Nivus em 1.200 km: carro maduro, mas ainda pode melhorar
Volkswagen Nivus enfrenta o desafio da viagem de férias. Veja quais são os pontos positivos e o que pode melhorar no crossover cupê
Muito já falamos sobre o Volkswagen Nivus, mas ainda faltava uma avaliação em viagem de férias, de longo percurso, carregado de malas e de pessoas. Rodamos 1.200 km com o Nivus no roteiro de ida e volta entre São Paulo e Londrina (PR), com utilização em auto estrada de pista dupla, estrada simples com asfalto bom ou ruim, trânsito pesado de caminhões, dia-a-dia na cidade e até trechos de terra.
O Nivus foi o lançamento mais quente de 2020. Considerado o melhor lançamento do ano pelo Guia do Carro e eleito o Melhor Carro da América Latina pelos jornalistas da Americar, o Volkswagen Nivus tem crescido nas vendas, canibalizou o Polo dentro da marca e serviu de barreira para que o T-Cross tirasse do Jeep Renegade o título de SUV mais vendido do ano.
Com 16.278 unidades vendidas, o Volkswagen Nivus ficou em 36º lugar no ranking geral de 2020 e num promissor 10º entre os SUVs -- afinal, estreou apenas em junho e só acelerou o ritmo de vendas em agosto. Mas em dezembro, com 4.129 emplacamentos, o Nivus já subiu para 18º lugar no ranking geral e para 6º lugar entre os SUVs. Trata-se de um carro estratégico para a Volkswagen, que já soma 11,5 mil vendas/mês com a dupla Nivus/T-Cross, enquanto a Jeep tem 14,8 mil com a bela dobradinha Renegade/Compass.
Mas, afinal, vale a pena comprar o Nivus? Barato ele não é -- custa R$ 90.890 na versão Comfortline e R$ 104.090 na Highline, que avaliamos no trajeto de 1.200 km. A diferença de R$ 13.200 é bastante salgada.
Por esse valor a mais, o Nivus Highline traz rodas de liga leve de 17” (contra 16” no Comfortline), faróis de neblina, sensor de estacionamento dianteiro, indicador de fadiga, ar-condicionado automático, câmbio borboleta, piloto automático adaptativo, retrovisores rebatíveis eletricamente, retrovisor interno fotocrômico, sensor de chuva, bancos de couro, faróis com acendimento automático, chave presencial, porta-luvas climatizado, HD interno e três itens de segurança importantes: alerta de colisão frontal, frenagem automática de emergência e frenagem automática traseira pós-colisão.
Além do pacote de segurança, poucos itens foram realmente úteis em nossa avaliação. Entre eles estão os faróis de neblina, que ajudam a iluminar o piso em estradas de pista simples com asfalto irregular. As trocas de marcha também foram bem utilizadas, assim como o modo Sport, que deixa o carro mais ágil nas ultrapassagens. Em estradas carregadas de caminhão, o câmbio Aisin foi um grande companheiro. Na viagem de volta, com muito calor, o porta-luvas climatizado também foi apreciado pelos passageiros.
É uma pena que a distância entre as duas versões do Nivus seja tão grande. Já faz algum tempo que a Volkswagen utiliza essa estratégia em seus carros, talvez para “forçar” o consumidor a comprar o carro completo e rentabilizar melhor o produto. De qualquer forma, isso é melhor do que o antigo sistema, que tinha listas enormes de pacotes opcionais e tornava a compra um tormento, de tão confusa. No engate da ré, os retrovisores baixam um pouco e ajudam bastante na manobra.
O Volkswagen Nivus é o que o Chevrolet Tracker tenta ser, mas não consegue. Como precisa competir com o T-Cross e o Renegade, que são os principais carros do segmento compacto, o Tracker fica num meio termo entre o SUV padrão e o crossover com pegada esportiva. Com motor 1.0, o Tracker só consegue competir com o Nivus quando abastecido com gasolina, pois perde em potência com etanol. Com o motor 1.2, o Tracker ganha em potência do Nivus, mas perde para o T-Cross 1.4, seu verdadeiro rival. No uso em estradas de terra, o Nivus é mais amigável do que o Tracker, porém perde para o T-Cross, que é mais alto.
