Coronavírus: é hora de a indústria automobilística ajudar
Nos EUA e na Inglaterra, Ford, GM, Jaguar Land Rover e Rolls-Royce vão produzir respiradores mecânicos. Que tal uma ajuda assim no Brasil?
REPÚBLICA DO AUTOMÓVEL
Em tempos de guerra, toda ajuda é necessária. E a indústria automobilística brasileira pode (e deve) ajudar o Brasil na atual guerra contra a pandemia do coronavírus. Muitas coisas podem ser feitas além de paralisar a produção para evitar aglomerações e anúncios dizendo para deixar seu carro em casa. É preciso colocar a força de produção da indústria para produzir equipamentos que podem salvar vidas contra a Covid-19. Em outros países, isso já começa a ser feito. Segundo o jornal The Guardian, a Jaguar Land Rover e a Rolls-Royce produzirão 20 mil respiradores mecânicos para o sistema de saúde do Reino Unido.
Nos EUA, a GM e a Ford já anunciaram que produzirão equipamentos hospitalares que serão requisitados pelo governo. Até mesmo a Tesla -- dirigida pelo polêmico Elon Musk -- já se dispôs a ajudar no combate à pandemia. No Reino Unido, além da Jaguar Land Rover e da Rolls-Royce, o governo solicitou ajuda da Ford, da Honda e da Vauxhall (marca irmã da Opel que pertence ao grupo francês PSA). Segundo The Guardian, o governo britânico estima que 50 mil pessoas serão infectadas pelo coronavírus.
No Brasil, por enquanto, nenhuma montadora se manifestou nesse sentido. Existe uma dificuldade extra no caso brasileiro porque o presidente da República está numa guerra retórica contra os governadores dos Estados. Alguma ajuda da indústria automobilística, se ocorrer, provavelmente virá de algum acordo direto entre as montadoras e os governadores, que estão mais empenhados na contenção da pandemia. São Paulo é o Estado que mais tem casos de coronavírus e também o que mais fábricas de carros possui. As montadoras presentes são: GM (Chevrolet), Volkswagen, Ford, Toyota, Honda, Mercedes-Benz, Hyundai e Caoa Chery.
O Rio de Janeiro abriga as fábricas da PSA (Peugeot Citroën) e Jaguar Land Rover. No Rio Grande do Sul tem a GM. Em Santa Catarina fica a fábrica da BMW. No Paraná estão a Renault-Nissan e a Volkswagen-Audi. Em Minas Gerais existe a produção da FCA (Fiat). Goiás tem as fábricas da Mitsubishi-Suzuki e da Caoa (Chery e Hyundai). A Bahia tem a fábrica da Ford. Pernambuco abriga o pólo industrial da FCA (Jeep e Fiat). Tudo isso considerando somente as marcas de carros. Mas há também fábricas de caminhões, ônibus e autopeças. Fora da indústria automobilística, a Natura aumentou a fabricação de sabonetes e passou a produzir álcool gel.
As fábricas de motores podem ser especialmente úteis para a produção de ventiladores respiratórios. No Reino Unido, além de produzir os carros mais confortáveis do mundo, a Rolls-Royce fabrica motores de aviação. Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a indústria automobilística conta com 65 fábricas espalhadas em 43 municípios de 10 estados brasileiros. A capacidade instalada é de 5 milhões de veículos.
Para controlar de forma impressionante a infecção Covid-19 no país, a China contou com a ajuda da BYD, que produziu 5 milhões de máscaras e 300 mil frascos de desinfetantes para as mãos. Neste fim de semana, o site NeoFeed, especializado em negócios e inovação, publicou um artigo mostrando como a indústria ajudou durante a Segunda Guerra Mundial. “A indústria automobilística dos EUA produziu mais de 1 avião por minuto no pico da guerra”, escreveu David Schlesinger, CEO da Mendelics, no NeoFeed. “A China está fazendo isso para reagentes laboratoriais para identificação do vírus. Chegar nessa escala não é fácil nem rápido.”
Os últimos anos têm sido difíceis para a indústria automobilística brasileira. Depois da crise de 2016, as dificuldades deste ano eram a alta do dólar e a instabilidade política, que estavam tirando a confiança do consumidor. Com a pandemia de coronavírus, a situação fica ainda pior. Segundo os analistas Paulo Cardamone e Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, as vendas devem cair 3% este ano em relação a 2019 e a produção vai recuar 4% -- e ainda assim com aumento de preços dos carros, devido aos maiores custos de produção. Entretanto, o Brasil sempre estendeu as mãos para a indústria automobilística, na forma de incentivos fiscais. É hora de a indústria ajudar com a produção de equipamentos hospitalares. Afinal, como escreveu Schlesinger no NeoFeed, “tempos de guerra pedem medidas de guerra”. Procura-se um líder para colocar isso em prática!