Análise: Renault Duster é mais SUV do que os carros da moda
Além de superar Chevrolet Tracker, VW T-Cross e Renault Captur nos atributos de SUV, Duster é maior, mais espaçoso, mais largo e mais barato
Parem de olhar para o Renault Duster com preconceito. O carro é bom. Ele passou por uma profunda cirurgia este ano e ficou muito mais confortável, tanto para os passageiros quanto para o motorista. Dirigir o Duster não é mais uma experiência estóica. Qualidades off-road ele sempre teve, mas era meio bruto, um tanto rude na entrega de prazer ao motorista. Agora, não. O novo Duster 2021 manteve suas características de robustez e ficou muito mais dócil.
Vivemos de comparações e o Duster sofreu com isso. Sua ascendência romena já é suficiente para entortar alguns narizes. Entretanto, a Renault não se limitou a fazer uma cirurgia plástica no Duster. Ela mexeu profundamente em questões de conforto, conveniência, praticidade e conectividade. O Duster 2021 ficou realmente diferente, tanto melhor quanto mais equipada é a versão que você escolhe.
Mas até o conceito de caro é diferente no Duster. A versão topo de linha, Iconic, custa R$ 90.690. O Duster Iconic 1.6 CVT é mais em conta do que o Chevrolet Tracker 1.0 LT (R$ 93.490), mais acessível do que o Renault Captur Intense 1.6 (R$ 97.690) e muito mais barato do que o Volkswagen T-Cross Comfortline 1.0 (R$ 110.260). A vantagem do Tracker e do T-Cross aparece no desempenho e em algumas medições de consumo, pois usam motor turbo. Mas o Duster tem seus trunfos.
Em relação a esses três SUVs, que são carros da moda, o Renault Duster é maior, mais largo, mais alto, mais espaçoso, transporta mais carga, leva mais bagagem, tem maior distância do solo e dá um banho nos ângulos de entrada, de saída e de transposição de rampa. O Duster é um SUV de verdade -- e isso não é novidade. Mas não custa repetir, pois o mainstream da moda às vezes leva todos os consumidores para um lado e alguns bons carros ficam esquecidos.
Tem mais. O Duster ganha do Captur 1.6 e do T-Cross 1.0 no consumo urbano com gasolina. Perde para o Tracker 1.0. Na estrada, aí sim, perde para todos. Sua potência (118/120 cv com gasolina/etanol) é superior à do Tracker (116 cv) e compatível com a do T-Cross (116/128 cv) quando se compara a entrega com gasolina. De qualquer forma, apesar de surpreender e ganhar no consumo urbano com gasolina, essa não é a praia do Duster. Tampouco as provas de aceleração. Seu trunfo está mesmo no custo-benefício.
O problema (sério) do Duster era a falta de conforto. Era. Esse problema ele não tem mais. Painel, volante, bancos e central multimídia são novos. A nova central multimídia é a Easy Link, diferente da Media Nav usada nos demais carros da Renault. A tela tátil agora é de 8” e ficou posicionada mais acima do painel, o que melhorou sua observação durante a condução.
Poderia ser melhor se estivesse no mesmo nível de altura do quadro de instrumentos, mas já foi um avanço e tanto perante a telinha anterior. A vida a bordo do novo Duster é realmente mais agradável. Os bancos de couro e o redesenho do painel deixaram o carro com um nível de conforto igual ao de qualquer outro rival do segmento de SUVs compactos. Até na rigidez torcional da carroceria a Renault mexeu, aumentando-a em 12,5%. As suspensões foram recalibradas, tornando o rodar mais confortável, e a assistência da direção agora é elétrica. O esforço para manobras diminuiu bastante.
O console central também foi completamente modificado, com novas saídas de ar. O sistema de ar-condicionado digital tem anéis cromados com oito velocidades e 19 opções de temperatura entre 17,5°C e 26,5°C. Os painéis das portas ganharam apoio de braço revestido em tecido, novos puxadores e iluminação interna. O Duster 2021 oferece 1,5 litro a mais de espaço para porta-objetos do que o modelo anterior, atingindo 20,3 litros no total. Em resumo, a praticidade a bordo é um fato.
Outra novidade do Duster Iconic é o sistema Multiview, com quatro câmeras. A imagem aparece no novo display central. A câmera frontal, na parte de baixo do carro, ajuda a passar por lombadas íngremes, enquanto as câmeras laterais ajudam em trechos bem estreitos. Ele tem também uma câmera traseira, mais isso muitos carros têm. No segmento, o Renault romeno tem os maiores ângulos de entrada (30°) e de saída (34,5°) e a maior altura do solo (237 mm). Por isso, encara obstáculos com facilidade. O ângulo de transposição de rampa é de 22°. Além disso, ele mantém o maior porta-malas da categoria (475 litros).
Apesar dessas melhorias, a Renault ainda não teve tempo de estrear o novo motor 1.3 turbo. Nesse caso, não podemos culpar os consumidores mais exigentes nesse quesito. Nosso ponto aqui é com aqueles que olham com preconceito para o design e para o conforto do Duster. Que a Renault não cometa o erro de trazer o novo motor somente para o Captur, quando isso ocorrer.
Rodamos na cidade e na estrada com o novo Duster Iconic 1.6 CVT. Ele não é uma referência em desempenho, mas ainda assim mostrou boa desenvoltura nas retomadas de velocidade. Mérito da engenharia da Renault, que encontrou boas relações de marcha para o câmbio CVT X-Tronic, que faz trocas automáticas sem intervenção do motorista e também permite antecipar uma ou duas marchas por meio da alavanca. A redução do nível de ruído a bordo também causou boa impressão durante nossa avaliação.
No geral, o novo Renault Duster mostra ser um carro rejuvenescido, com um posicionamento bem interessante no mercado, por isso suas vendas melhoraram. Ele já engoliu o Captur, deixou o Citroën Cactus e o Peugeot 2008 comendo poeira, ultrapassou o Ford EcoSport e se aproxima do Nissan Kicks. O novo Renault Duster 2021 é vendido em três versões: Zen (R$ 74.690), Intense (R$ 86.690) e Iconic (R$ 90.690).
Os números
- Motor: 1.6 flex
- Potência: 120 cv a 5.500 rpm (e)
- Torque: 159 Nm a 4.000 rpm (e)
- Câmbio: 6 marchas CVT
- Comprimento: 4,376 m
- Largura: 1,832 m
- Altura: 1,693 m
- Entre-eixos: 2,673 m
- Vão livre: 237 mm
- Peso: 1.279 kg
- Pneus: 215/60 R17
- Porta-malas: 475 litros
- Tanque: 50 litros
- 0-100 km/h: 12s4
- Velocidade máxima: 173 km/h
- Consumo cidade: 10,7 km/l (g)
- Consumo estrada: 11,1 km/l (g)
- Emissão de CO2: 124 g/km