Fenabrave precisa criar categoria de híbridos e elétricos
Ranking da Fenabrave é útil, mas tem 5 categorias para apenas 11 carros e só uma categoria para mais de 50 SUVs. E onde estão os elétricos?
Tenho grande apreço pela Fenabrave e pelo serviço de monitoramento que a entidade faz do mercado de carros no Brasil. Seu informe diário de vendas é bastante relevante para a indústria, comércio e mídia do setor. Entretanto, é preciso atualizar o ranking urgentemente. Acredito que caberia à Anfavea e à Abeifa, entidades que representam as montadoras e importadoras de veículos, pedir uma atualização do ranking à Fenabrave.
Os números do ranking da Fenabrave são atualizados mensalmente, porém as categorias não fazem mais sentido. A última vez que o ranking mudou foi em meados da década passada, quando os SUVs passaram a integrar os automóveis de passeio e não os comerciais leves. Porém, com apenas uma categoria. Atualmente, todos os SUVs do mercado estão empilhados numa única categoria.
Para dar uma ideia, apenas os 40 modelos mais vendidos aparecem no ranking de SUVs, embora o mercado tenha muito mais do que isso. O que ocorre, portanto, é uma distorção. A porcentagem de vendas atribuída pela Fenabrave ao líder dos SUVs não corresponde à realidade, pois considera apenas os 40 modelos mais vendidos. Isso vale também para o ranking de marcas, pois só considera as 21 mais vendidas.
Por outro lado, categorias praticamente extintas continuam aparecendo de forma separada. Fiz um estudo do ranking (Julho 2021) e cheguei à conclusão de que apenas 11 carros efetivamente vendidos atualmente formam 5 categorias do ranking da Fenabrave: Veículos de Entrada (4 carros), Sw Médios (0), Sw Grandes (2), Monocab (3) e Grandcab (2).
Se considerarmos os volumes de venda, a situação é ainda pior: 7 categorias do ranking da Fenabrave representam apenas 3,38% das vendas, segundo a própria entidade. São elas: Hatch Médios (0,37%), Sedans Grandes (0,48%), Sw Médios (0,04%), Sw Grandes (0,01%), Monocab (1,19%), Grandcab (1,12%) e Sports (0,17%). Portanto, essas 7 categorias que representam apenas 3,38% das vendas ocupam 53,84% do ranking, enquanto as 6 categorias que representam 96,62% das vendas têm apenas 46,16%.
Claro que devemos ter categorias com poucos carros! Não se trata disso, mas sim de criar novas categorias e -- por que não? -- agrupar algumas que não têm mais sentido continuarem separadas. Por exemplo: onde estão os carros híbridos e elétricos? Será que não é hora de a Fenabrave, a Anfavea e a Abeifa criarem um ranking de modelos para carros híbridos e elétricos? Essas entidades reclamam que o governo não oferece condições para este mercado se desenvolver, mas elas também não mostram que mercado é este. Afinal, ele existe? Representa quanto nas vendas? Quem lidera? Quais são as marcas e modelos presentes? E por que precisamos de 4 categorias para station wagons e monovolumes?
Na tabela abaixo, fiz um levantamento de todas as categorias (vale também uma revisão nos nomes, pois não há padrão básico da gramática). O quadro mostra quantos carros são efetivamente vendidos (Julho 2021) e quantos aparecem no ranking, mas já saíram de linha.
CATEGORIA | CARROS À VENDA | FORA DE LINHA | VENDAS ATÉ JUL. | PART. |
Veículos de Entrada | 4 | 5 | 140.067 | 15,10% |
Hatch Pequenos | 9 | 3 | 217.844 | 23,48% |
Hatch Médios | 5 | 1 | 1.403 | 0,37% |
Sedans Pequenos | 6 | 4 | 65.422 | 7,05% |
Sedans Compactos | 6 | 0 | 63.989 | 6,90% |
Sedans Médios | 17 | 4 | 43.107 | 4,65% |
Sedans Grandes | 12 | 0 | 4.952 | 0,48% |
Sw Médios | 0 | 4 | 13 | 0,04%* |
Sw Grandes | 2 | 2 | 106 | 0,01% |
Monocab | 3 | 3 | 8.636 | 1,19% |
Grandcab | 2 | 2 | 9.228 | 1,12% |
Sports | 9 | 0 | 2.109 | 0,17% |
Suv's | 40 | 0 | 370.547 | 39,94% |
Pick'up's Pequenas | 2 | 4 | 89.558 | 42,70% |
Pick'up's Grandes | 11 | 0 | 120.142 | 57,30% |
Como se vê acima, até a categoria Veículos de Entrada precisa ser revista. Alguns modelos que aparecem nela deveriam estar na categoria Hatch Pequenos (deveria se chamar Hatches Pequenos ou Hatch Pequeno, em respeito à língua portuguesa). Ou então deixar nesta categoria apenas os Subcompactos (Fiat Mobi, Renault Kwid, Volkswagen Up etc.).
Da mesma forma, nas picapes, há apenas duas categorias: Pick-up’s Pequenas e Pick-up’s Grandes. Outra situação que deveria ser revista pela Fenabrave, em conjunto com as montadoras, pois as picapes Toyota Hilux, Chevrolet S10 e Ford Ranger, por exemplo, não são grandes e sim médias. Grandes são a Ram 1500, Ram 2500, Ford F-150, Ford F-250 etc.
Que dizer então das picapes Fiat Toro e Renault Duster Oroch? Ambas aparecem como grandes, mas são derivadas de SUVs compactos. Portanto, também entre as picapes, temos um ranking que não reflete a realidade do mercado. E vai piorar, pois em breve chegarão modelos como a Ford Maverick e a nova Chevrolet Montana, que deveriam estar em alguma categoria intermediária. Sugestão: Pick-ups Pequenas, Pick-ups Compactas, Pick-ups Médias e Pick-ups Grandes.
A virada do próximo ano pode ser um bom momento para a Fenabrave estrear um ranking atualizado e seguir ajudando todo o setor com a divulgação dos números do mercado. Faço esta análise como uma crítica construtiva para a Fenabrave, a Anfavea, a Abeifa e as marcas de carros, pois somente com um retrato fiel do que ocorre no mercado podemos entender os desejos dos consumidores e sugerir ações que mantenham o setor automotivo saudável, transparente e socialmente relevante.
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*Inclui outras categorias não citadas pela Fenabrave.