Avaliação: Ford Mustang Mach 1 é um esportivo raiz

O Ford Mustang Mach 1 não é apenas o modelo mais preparado para a pista na história do clássico esportivo americano. Ele é também mais divertido do que a maioria dos esportivos alemães. Ok, há carros da Porsche, da Audi e da BMW com um comportamento dinâmico melhor do que o deste Ford Mustang, mas o Mach 1 é mais divertido. Por R$ 523.950, o Mustang Mach 1 entrega muito, muito prazer ao dirigir.

O Mustang Mach 1 já conquista pelo visual. Durante nossa utilização de 1.200 km, entre as cidades de São Paulo e Londrina (PR), o Mach 1 arrebatou corações, mexeu com homens, mulheres e crianças, provocou sensação de depressão em que não pode ter um e deixou um monte de gente babando. O Ford Mustang Mach 1 não provoca inveja por onde passa, mas sim elogios e admiração.

Na estrada, num trecho da BR-369, no norte pioneiro do Paraná, o ronco do motorzão V8 chamou a atenção de um garotinho que estava sentado à beira do caminho. O menino se levantou e, com um gesto de mão, sinalizou para pisar fundo no acelerador. O Mach 1 tem quatro modos de som do escapamento (quatro saídas de duas ponteiras duplas): silencioso, normal, sport e pista. Quanto mais esportivo, mais grave fica o ronco.

Mas a experiência não é apenas sonora. O Ford Mustang Mach 1 realmente entrega para quem está no volante a esportividade insinuada por linhas poderosas. O capô dianteiro é enorme para abrigar o motor 5.0 V8 “Coyote” naturalmente aspirado. Isso já é um diferencial do Mustang, que foge da tendência do turbo e, portanto, não precisa se preocupar com retardo na resposta do acelerador.

O carro arranca de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos. Para chegar a 200 km/h bastam poucos segundos. É preciso ter consciência para não abusar nas ruas e estradas. Afinal, o Mach 1 foi todo preparado para a pista. O carro tem ao todo sete modos de condução. Além do motor aspirado de 483 cv de potência e 556 Nm de torque, o câmbio automático tem 10 marchas. Basta um toque na borboleta para que ele trave no modo manual. Ou então, puxando a alavanca do câmbio para trás, ele entra no modo Sport, reduzindo duas marchas.

Mesmo em Drive, rodando na 10ª marcha a 2.500 rpm, o Mustang Mach 1 é capaz de manter a velocidade de 150 km/h na subida. Basta um “kick down” no pedal do acelerador para que ele rapidamente passe dos 200 km/h. Por isso é um carro de pista.

O volante de direção pode ser ajustado também, com três níveis de conforto. Mas a direção é sempre direta. Junto com a direção rápida, a tração traseira e a suspensão independente MagneRide (adaptativa), o carro gruda mesmo no chão nas curvas. Na reta, porém, ele não desliza como um esportivo alemão -- é preciso segurá-lo no volante. O Mach 1 tem barras estabilizadoras mais firmes, freios Brembo de alta performance e vários detalhes aerodinâmicos para brilhar na pista. A potência máxima surge a 7.250 rpm e o torque total está disponível a 4.900 rpm.

Haja combustível para conduzir o Mustang Mach 1 nessa faixa de giro. Só é possível numa pista fechada mesmo, em track days, porque mesmo em 2.500 rpm o carro já está pronto para a alta performance. O consumo de gasolina, claro, é alto. De acordo com o Inmetro, o Ford Mustang Mach 1 faz 6 km/l na cidade e 9 km/l na estrada. É possível? Sim. Num dos trechos da estrada, justamente para testar sua “economia”, rodamos cerca de 150 km sempre entre 2.000 e 2.500 rpm. A média de autonomia chegou a 10 km/l. Depois, na autoestrada, andando mais tempo em velocidade, a média geral caiu para 8,7 km/l. Na cidade, entretanto, ele ficou com 3,1 km/l por causa de algumas arrancadas. Na média cidade/estrada fez 6,3 km/l.

Apesar de ser um esportivo raiz, o Mustang Mach 1 também pode ser utilizado no dia a dia. O porta-malas é muito bom e abriga 383 litros. O cupê de duas portas é para quatro pessoas, mas só crianças ou adultos de baixa estatura andam confortavelmente no banco de trás. Mesmo assim, como não tem janelas traseiras e o encosto do banco é muito alto, a sensação de claustrofobia é inevitável. Na prática, é um carro para duas pessoas. Ou um, na pista.

Para além das sensações que o Mach 1 oferece ao motorista, esta versão do Ford Mustang traz algumas funcionalidades presentes nos melhores carros da marca, como a multimídia Sync 3, excelente, e alguns sistemas eletrônicos de segurança. Não há muitos, pois o Mach 1 tem a proposta de ser o mais leve possível, a fim de obter bom resultado em pista, mas o suficiente para você ter a certeza de que está num carro moderno e seguro. A relação peso/potência é de 3,7 kg/cv. Airbags, por exemplo, são oito. O sistema de som Bang & Olufsen tem 12 auto-falantes e subwoofers de 8”. O painel digital é de 12”, configurável.

Com detalhes técnicos e de design herdados do Mustang Bullit, do Shelby GT 350 e do Shelby GT 500, o Mach 1 é mais aprimorado em todos os detalhes aerodinâmicos para atender a um motor que ganhou 17 cv em relação ao do Mustang GT. Vale a pena pagar mais de meio milhão de reais para ter um esportivo raiz? Para quem tem esse dinheiro, vale sim, pois o Mustang Mach 1 já é um exemplar raro num segmento que foi totalmente dominado pelo turbo e que está se deslocando rapidamente para a eletrificação.

Os números

• Preço: R$ 523.950
• Motor: 5.0 V8 aspirado
• Potência: 483 cv a 7.250 rpm
• Torque: 556 Nm a 4.900 rpm
• Câmbio: 10 marchas AT
• Comprimento: 4,788 m 
• Largura: 1,915 m 
• Altura: 1,379 m
• Entre-eixos: 2,720 m
• Vão livre: 143 mm
• Peso: 1.783 kg
• Pneus: 255/40 R19 (d) e 275/40 R19 (t)
• Porta-malas: 382 litros
• Carga útil: 330 kg
• Tanque: 60 litros
• 0-100 km/h: 4s3
• Velocidade máxima: 250 km/h
• Consumo cidade: 5,9 km/l
• Consumo estrada: 8,9 km/l
• Emissão de CO2: n/d