Gol e Voyage (quem diria?) vendem o dobro de Polo e Virtus
Mesmo com uma geração de 12 anos atrás e feitos numa plataforma de 2002, os velhinhos Gol e Voyage brilham perante os novos Polo e Virtus
O mercado de carros nunca esteve tão imprevisível quanto nesta pandemia de coronavírus. Quem poderia imaginar que dois velhinhos da Volkswagen, Gol e Voyage, chegariam à última quinzena do ano vendendo o dobro dos novos e badalados Polo e Virtus? Mas é exatamente isso que está acontecendo.
Mesmo com uma geração de 2008 -- portanto, de 12 anos atrás --, Gol e Voyage estão brilhando mais do que a dupla Polo e Virtus, fabricados na moderna plataforma modular da Volkswagen (MQB). Não deixa de ser irônico que, depois investir R$ 2,4 bilhões na plataforma MQB, a Volkswagen veja o Gol e o Voyage garantindo o caixa da empresa com a velha plataforma PQ24, que é de 2002.
Ao final das duas primeiras semanas de dezembro, o Gol acumula 2.957 emplacamentos contra 1.535 do Polo. Já o Voyage soma 2.413 vendas contra 1.275 do Virtus. Gol e Voyage são bons carros, bastante confiáveis, mas estão desatualizados perante seus “irmãos” da MQB e perante quase toda a concorrência. O “milagre” desse desempenho comercial são as chamadas vendas diretas.
Segundo a Fenabrave, 40,6% dos emplacamentos de carros de passeio zero km em novembro foram realizados por meio das vendas diretas. São vendas dirigidas a grandes locadoras, frotistas, taxistas, administração pública e profissionais autônomos que tenham empresa. Muitas vendas para Uber, 99 e outros aplicativos também entram nessa conta. Gol e Voyage superam em muito a média do segmento nas vendas diretas.
MODELO VW |
VENDAS TOTAIS |
VENDAS DIRETAS |
PART. V.D. |
Gol | 8.400 | 6.363 | 75,7% |
Polo | 3.802 | 689 | 20,1% |
Voyage | 3.425 | 3.298 | 96,3% |
Virtus | 3.179 | 1.673 | 52,6% |
Solicitamos à Volkswagen uma explicação para o fenômeno do Voyage, que tem mais de 96% dos emplacamentos feitos pela modalidade de venda direta. Porém, a Volks alegou que se trata de dado sigiloso em sua estratégia comercial e não quis abrir o perfil dos clientes. Para Uber ou 99, o Voyage seria boa compra, considerando seu porta-malas de 480 litros. Porém, não podemos afirmar com certeza que esse é o novo público do carro (ou o público total).
O bom desempenho do Gol e do Voyage é um sinal de que a Volkswagen não vai se desfazer desses carros. Havia (antes da pandemia) boatos de que o carro que substituirá o Gol na plataforma MQB talvez nem mantivesse o nome consagrado. Mas os planos foram adiados e será preciso aguardar até 2021 para sabermos o futuro do Gol e do Voyage. Por enquanto, eles vão continuar sendo fabricados na plataforma PQ24, pois mostram que ainda têm muito combustível para queimar.