O Nivus tem um ajuste de suspensão muito refinado para a estrada. O carro é surpreendentemente macio com os pneus 205/55 das rodas aro 17 que equipam o Nivus Highline. Esses pneus têm perfil mais baixo do que os 205/60 das rodas aro 16 do Nivus Comfortline, que são ainda mais confortáveis e têm a mesma largura, porém o carro perde em beleza.
A belezura do Nivus, aliás, é seu grande trunfo. É um carro que chama atenção nos postos de gasolina ou mesmo na cidade, mas não é ostensivo. O visual do Nivus definitivamente cai bem aos olhos, torna a paisagem mais bonita, dá status a quem o dirige.
Status sem praticidade até o Karmann-Ghia TC tinha, para lembrarmos de um Volkswagen dos anos 70. O Nivus, porém, é um carro maduro. Ele nem de longe lembra os erros do Pointer (outro Volks das antigas, dos anos 90), embora tenha alguma semelhança no design cupê, e consiga ser mais útil do que o próprio T-Cross. Tem um belo porta-malas de 415 litros (42 a mais que o irmão da plataforma MQB) e isso foi muito conveniente. Cabem três malas grandes em pé, na posição lateral.
Em viagens com a família, todo espaço costuma ser pouco. Por isso, os porta-objetos grandes, especialmente nas portas, são elogiáveis. Apesar de ser mais baixo e mais rebaixado do que o T-Cross, não há dúvidas sobre o caráter crossover do Nivus. Isso é bom, porque o carro tem várias características de um SUV, mas traz um comportamento dinâmico ligeiramente superior, oferecendo boa tocada com o motor 1.0 turbo de 128 cv.
Não seria má ideia a Volkswagen lançar um Nivus GTS com o motor 1.4 TSI de 150 cavalos, pois a carroceria do Nivus permite uma certa ousadia esportiva; e a suspensão também pode ser endurecida, o que faria de um Nivus GTS de 150 cv um carro aspiracional irresistível para um certo público.
O Nivus Highline de 128 cv é razoavelmente econômico. Na ida, de São Paulo a Londrina, eu não estava marcando o consumo e parei para completar o reservatório em Assis (SP). Na volta, agora pela BR-369, fez o percurso Londrina-São Paulo (529 km) com um tanque e ainda tinha alcance para mais 110 km. A média foi de 12,9 km/l, mas sempre carregado, com o ar-condicionado ligado e o ponteiro do velocímetro atrevidamente querendo ir um pouco (ou muito) além dos 120 km/h.
Na cidade, com etanol, o consumo é alto, sempre na casa dos 7 km/l. A agilidade do Nivus é outro ponto alto do carro, que, entretanto, pode melhorar. O acabamento interno não está perfeito, pois há ruídos insistentes no painel de instrumentos. Outro item que não agradou, por incrível que pareça, foi a multimídia VW Play. Ela é ótima, desde que você tenha um cabo original do smartphone, o que nem sempre é possível. Sem o cabo original, o Android Auto e o Apple CarPlay não funcionam. Em estradas de terra ou mesmo em ruas muito irregulares, o excesso de plástico torna os ruídos a bordo do Nivus um tanto excessivo.
Mesmo assim, no final das contas, o Nivus Highline foi aprovado com méritos. Trata-se de uma compra segura, pois o carro chegou há poucos meses e já mostra ser maduro. Se o dinheiro estiver contadinho, o Nivus Comfortline pode ser uma opção interessante, devido ao custo-benefício; se estiver sobrando, o Nivus Highline é aquele presente que atende sua necessidade de se fazer feliz com um carro bom, bonito e prático.
Os números
- Preço: R$ 104.090
- Motor: 1.0 turbo flex
- Potência: 128 cv a 5.500 rpm (e)
- Torque: 200 Nm a 2.000 rpm
- Câmbio: 6 marchas AT
- Tração: 4x2
- Comprimento: 4,266 m
- Largura: 1,757 m
- Altura: 1,493 m
- Entre-eixos: 2,566 m
- Vão livre: 176 mm
- Peso: 1.199 kg
- Pneus: 205/55 R17
- Porta-malas: 415 litros
- Tanque: 52 litros
- Aceleração 0-100 km/h: 10s0
- Velocidade máxima: 189 km/h
- Consumo cidade: 10,7 km/l (g)
- Consumo estrada: 13,2 km/l (g)
- Emissão de CO2: n/d