Análise: Chevrolet Tracker brilha como personagem de Grease
Muito mais atrevido do que o SUV da antiga geração, novo Tracker Premier 1.2 Turbo é ousado como a Sandy reinventada de Olivia Newton-John
Se o novo Chevrolet Tracker fosse um personagem do cinema, ele seria a Sandy de “Grease: nos tempos da brilhantina”. A personagem interpretada pela atriz Olivia Newton-John era uma australiana doce, certinha e comportada. A cara da antiga geração do Tracker. Não que o velho Tracker não fosse bom -- ele era. Mas, como a Sandy comportada, não surpreendia, não encantava. Mas o novo Tracker é o oposto disso. O novo Chevrolet Tracker é a Sandy audaciosa da parte final do filme, com um visual de arrasar, sexy, provocante.
Vestido de azul, como a Sandy apareceu de preto diante do Danny de John Travolta, o Chevrolet Tracker Premier 1.2 Turbo é a ousadia em forma de SUV. Seu design é impecável. Ficou tão bom quanto o Onix Plus e melhor do que o Onix hatch. O Tracker nem sequer tem os melhores atributos de SUV. É baixo, mais baixo do que outros “utilitários esportivos” do mercado, mas aí está sua diferença. O Tracker tem a alma de um SUV, mas sua dirigibilidade é mais próxima de um hatch. Para quem gosta de domar o carro, possuí-lo na estrada, tanto melhor quanto mais rente ao chão.
Esta nova geração do Tracker, que fez a antiga ser rapidamente esquecida, conquista inicialmente por suas curvas, suas linhas, seus vincos, suas protuberâncias, seu jogo de luzes e sombras na carroceria insinuante. Mas ele tem conteúdo. A começar pelo motor 1.2 turbo. Seus 133 cv não formam exatamente uma cavalaria de respeito, mas são suficientes para boas acelerações (0-100 km/h em 9,4 segundos) e mostra vigor nas retomadas de velocidade. O torque ajuda, pois seus 210 Nm estão disponíveis já a 2.000 rpm. Fizemos o teste -- e ele chega com grande vigor a 100, 120… 140 km/h… melhor parar por aqui.
O câmbio automático de seis marchas nos pareceu mais acertado do que no Onix Plus, pois não há titubeios nas respostas. O turbo enche rapidamente e o Tracker é capaz de proporcionar viagens bem rápidas. Melhor que isso: o SUV compacto na Chevrolet consegue entregar algum prazer ao dirigir, coisa rara no segmento. Sua relação peso/potência é de 9,4 kg/cv, suficiente para não fazer feio em ultrapassagens. A posição de dirigir é muito boa e o volante multifuncional tem excelente pegada. A sensação é mesmo de dominar o carro, que é mais atrevido, como a nova Sandy em comparação com a velha Sandy de “Grease”.
O Chevrolet Tracker seguramente não faria sucesso nos anos 1950. Porém, o carro é perfeito para o paradigma de 2020. Ele entrega status, segurança, conforto, conectividade, conveniência. O Tracker Premier é equipado com um motor turbo de apenas três cilindros, que não vibra! O ruído agudo do motor não incomoda como no Volkswagen T-Cross, por exemplo. A central multimídia MyLink é muito competente e o carro tem, entre outros atrativos, Wi-Fi a bordo. Os bancos são muito confortáveis também e o quadro de instrumentos é convencional -- ninguém tem saudade da mistura de digital com analógico do Tracker de alguns anos atrás.
Não é difícil se apaixonar pelo novo Tracker. Mas, calma lá porque ele não é perfeito. O material que reveste o painel, embora seja bonito, é todo de plástico. Há um certo exagero desse material para um carro que já deixou a casa dos R$ 100 mil na saudade (começou custando R$ 112 mil e hoje sai por R$ 116.490). É caro, mas quase todos os rivais diretos também são. O Tracker LTZ 1.2 Turbo, de R$ 103.890, parece ter melhor custo-benefício. Outra crítica cabível é a ausência de aletas no volante para trocas de marchas manuais. Pior: o Tracker Premier não permite sequer antecipar uma marcha pela alavanca.
