Mobi arranca na frente, mas Kwid é o preferido do público
Com diferentes estratégias (um nas vendas diretas, outro no varejo), Fiat Mobi e Renault Kwid disputam consumidor de subcompactos
O Fiat Mobi tomava um verdadeiro banho do Renault Kwid antes da pandemia. Veio a crise do coronavírus, os dois carros perderam vendas, mas o Kwid seguia em vantagem. Quando as vendas voltaram a crescer, o banho do pequeno Renault continuou. Então a Fiat resolveu se mexer. Fez alguns ajustes no Mobi, lançou um nova versão aventureira (Trekking), passou a adotar uma estratégia de vendas diretas mais contundente e o Mobi virou o jogo.
Como produto, os dois carros equivalem em preço, mas o projeto do Kwid é muito mais inteligente e interessante. Trata-se de um projeto de fato, um carro pensado para ser como é, com mais de 70% das peças exclusivas para ele. O objetivo foi economizar peso e custos. Na Europa e na China, o Kwid já tem até uma versão totalmente elétrica, com os nomes Dacia Spring e Renault City K-ZE. Isso é impensável para o Mobi, que é uma ideia de marketing para o mercado brasileiro, um carro “inventado” com muitas peças aproveitadas de outros modelos, quase um Uno em miniatura, com um design sem nexo entre a dianteira e a traseira.
O reposicionamento do Mobi não foi suficiente para superar o Renault Kwid no acumulado do ano, mas o fato é que nos últimos seis meses o Fiat vem vendendo mais. Às vezes, pouca coisa, porém mais. Mesmo assim, o Kwid ainda é o preferido pelo público. Se considerarmos somente as vendas de varejo, ou seja, aquelas em que o consumidor comum vai nas concessionárias, a vantagem do Kwid sobre o Mobi foi absoluta em ampla margem em 10 dos 12 meses de 2020.
No final das contas, o Kwid emplacou 9.374 carros a mais do que o Mobi nas concessionárias. Somente nos dois últimos meses de 2020, o Fiat conseguiu uma vantagem de 4.216 carros sobre o Renault na modalidade de venda direta. Essas vendas são feitas basicamente para motoristas de Uber e para profissionais autônomos, que precisam de um carro barato e prático para rodar no dia-a-dia.
O Renault Kwid tem quatro versões que custam de R$ 39,4 mil a R$ 50,4 mil. O Fiat Mobi tem três versões, que vão de R$ 40,5 mil a R$ 49,1 mil. Em dezembro, fizemos um comparativo entre as versões dos dois subcompactos e notamos que a Fiat é muito mais versátil na oferta de alguns equipamentos, o que permite que o Mobi acabe sendo mais acessível em alguns casos. Se o Mobi ganha na potência, o Kwid ganha na economia.
Ambos têm motor 1.0 aspirado flex, mas o do Kwid é de três cilindros e o Mobi é de quatro (o de três cilindros foi abandonado na linha). O Mobi é mais potente com gasolina (73 cv contra 66) e também com etanol (75 cv contra 70). O Kwid, entretanto, é mais econômico nas quatro situações: gasolina na cidade (14,9 km/l contra 13,5), gasolina na estrada (15,6 km/l contra 15,2), etanol na cidade (10,3 km/l contra 9,2) e etanol na estrada (10,8 km/l contra 10,2).
Apesar de o porta-malas não ser (na teoria) um fator decisivo para um subcompacto urbano, o do Kwid é maior: tem 290 litros contra 235 do Mobi. Não surpreende, pois o Mobi é um Uno encurtado. Nesse ponto, aliás, o Kwid ganha até do Volkswagen Up, que tem 285 litros. Este, uma pena, vai mal nas vendas. Enquanto Kwid e Mobi brigaram na casa dos 46 mil e 45 mil vendas/ano, o Up não chegou nem a 7 mil. Não é para menos: ele agora carrega só quatro pessoas e tem uma única versão de R$ 60,1 mil. Em relação às versões topo de linha dos rivais, ele é R$ 9,7 mil mais caro do que o Kwid e R$ 11 mil mais caro do que o Mobi. Vender como?
Faltando apenas quatro dias para fechar as vendas de janeiro, o Fiat Mobi segue na frente, graças à sua estratégia de vendas diretas, com 3.515 emplacamentos (12º lugar no ranking geral). O Renault Kwid tem 2.910 licenciamentos (15º lugar). Já o Volkswagen Up cresceu em relação às pífias vendas dos últimos meses, quando deu um tempo na produção: emplacou 431 unidades, mas segue em sua via-crucis (53º lugar). A briga entre Kwid e Mobi vai ser boa em 2021 e isso pode trazer oportunidades para os consumidores.