Análise: a volta do Gol GTI se tornou um sonho mais próximo?
Tudo vai mudar no mercado automotivo pós-coronavírus. O que parecia impossível talvez possa se tornar realidade. Veja a projeção do Gol GTI
Já escrevi sobre a volta do Volkswagen GTI em outras ocasiões e fui categórico ao afirmar: tudo não passou de sonho de uma noite de versão. O frisson pela volta do Gol GTI foi provocado pela própria Volkswagen, que levou um Gol GT Concept ao Salão de São Paulo de 2016. Como o Gol perdeu a vez na fila da renovação para o lançamento do novo Polo (que poderia se chamar Gol), o que tivemos foi, na verdade, o retorno da linha GTS, tanto no Polo quanto no Virtus.
Também recentemente, ao analisar a chegada do Polo GTS ao mercado, escrevi sobre o significado da sigla GTI para a Volkswagen. Trata-se de uma versão mais apimentada do que a GTS. Usei como exemplo o Golf. Embora não seja um esportivo puro, como o Golf R, o Golf GTI pode ser considerado um esportivo de verdade. Já os carros GTS são grã-turismo que se posicionam entre um esportivado (só maquiagem) e um esportivo. Voltando ao Gol GTI, por que seria possível sonhar e por que não vale a pena sonhar?
Bem, no capítulo sonho, poucos superam nossos amigos do OverboostBR, perfil que o designer Renato Aspromonte mantém no Instagram. Por isso, ele mandou uma projeção de como seria um novo Gol GTI para ilustrar esse artigo. De cara, o carro recupera o clássico azul escuro do primeiro Gol GTi (com i minúsculo) de 1988. Mas, se observarmos bem a projeção, veremos que a carroceria é a mesma do Volkswagen Gol atual, que já está no segundo facelift da terceira geração. Faz sentido? Faz.
Com a terrível crise econômica que virá com a pandemia de Covid-19, os futuros projetos das marcas foram adiados. Estima-se que a indústria automobilística terá um déficit de caixa de R$ 40 bilhões. É muito dinheiro. A renovação do Gol entraria na próxima leva de investimentos da Volkswagen, que começaria neste segundo semestre, após o lançamento do Nivus (último carro do atual ciclo). Nem se sabe se o Gol manteria seu nome, pois tudo indica que o próximo carro seria mais elevado, reunindo aspectos do Gol, do Fox e de um rival importante, o Renault Kwid. Agora tudo mudou.
Num ambiente de crise, com vendas baixíssimas e com a população necessitando comprar carros mais baratos, faz sentido mudar o Gol para que ele ceda espaço para mais um carro caro e que vai atender a uma parcela da população já cheia de opções? Talvez seja mais lógico fazer um terceiro facelift no Gol e seguir a vida. Para as necessidades do Brasil, o Gol atual está de bom tamanho. Porém, o motor que move o capitalismo é a morte -- mais exatamente a morte de um produto para o nascimento de outro. Assim, as pessoas trocam de bens sem necessidade real, mas sim por uma série de questões que não vem ao caso comentar aqui e agora. É essa necessidade de matar um produto velho para colocar um novo no lugar que torna improvável a permanência do Gol atual por muito mais tempo.
Mas há outro porém. Ninguém sabe ao certo como será o mundo pós-pandemia. Se houver uma mudança radical nos valores da sociedade e a Volkswagen decidir manter o Gol como um clássico (como foi com a Kombi), porém dando a ele um tratamento digo (coisa que a Kombi nem sempre teve), por que o Gol não pode voltar a ter uma versão GTS ou mesmo GTI no futuro? Um esportivo mais barato, na casa de uns R$ 70 mil, seria bem interessante. Claro que as mudanças técnicas seriam grandes, mas um motor 1.4 TSI de 150 cv já cairia bem nesse hipotético Gol GTI.
Por outro lado, é preciso que haja realmente um novo mundo para que o Gol GTI renasça. O próprio paradigma da globalização teria que ser revisto (não é impossível). Nesse caso, a Volkswagen do Brasil voltaria a ter mais autonomia em seus produtos, como tinha até o início dos anos 2000. Essa seria a única forma de o Gol GTI deixar o mundo dos sonhos e voltar ao mundo real. Se voltarmos à normalidade da globalização, não faz o menor sentido pensar num Gol GTI -- nem mesmo se a Volkswagen apresentar uma nova geração. Isso porque a sigla GTI (vamos repetir) exige um aprofundamento técnico que nenhum GTS requer. Demandaria tempo e dinheiro que a Volks não vai investir, pois o volume de vendas é baixíssimo.
Por enquanto, fiquemos com a projeção do Volkswagen Gol GTI feita pelo OverboostBR, que traz a linguagem visual do novo Golf GTI Mk8 lançado na Europa, mas na carroceria atual do Gol, feita sobre a plataforma PQ24. Afinal, assim já dizia o samba-enredo da Mocidade Independente em 1992: “Sonhar não custa nada / O meu sonho é tão real / Mergulhei nessa magia / Era tudo que eu queria / Para esse carnaval / Deixe a sua mente vagar / Não custa nada sonhar”.