Bem, estamos falando da Sandy, uma jovem australiana que se adaptou à vida nos EUA. E o Tracker é assim: ele traz o paradigma dos carros norte-americanos, para os quais as trocas manuais em câmbios automáticos sequenciais são um custo dispensável. Pode ser, mas é um dos motivos para muitos consumidores abrirem mão dos demais encantos do carro, pois o pequeno botão na lateral esquerda da alavanca é quase uma provocação. Menos mal que o Tracker responde de forma competente quando o motorista finca o pé no pedal do acelerador para chamar potência.
Quanto aos freios, outros pecado do Tracker. Em frenagens de emergência acima de 100 km/h há um razoável desvio de trajetória para a esquerda. Vale lembrar que os freios traseiros são a tambor, outro detalhe incompatível com a categoria e o preço do carro. E olha que os pneus são largos! Nessa versão, com belas rodas de 17” diamantadas, os pneus têm medida 215/55. Para pisos molhados e asfaltos lisos, a escolha desses pneus é adequada. Porém, eles não dão conta de corrigir o ajuste muito duro da suspensão traseira. Cada “bump” passa de forma seca para o interior do carro e isso não é nada bom para quem anda em ruas esburacadas. É possível que o Tracker 1.2 de entrada (R$ 94.090) seja muito melhor para rodar, pois tem rodas de 16” e pneus de perfil mais alto, 215/60.
Para quem dirigiu os Chevrolet da era pré-Celta, que se destacavam pelo conforto e maciez ao rodar, o Tracker duro é um choque. O porta-malas tem apenas 393 litros, mas está dentro da proposta do carro. Afinal, SUV não é sinônimo de porta-malas grande. O Tracker compensa a capacidade limitada do bagageiro com bom espaço interno. Sem contar que seu equilíbrio entre desempenho e economia foi muito feliz. Não é demais lembrar que ele faz 13,7 km/l na estrada e 11,9 na cidade, o que lhe dá um alcance (com gasolina) de 603 km num percurso rodoviário e de 524 km no trânsito urbano.
Pesando prós e contras, o Chevrolet Tracker 1.2 Turbo é uma boa compra. Apesar de ter tímidos 15,7 cm de vão livre do solo e um ângulo de entrada de apenas 17 graus (prepare-se para raspar a frente do carro em algumas valetas), o Tracker tem personalidade, se é que automóvel pode ter algo próprio dos seres humanos. Bem, mas na verdade, estamos comparando o insinuante SUV da Chevrolet com a sexy Olivia Newton-John da parte final de “Grease”. O Tracker não é do tempo da brilhantina, mas tem seu brilho próprio num mercado cada vez mais competitivo.
Item | Nota | Conceito |
Motor | 9 | Ótimo |
Câmbio | 7 | Muito bom |
Praticidade | 8 | Muito bom |
Consumo | 8 | Muito bom |
Dirigibilidade | 8 | Muito bom |
Segurança | 10 | Ótimo |
Conforto | 8 | Muito bom |
Porta-malas | 5 | Bom |
Design | 10 | Ótimo |
Mercado | 8 | Muito bom |
Média | 7,3 | Muito bom |
Os números
- Preço: R$ 116.490
- Motor: 1.2 turbo flex
- Potência: 133 cv a 5.500 rpm (e)
- Torque: 210 Nm a 2.000 rpm
- Câmbio: 6 marchas AT
- Tração: 4x2
- Comprimento: 4,270 m
- Largura: 1,791 m
- Altura: 1,626 m
- Entre-eixos: 2,570 m
- Vão livre: 157 mm
- Ângulo de entrada: 17 graus
- Ângulo de saída: 28 graus
- Peso: 1.2480 kg
- Pneus: 215/55 R17
- Porta-malas: 393 litros
- Tanque: 44 litros
- Velocidade máxima: 185 km/h
- Consumo cidade: 11,2 km/l (g)
- Consumo estrada: 13,5 km/l (g)
- Emissão de CO2: 111 g/km