antes da eleição, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) barrou sua participação no pleito com base na lei da ficha limpa.
O desfecho era previsível. O próprio PT sabia que a probabilidade do ex-presidente concorrer era irrisória. Manteve o discurso como uma estratégia que foi, em grande parte, bem sucedida.
Os planos do partido eram transferir os votos de Lula para o candidato que efetivamente disputasse a eleição e usar a popularidade do ex-presidente para impulsionar as candidaturas proporcionais.
O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad, desconhecido em outros Estados, foi confirmado como candidato da legenda apenas após a decisão do TSE e conseguiu ir para o segundo turno.
Além disso, o PT elegeu a maior bancada da Câmara dos Deputados – mas deve ser superado pelo PSL devido a migrações de políticos.
A investigação contra Lula correu sob a responsabilidade do então juiz da Lava Jato em Curitiba, Sérgio Moro. Quando Moro foi anunciado por Bolsonaro como futuro ministro da Justiça, opositores e a imprensa internacional apontaram um suposto conflito de interesses nas decisões do ex-juiz.
Foram levantadas suspeitas de parcialidade na condução do processo. A Procuradoria Geral da República, porém, defendeu o ex-juíz.
Divulgação às vésperas do pleito de parte de delação premiada do ex-ministro petista Antônio Palocci também fez barulho. Não havia, porém, informação realmente nova, e o impacto dessas afirmações de Palocci foi limitado.
A campanha de Bolsonaro
O candidato do PSL tinha o menor tempo na TV no primeiro turno. O orçamento para campanha era minúsculo em comparação com as outras candidaturas.
Bolsonaro apostaria, então, na rejeição ao PT. Usou forte discurso anticorrupção para se descolar dos políticos tradicionais, com imagem desgastada.
Teve nas redes sociais o principal meio de comunicação, além de se associar ao conservadorismo moral e ao recrudescimento do combate ao crime.
As apostas se mostraram certeiras, principalmente aliadas ao imponderável: em setembro, o candidato foi vítima de uma facada.
Bolsonaro correu sério risco de morte, e deverá virar um ano com uma bolsa de colostomia ainda ligada ao intestino. Politicamente, porém, o ataque o ajudou a se eleger.
Após a facada, o candidato teve uma exposição na imprensa bem maior do que teria em situações normais.
A fragilidade física deixou muito difícil para seus adversários fazerem críticas contundentes a sua candidatura – os ataques voltariam com a proximidade da votação. Também afastou Bolsnaro de situações em que poderia ser questionado, como debates.
Apesar do sucesso da campanha, o então presidenciável foi alvo de notícias negativas. Reportagem da Folha de S.Paulo, por exemplo, ligou sua candidatura a suposto caso de caixa 2.
De acordo com a publicação, empresários teriam pago empresas de publicidade digital para disparar informações negativas – e em grande parte falsas – sobre Fernando Haddad, adversário de Bolsonaro, por meio do Whatsapp. O caso foi divulgado entre o primeiro e o segundo turno.
O movimento seria configurado como doação. Quando um serviço é doado a um candidato, o valor do serviço deve ser estimado e lançado na prestação de contas.
Apuradas, as urnas mostraram vitória do estridente deputado: teve 55% dos votos válidos. No primeiro turno, Bolsonaro havia tido 46%.
Congresso e Estados
O PSL saiu da insignificância para a condição de segunda maior legenda da Câmara dos Deputados, podendo se tornar a maior. Deputados de partidos que não alcançaram a cláusula de desempenho deverão migrar para a sigla do presidente.
Veja o tamanho das bancadas eleitas de cada partido na Câmara:
PT – 56
PSL – 52
PP – 37
MDB – 34
PSD – 34
PR – 33
PSB – 32
PRB – 30
DEM – 29
PSDB – 29
PDT – 28
SD – 13
Podemos – 11
Psol – 10
PTB – 10
PC do B – 9
Novo – 8
PPS – 8
Avante – 7
PHS – 6
Patriota – 5
PRP – 4
PV – 4
PMN – 3
PTC – 2
DC – 1
PPL – 1
Rede – 1
No Senado, o MDB manteve sua bancada como maior da Casa. Já contando os suplentes que devem assumir no lugar de Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Gladson Cameli (PP-AC), o Senado deverá ficar assim:
MDB – 12
PSDB – 9
PSD – 7
DEM – 6
PT – 6
Podemos – 5
PP – 5
Rede – 5
PDT – 4
PSL – 4
PTB – 3
PR – 2
PHS – 2
PPS – 2
PSB – 2
PRB – 1
PROS – 1
PRP – 1
PSC – 1
PTC – 1
SD – 1
Sem partido – 1
Nas disputas pelos governos estaduais, o PSL também mostrou força. Não tinha nenhum governador, e elegeu 3. Apenas o PT elegeu mais em 2018:
PT – 4 (Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte)
MDB – 3 (Alagoas, Distrito Federal e Pará)
PSB – 3 (Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco)
PSDB – 3 (Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo)
PSL – 3 (Santa Catarina, Rondônia e Roraima)
DEM – 2 (Goiás e Mato Grosso)
PSC – 2 (Amazonas e Rio de Janeiro)
PSD – 2 (Paraná e Sergipe)
Novo – 1 (Minas Gerais)
PC do B – 1 (Maranhão)
PDT – 1 (Amapá)
PHS – 1 (Tocantins)
PP – 1 (Acre)